Crianças são seres naturalmente curiosos e com uma capacidade de absorção de conhecimento muito mais rápida que adultos. Por isso, incentivá-las a gostar de ciência não deveria exigir muito esforço, embora estímulos corretos e um ambiente propício sejam fundamentais. Isso é o que apontou a pesquisa “Padrões de Ciência da Próxima Geração”, que teve como objetivo definir padrões novos para o ensino de ciências nos Estados Unidos. A conclusão é de que uma abordagem que foca em experiências sensoriais e participativas tornam o assunto mais atraente para crianças e jovens.
Segundo os pesquisadores, ao invés de fazer com que crianças memorizem definições e fatos, é mais efetivo incentivá-las a investigarem o assunto por si mesmos, coletando evidências. Por exemplo: para entender como funciona a luz, é mais eficaz incentivar os pequenos a investigarem vários tipos de objetos sob o sol ou uma lanterna do que apenas explicar teoricamente sobre o funcionamento.
“É fundamental incentivar crianças desde a mais tenra idade, não só porque é um assunto naturalmente interessante para eles, saber como as coisas funcionam, mas porque também pode despertar uma área de conhecimento profissional no futuro, uma habilidade desde cedo. E o benefício também é social: as sociedades que se desenvolveram economicamente nunca menosprezam o ensino da ciência e, inclusive, investem desde muito cedo no assunto”, explica o professor de Física da Universidade de São Paulo, Elcio Abdalla.
Memórias afetivas
O especialista é também coordenador do projeto Bingo, radiotelescópio do Brasil que está sendo instalado no sertão paraibano. Além de observar melhor o céu brasileiro e o lado “escuro” do universo, trazendo descobertas importantes, o projeto também pretende promover o ensino e o contato de escolas locais com o radiotelescópio e as ciências como um todo.
“A ciência não pode ficar presa em livros ou na teoria. As experiências sensoriais são fundamentais para vivenciar, ver de perto, tocar, aprender como funciona, tudo isso é tão importante quanto aprender uma fórmula física. As memórias afetivas com o assunto podem determinar a escolha de uma vida, o despertar de um talento e isso é muito importante”, atesta o professor.
Essas experiências sensoriais incluem também o lúdico, apontam especialistas. Livros e brincadeiras alimentam a curiosidade dos pequenos. “Usar eventos cotidianos para o ensino de ciências estimula o interesse pois coloca o assunto dentro do dia a dia deles, humaniza e torna palpável aquilo que parece muito abstrato”, explica.
Incentivar o pensamento crítico, questionando como as coisas funcionam, e descobrindo fenômenos científicos ao seu redor e como eles acontecem também é uma forma de alcançar as crianças. “Esse tipo de pensamento estimula os pequenos a questionarem e criarem hipóteses e encorajam a testar e desafiar , que é, na verdade, a base de por que desenvolvemos nossas habilidades desde sempre”, comenta Abdalla.
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