Estive recentemente no Rio de Janeiro para a pré-estreia do filme Assexybilidade, um longa-metragem documental dirigido por Daniel Gonçalves, que é formado em jornalismo pela PUC-Rio, pós-graduado em Documentário pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), e com um currículo extenso no cinema brasileiro. Ele também tem uma deficiência de origem desconhecida que afeta sua coordenação motora.
Ao lado de amigos com deficiência e da minha filha Luísa, que é uma jovem de 21 anos, estudante de jornalismo e apaixonada pelo audiovisual, assisti ao filme que traz histórias diversas de pessoas com deficiência e trata da sexualidade e pluralidade de suas experiências. O longa busca desmistificar o tabu do sexo e revela a luta diária dessas pessoas contra a invisibilidade e o preconceito, que nesse caso recebe o nome de capacitismo.
A proposta do documentário, de cerca de uma hora e meia de duração, foi dar voz aos entrevistados e derrubar ideias preconceituosas sobre os desejos e vivências da comunidade PCD. Os participantes trazem em si algumas intersecções – orientação sexual, identidade de gênero, raça e classe – e através de relatos de experiências mostram uma realidade que muitas vezes não é vista e falam sobre temas que a sociedade não esperava que eles dissessem ou fizessem, entre os quais, flerte, beijo na boca, namoro, masturbação e sexo.
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Ao longo de quase uma hora e meia de duração, o documentário apresenta 15 personagens que contam histórias envolvendo sua sexualidade. As narrativas incluem casos extremos de capacitismo, curiosidade de pessoas próximas e choque de realidade no próprio núcleo familiar – como é o caso trazido por Ivone, que conta que foi ao ginecologista pela primeira vez aos quase 40 anos, mesmo momento em que sua mãe descobriu que ela não era mais virgem. O filme Assexybilidade também mostra a história de Lelê Martins, que reforça o preconceito que ela sofre por ser uma mulher negra, gorda, periférica, com deficiência. Já Pedro, um outro personagem que tem síndrome de Down, se diz virgem ainda, mas com muita vontade de ser visto como um adulto desejante que é.
“A produção do documentário passa muito pela minha própria experiência. Eu também já passei por situações de me envolver com pessoas que tinham curiosidade de ficar com alguém com deficiência, e já levei muitos foras por conta da minha condição. Entretanto, o sexo para pessoas com deficiência não é inexistente, muito pelo contrário, nós também transamos, também temos desejo e isso não pode ficar escondido. Por isso o documentário é tão importante para levantar o debate e ainda mostrar que somos como qualquer outra pessoa”, diz Daniel Gonçalves, diretor do filme.
Eu conheço famílias que ainda hoje, influenciadas pelo capacitismo, tratam filhos com deficiência como eternas crianças, desprovidas de desejos sexuais. Por isso, sugiro que você vá ao cinema assistir Assexybilidade que está em cartaz nas cidades de Belo Horizonte, Brasília, Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Campinas, Poços de Caldas, e Vitória.
Neste mês da luta da pessoa com deficiência, fomos presenteados com esse filme, que é um verdadeiro manifesto anticapacitista.