Estudo mostra que incidência de covid-19 entre professores de SP é três vezes maior do que entre a população

Pesquisadores concluem que a retomada das atividades presenciais na rede estadual não é segura, ao contrário do que anuncia o governo de São Paulo

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Números de casos de covid-19 em docentes de SP é três vezes maior que na população, diz estudo; fachada da escola estadual EE Dona Maria Nelida Sampaio de Mello
Foto: reprodução de www.educacao.sp.gov.br
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Um levantamento elaborado por pesquisadores e professores da Rede Escola Pública e Universidade (Repu) afirma que a incidência de covid-19 entre professores no início deste ano foi maior do que a registrada na população em geral. Segundo o estudo, feito em 299 escolas da rede estadual paulista, a incidência de Covid-19 entre professores nas unidades analisadas foi quase o triplo da registrada na população de 25 a 59 anos de São Paulo. Foram confirmados 2.256 casos entre professores por 100 mil habitantes contra 773,1 casos na população da faixa etária citada por 100 mil habitantes, entre fevereiro e março deste ano. Os dados para a análise foram coletados por professores ligados ao Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).

O monitoramento é divulgado na mesma semana em que a rede estadual de educação retomou as aulas presenciais, iniciadas nesta quarta-feira (14), de forma gradual e não obrigatória, com um limite de atendimento de até 35% dos alunos. No último sábado (10), os profissionais da educação acima de 47 anos de idade começaram a ser imunizados contra a Covid-19. Serão aplicadas 350 mil doses. Segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde, 167.847 trabalhadores já foram vacinados até terça-feira (13).

Com base nos dados levantados, o grupo de professores e pesquisadores questiona os números divulgados pela Seduc-SP e cita uma série de inconsistências nas informações sobre a infecção nas escolas divulgadas pelo governo estadual. O levantamento afirma haver risco real para os professores e conclui que a retomada das atividades presenciais na rede estadual não pode ser considerada segura, ao contrário do que anuncia o governo de São Paulo.

“O estudo mostrou com clareza que a escola não foi segura, pelo menos nessas 300 escolas que estudamos, gerando nesse período contaminações que poderiam ter sido evitadas, de professores, funcionários e alunos, chegando também as famílias desses mesmos grupos”, afirma o pesquisador Leonardo Crochik, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo (IFSP), durante live realizada nesta quarta-feira (14) no canal do Youtube da Repu.

O monitoramento da rede destaca também que na primeira semana de análise, com início de 7 de fevereiro, a incidência da covid-19 entre professores era 150% maior que na população entre 25 e 59 anos de idade, já na última semana de análise, entre 28 de abril e 6 de março, a incidência passa a ser 230% maior. Ao longo do período analisado, portanto, quando houve uma piora geral dos casos de covid-19 no país, o aumento da incidência entre os docentes foi de 138%, contra 81% do registrado na população comparada. Ainda, segundo o grupo, a incidência divulgada no início de março pelo boletim epidemiológico da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) é 60 vezes menor do que a a por eles apurada.

O boletim da secretaria afirma que a taxa de incidência da Covid-19 é “33 vezes menor que a do estado”, com base em dados da comunidade escolar como um todo, incluindo no cálculo alunos, professores e funcionários das escolas.

As escolas analisadas compreendem um universo de 12.547 professores e 3.947 servidores de educação, e estão localizadas em 15 municípios do estado, dos quais 13 na região metropolitana. São eles: Arujá, Caieiras, Cajamar, Ferraz de Vasconcelos, Francisco Morato, Franco da Rocha, Guarulhos, Hortolândia, Mairiporã, Osasco, Poá, Santa Isabel, Santo André, São Paulo e Sumaré.

Estudo mostra que escolas de Osasco conseguiram reduzir casos

O levantamento destaca como positivo o trabalho realizado por um pequeno grupo de escolas de Osasco, que conseguiu índices menores de contaminação. Para tanto, os estabelecimentos adotaram, por conta própria, medidas mais rigorosas de proteção, incluindo rodízio de profissionais, afastamento e testagem de pessoas que tiveram contato com caso suspeito e limitação de público inferior aos 35% estipulados pela Seduc-SP. O estudo afirma que a estratégia “parece ter contribuído para uma redução do número de casos de covid-19 entre professores”.

Secretaria de Educação diz que usou números confiáveis

A Secretaria da Educação de São Paulo esclarece que o cálculo da incidência de casos de covid-19 considera o número de casos positivos de estudantes e profissionais de educação, dentre eles os professores. “Não foi realizado um recorte específico para o público docente porque o monitoramento realizado pela Seduc, por meio do Simed, se dá sobre toda a comunidade escolar. O uso de dados gerais foi o número confiável a ser utilizado diante das incertezas, como metodologia possível”, diz a pasta em nota enviada por email para a Canguru News. A Seduc SP diz ainda que um novo boletim epidemiológico será divulgado em breve sobre o acompanhamento dos casos da Covid-19 em ambientes escolares.

Veja aqui o monitoramento de casos de covid-19 na rede estadual de São Paulo.


Leia também: ‘Vacinando os professores, conseguimos voltar às aulas em agosto’, prevê especialista


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