Com a pandemia de coronavírus, as escolas passaram a praticar o ensino online para dar continuidade ao ano letivo e atender às medidas de distanciamento social. Porém, ficar horas em frente ao computador, fazendo tarefas e prestando atenção no professor, tem sido desafiador para muitos alunos. Em especial, para as crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), que têm dificuldade em se concentrar e se organizar com os estudos.
A pedagoga Marcella Bessa Teixeira, que é mãe do Benjamin, de 10 anos, conta os desafios que o filho enfrentou para se adaptar ao ensino remoto. “No começo, até que as aulas online eram uma novidade para ele. Como ele curte tecnologia, gostava de ver os colegas”, diz a mãe. No entanto, rapidamente, o pequeno se cansou desse modelo de aulas, pois não conseguia prestar muita atenção nem aprender. Para piorar, ele e os amigos descobriram como compartilhar telas de games no próprio app do colégio. O que só atrapalhava o aprendizado. “Após uns 15 dias, ele não queria mais participar das aulas”, conta a mãe. Para não prejudicar o ano letivo, ela diz que que decidiu contratar uma professora particular para acompanhar o filho, pois o aproveitamento das aulas online foi muito baixo. A nova professora ajuda-o a manter o conteúdo dado pela escola em dia, além de trabalhar prevendo um tempo maior de aprendizagem para Benjamin.
A psiquiatra Ana Paula Francisco, que atende crianças com TDAH, explica que estudar de casa, de fato, exige mais independência do aluno. “E a criança com o transtorno tem mais dificuldade com atividades que não são organizadas nem seguem a mesma estrutura praticada em sala de aula presencial”, reforça.
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Aulas adaptadas favorecem o aprendizado das crianças com TDAH
Lúcia Daiello, que é mãe de Lucas, 15 anos, conta que o filho foi uma grande surpresa nesta quarentena. “O rendimento dele melhorou muito com as aulas online, a participação dele durante as aulas se manteve consistente (o que não acontecia na sala de aula presencial) e as notas também melhoraram”, relata a mãe, que é pscicomotrista – profissão que promove um atendimento integrado ao paciente, levando em conta aspectos emocionais, cognitivos e motores.
Lúcia recorda que os professores de Lucas adaptaram o conteúdo de acordo com as necessidades dele, que possui baixa visão e déficits de coordenação motora. Por isso, os docentes organizaram os slides das aulas com letras maiores e com mais contraste nas imagens. Além disso, Lúcia relata que, neste período, Lucas “foi pedindo mais tempo para fazer anotações, perguntava a mesma coisa várias vezes quando não entendia o assunto, o que também foi um ganho nesse período de aulas remotas, pois ele passou a falar por si, sem eu precisar acionar a orientação ou coordenação pedagógica da escola para ajudá-lo”.
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Como os pais podem ajudar o filho nas aulas online
Tanto os pais quanto os professores são agentes fundamentais para auxiliar a criança neste período de aulas remotas. “A grande dica que eu posso dar às mães é acompanhar os filhos de perto durantes as aulas e ajudá-los a criar estratégias que sejam válidas para eles. Precisamos, muitas vezes, desconstruir o modelo de aprendizagem que temos, pois o que funciona para a maioria pode não funcionar para os nossos filhos”, aconselha a mãe de Lucas.
Por fim, respeitar os limites dos filhos também é extremamente importante. “Quem tem TDAH já faz um esforço a mais para dar conta de todas as atividades do dia a dia. Os pais não precisam adicionar ainda mais pressão desnecessária, pois isso só piora o desenvolvimento das atividades”, conclui Lúcia.
“A grande dica que eu posso dar às mães é acompanhar os filhos de perto durante as aulas online e ajudá-los a criar estratégias que sejam válidas para eles.”
Lúcia Daiello, psicomotrista e mãe do Lucas, que possui TDAH.
