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Como a psicologia das massas explica a propagação de ódio por grupos de adolescentes na internet
A questão não é recente, mas voltou ao debate após a matéria do último domingo no Fantástico, sobre os grupos no aplicativo Discord formados por adolescentes que cultuam e propagam o ódio.
A obra do neurologista e psiquiatra austríaco Sigmund Freud, “Psicologia das Massas e Análise do Eu” e a obra do sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, “O mal-estar na Pós-modernidade” falam sobre a necessidade que temos de nos identificar, de pertencer. Freud diz que “a psicologia de massas trata o ser individual como membro de uma tribo, um povo, uma casta, uma classe, uma instituição ou uma parte de uma aglomeração que se organiza como massa em determinado momento, para um certo fim. É o chamado instinto de rebanho, mente de grupo. E é exatamente isso que percebemos em grupos como os mostrados na reportagem.
Somos seres relacionais, precisamos – e isso fica muito evidente principalmente na adolescência – encontrar a nossa identidade, precisamos construí-la para além daquelas pessoas que são as nossas referências de base – pais e cuidadores. Precisamos nos descobrir.
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O que nos regula, o que nos faz ter consciência do que a gente pode ou não pode fazer em sociedade, se dissolve no grupo. É como se você não fosse totalmente responsável pelo que você está fazendo. Você está seguindo, a questão da responsabilidade se dissolve.
A massa é anônima, portanto, irresponsável. O sentimento de responsabilidade desaparece dos indivíduos, ele é um número e sente um poder invencível, assim, ele se permite liberar todo o mal que estava reprimindo. É como se ele estivesse hipnotizado, sem vontade, sem discernimento, e passa a ser orientado pela sugestão, é contagiado pelos sentimentos e ideias do grupo.
Com a capacidade intelectual diminuída somada ao sentimento de onipotência e à impulsividade, a massa vai aos extremos. Uma leve antipatia se torna um ódio mortal. A massa exige violência, gosta de ser dominada, oprimida. Gosta de ser iludida, não tem necessidade da verdade, prefere o irreal ao real e costuma não fazer distinção entre as duas coisas.
Adolescentes ainda não têm o córtex pré-frontal plenamente desenvolvido, e esta área do cérebro é a que controla a impulsividade, a que avalia os riscos das nossas ações, a que planeja e a que processa as emoções. Por isso não podemos esperar que tenham senso crítico, que ajam como adultos. Até para os adultos o movimento natural é o de buscar essa identificação. (Colaboração da psicanalista Maria Angélica Tomas)
Texto baseado no livro de Sigmund Freud: Psicologia das Massas e Análise do Eu e outros textos analíticos (1920-1923)
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.
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Bebel Soares
Bebel Soares é arquiteta urbanista, psicanalista, escritora, mãe do Felipe e fundadora da comunidade materna Padecendo no Paraíso, onde informa e dá suporte a mães desde 2011.
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