Cada vez mais tem se falado da importância de se investir na primeira infância. Do nascimento aos 6 anos o cérebro humano está no auge da sua capacidade e as experiências e oportunidades que a criança tem nesse período podem impactar no seu presente e futuro. No Brasil, porém, a prioridade aos pequenos ainda deixa a desejar. Basta lembrar que das 20 milhões de crianças até 6 anos, 7 milhões vivem em situação de pobreza ou extrema pobreza. E somente 35% das crianças estão nas creches, sendo que a meta do PNE (Plano Nacional de Educação) prevê uma taxa de atendimento de 50% até 2024.
Para proteger e proporcionar maior desenvolvimento da primeira infância, o médico Drauzio Varella defende a disponibilidade de escola “na mais tenra idade” como política pública prioritária no país. Ele falou sobre o tema na última segunda-feira (10), em entrevista ao programa Roda Viva, exibido pela TV Cultura.
O especialista foi questionado pela jornalista Mariana Ferrão sobre qual medida ele escolheria como mais urgente para a faixa etária de até 6 anos no país. Ele acrescentou que essa etapa da vida é fundamental para o desenvolvimento infantil e determinante para o resto da vida.
“As crianças que não são estimuladas adequadamente nessa época vão carregar essa cicatriz pelo resto da vida. Não vão ser capazes de desenvolver o QI que elas teriam potencial para desenvolver, e vão carregar traumas.”
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Drauzio Varella também destacou que a infância desassistida é uma das principais causas da violência urbana. Em seguida, vêm fatores como a falta de limites na adolescência e o convívio com pessoas violentas.
Gravidez na adolescência
Outro fator preocupante para o médico é a questão da gravidez na adolescência: “20% dos partos no SUS são de adolescentes, não é um número pequeno. Nós temos na classe social mais baixa essa quantidade de meninas, que são crianças, criando outras crianças”.
Ele afirma que a discussão vai além dos números e representa um comportamento estigmatizante da sociedade. “A gravidez na adolescência é uma realidade para a qual a sociedade fecha os olhos, finge que não existe”, disse. Drauzio Varella também demonstrou preocupação pelas adolescentes que deixam a escola para cuidar dos filhos, comprometendo o seu futuro e o das crianças.
Drauzio Varella também defendeu políticas públicas mais fortes para que crianças nascidas em periferias possam crescer de maneira semelhante às que se desenvolvem em classes mais altas: “Como essas crianças vão ter condições de se desenvolver? Nós estamos comprometendo as gerações futuras”.
No programa, o médico também falou sobre coronavírus, aids, alcoolismo, uso de drogas e outros problemas da saúde pública. Veja abaixo.