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A psiquiatra Ana Paula Francisco lista a seguir algumas dicas aos pais para ajudar na aprendizagem dos pequenos com TDAH:
- Em casa, é fundamental criar uma rotina diária para a criança, estipulando o horário das aulas, das brincadeiras e do descanso;
- Criar um ambiente de estudos o mais tranquilo possível, sem intervenções externas;
- Observar se o professor apresenta como será a estrutura da aula, logo no início, quais os tópicos que serão abordados e em quais momentos os alunos poderão fazer perguntas;
- Sugerir à escola que as tarefas maiores sejam divididas em pequenas partes, com etapas bem descritas;
- Caso a tarefa da escola não tenha sido dividida em pequenas partes, os pais podem ajudar a criança a fazer essa fração, de modo que ela entenda que não precisa fazer tudo de uma vez, mas sim, parte por partes.
- Assegurar que a criança faça pequenos intervalos de descanso entre as aulas online para beber água e retomar a atenção;
- Incentivar o filho a acessar os slides e textos da aula posteriormente, sempre que necessário;
- Observar se o professor checa com os alunos se eles estão acompanhando o conteúdo e mesmo pede para que resumam o que entenderam da aula;
- Se possível, solicitar que a gravação das aulas seja disponibilizada;
- Respeitar sempre os limites de cada criança
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Como identificar o TDAH
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, que possui causas genéticas e ambientais, podendo acompanhar o indivíduo pela vida toda. Geralmente diagnosticado na infância, segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, trata-se do transtorno mais comum entre crianças e adolescente encaminhados a serviços psicológicos, ocorrendo em 3 a 5% das crianças.
Dentre os sintomas do transtorno, pode-se destacar a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade. De acordo com a psiquiatra, esses sinais podem ser identificados nas crianças em atitudes comuns do dia a dia. Ela cita como exemplo a dificuldade em manter a atenção na aula ou em outras atividades, principalmente quando não estão interessados. “Eles também podem parecer não estar ouvindo quando se fala diretamente com eles, isso quando estão hiperfocados em alguma atividade que gostam”, diz. Segundo Ana Paula, eles também cometem erros com mais frequência por estarem distraídos e não porque não sabem. Além disso, se esquecem das atividades e de datas importantes. “Também não gostam de ficarem parados durante longos períodos de tempo e se distraem com muita facilidade”, explica a médica.
É importante salientar que nem toda desatenção é sinal de TDAH, diz a psiquiatra Ana Paula Francisco
A psiquiatra reforça que os sintomas variam de leves a severos e que não se apresentam de maneira igual em todas as crianças. É importante salientar que nem toda desatenção é sinal de TDAH. “O que vai fazer com que esses sinais sejam relacionados ao TDAH é a intensidade, a frequência e o grau de prejuízo que está causando na criança”, completa Ana Paula.
Outro grande desafio para a identificação correta do TDAH é a tendência que alguns pais têm em diagnosticar os filhos com transtornos inexistentes. O neurologista Charles Cury, do Rio de Janeiro, diz receber diariamente em sua clínica crianças de todas idades já rotuladas, segundo ele, “por leituras superficiais extraídas do ‘Dr. Google’ ou diagnosticadas por outros profissionais que se deixaram levar por informes inadequados de doenças ou disfunções neurológicas inexistentes”. “Assim é que recebo falsos autistas e falsos transtornos hipercinéticos da infância com distúrbio da atenção com a rubrica de TDAH”, afirma Cury. O Transtorno Hipercinético é um subtipo de TDAH com características e sequelas mais graves.
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Excelente matéria, Ivana e Michele. Como psicóloga infanto-juvenil, trabalho muito com este público e vejo a dificuldade que as crianças e as famílias enfrentam. O TDAH está longe de ser uma invenção da mídia. Acabei escrevendo alguns livros sobre o assunto para ajudar a dismistificar também. Achei e excelentes as dicas da Dra. Ana Paula. Abs
Olá, Cláudia, tudo bem? Obrigada por compartilhar sua opinião conosco. Ficamos felizes em saber que você gostou da matéria e das dicas da dra Ana Paula. Bom saber também que você é especialista no assunto. Vou guardar seu contato para futuras matérias e caso queira nos sugerir alguma pauta, favor escrever no [email protected] . Um abraço, Verônica.