Por Orbi – A vacinação de crianças de 6 meses a 2 anos 11 meses e 29 dias de idade contra a Covid-19 começa, finalmente, nesta quinta-feira (17) em todo o país. Foram meses de espera: a aplicação foi liberada em setembro pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A Pfizer Baby, imunizante com a tampa da cor vinho e destinado especialmente a crianças, é a única vacina para esta faixa etária aprovada pela agência. Neste momento, a aplicação é destinada apenas para as crianças com comorbidades (imunossuprimidos e com deficiência permanente) e indígenas. A cidade de São Paulo vai permitir o cadastro de crianças para o recebimento de “doses remanescentes” da vacina contra a Covid-19.
A imunização é importante arma contra mortes e hospitalizações. A doença matou duas crianças menores de 5 anos por dia no Brasil, indica a FioCruz (Fundação Oswaldo Cruz). Ao todo, 599 delas nessa faixa etária faleceram pela Covid-19 em 2020. Em 2021, quando a letalidade da doença aumentou em toda a população, o número de vítimas infantis saltou para 840, mostra o estudo da instituição. Ao todo, 1.439 crianças de até 5 anos morreram por Covid-19 nos dois primeiros anos da pandemia no Brasil.
Para ajudar a entender a segurança e importância da vacina para os pequenos, a Orbi conversou com o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha, e com Isabella Ballalai, membro do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Qual é a diferença da vacina dos bebês para a dos adultos?
“A quantidade de antígeno (proteína do vírus, que desencadeia a produção de anticorpos pelo organismo) na vacina para essa faixa etária é muito inferior àquela que é usada de 12 anos em diante, que é 30 microgramas. A quantidade na vacina de 5 a 11 anos é de 10 microgramas e, nesta vacina, é de 3 microgramas”, aponta Juarez Cunha.
Isabella Ballalai complementa que, além da quantidade de antígeno presente na formulação, o número de doses também varia de acordo com a idade. “O esquema vacinal da Pfizer [Baby] é de três doses. A segunda dose deve ser aplicada após um intervalo de 28 dias da primeira dose e a terceira pode ser aplicada 56 dias após a segunda dose.”
Por que são três doses?
“A gente tem, por enquanto, duas vacinas licenciadas para essa faixa etária. Uma delas é da Moderna, que os estudos mostraram em duas doses uma resposta adequada. A outra, da Pfizer, que a gente tem aqui, é aplicada três doses porque os estudos mostraram que precisava ter uma dose extra, uma vez que contém uma quantidade menor de antígeno dentro da vacina e, para atingir a mesma resposta, a vacina da Pfizer precisou de três doses”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.
Quais são as possíveis reações? A que os pais precisam estar atentos?
Segundo os especialistas, a grande maioria das crianças não sente nada e, quando há reação, grande parte vai ser local, como vermelhidão, dor e inchaço, que é o mais comum.
“Eventos sistêmicos, que a gente chama de febre, mal-estar, podem acontecer, mas nada de diferente de qualquer outra vacina que a gente utiliza. Não tem nada de diferente em termos de reações adversas”, afirma Juarez Cunha.
A dra. Isabella Ballalai destaca que, infelizmente, muitas famílias têm deixado de vacinar os pequenos com medo da miocardite, um evento muito raro, que ocorre principalmente nos meninos acima de 14 anos de idade, com evolução benigna. Juarez destaca que “a Covid-19, como doença, causa muito mais miocardite ou lesões cardíacas do que os raríssimos eventos da vacina.”
A vacina é segura?
Sim. “As crianças estão sendo vacinadas em vários países, inclusive na Europa, e a vacina se mostrou muito segura”, afirma a médica. “Não há motivos para deixar de vacinar as crianças com menos de cinco anos de idade”, completa.
“As vacinas estão mostrando que elas protegem, em especial, dessas formas mais graves da doença, de hospitalização e morte. Então, a gente tem que estimular os pais a vacinarem as crianças”, aponta Juarez.
A vacina pode ser tomada com outras do calendário vacinal?
Para crianças acima de 3 anos, não há necessidade de intervalo entre a vacina da Covid e outras vacinas presentes no calendário nacional, podendo até ser aplicadas no mesmo dia, explica a doutora. “Para os mais novos, é válida a mesma recomendação”, afirma Isabella.
Qual é a importância de vacinar as crianças?
“Além de ser uma vacina segura e eficaz, licenciada pela Anvisa, tem uma série de critérios epidemiológicos, mostrando que a doença impacta muito as crianças”, aponta Juarez Cunha.
Os especialistas concordam que a Covid-19 é mais grave entre os maiores de 60 anos, adultos com comorbidades e até crianças com comorbidade.
“Mas, no primeiro ano de pandemia, 70% dos casos graves por Covid-19 em menores de 19 anos de idade eram crianças e adolescentes sem comorbidades e 50% dos óbitos nessa faixa etária aconteceram em crianças e adolescentes sem comorbidade”, explica Isabella Ballalai , membro do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.
A falsa sensação de segurança dos números menores e mais estáveis da pandemia causam uma adesão baixa às vacinas, mas é preciso lembrar que a Covid-19 ainda causa hospitalizações e mortes, alertam os médicos. Isabella Ballalai ressalta: “a vacinação é segura, gratuita e importante para proteger essas crianças.”
O que motivou a demora na liberação da vacina?
“O que a gente percebe, desde o início, quando começamos a falar em vacinação de crianças, é uma resistência muito grande das autoridades federais em relação a isso, inclusive acolhendo grupos anti-vacina”, conta a médica.
Juarez Cunha complementa que a Anvisa avaliou rapidamente as vacinas e autorizou há mais de dois meses. “O que que eu imagino que tenha atrapalhado bastante aí tenha sido as eleições, porque esse tema levanta bastante discussão, que muitas vezes envolve recados de desconfiança, desinformação e fake news sobre as vacinas”.
Quando a vacinação estará disponível para os outros públicos dessa faixa etária?
O calendário completo de vacinação ainda não foi divulgado. Mas, em cidades como São Paulo, é possível se inscrever para a xepa, doses que sobram no fim do dia.
Como proteger os menores de 6 meses, que ainda não podem se vacinar?
“É vacinando as crianças maiores e os adultos, tendo todos pelo menos três doses da vacina. Assim, a circulação do vírus diminui, o que já é uma proteção ‘tabela’ dessas crianças que ainda não podem se vacinar”, responde Isabella Ballalai. Além disso, ela volta a recomendar o uso de máscaras em ambientes fechados, evitar aglomerações e voltar com o distanciamento mínimo nessa nova onda que se inicia.
“A gestante estar vacinada é muito importante para o bebê que vai nascer e a amamentação também gera uma proteção de criança”, ressaltou Isabella Ballalai.
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