Brincadeiras ajudam a desenvolver as crianças e até curam doenças

Tão importante quanto comer ou dormir bem, praticar jogos lúdicos ajuda no desenvolvimento das crianças em geral e se tornou preocupação entre os pediatras

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Brincadeiras ajudam a desenvolver as crianças e até curam doenças
O paulistano Martim, de 3 anos, gosta de brincar sozinho e concentrado. Também curte carrinhos, boliche e ioiô | Foto: Nidin Sanches
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Por Cristina Moreno de Castro – Imagine levar seu filho ao pediatra e, ao final da consulta, ler a seguinte prescrição na receita médica: “brincar mais!”. Pois esse “remédio” está sendo cada vez mais aplicado pelos especialistas modernos, que já descobriram que as brincadeiras são fundamentais no desenvolvimento global dos pequenos. São inúmeros os estudos científicos, em vários campos do conhecimento, que provam que essas atividades contribuem para a saúde, o neurodesenvolvimento, o aprendizado, o desenvolvimento linguístico, a criatividade, a criação da identidade, a socialização, o desenvolvimento afetivo – e um extenso “etc.” ao final de tudo isso.

Brincar, na primeira infância, é tão importante quanto a alimentação e o sono”, crava o pediatra Ricardo Ghelman, PhD, coordenador do Programa de Pediatria Integrativa do Instituto da Criança, da Faculdade de Medicina da USP, e diretor do Instituto Ghelman de Medicina Integrativa. “O que adianta ter uma criança bem-nutrida e que durma bem, se ela tiver uma série de problemas no seu desenvolvimento e na sua escolarização em função de ter ficado presa em experiências passivas, como ver televisão, sem poder criar e se movimentar?”, questiona o especialista.

Info_pediatriaintegrativa.jpg (95 KB)Ghelman diz que o brincar “não é um assunto pequeno dentro da pediatria moderna”. E a tendência é que seja cada vez mais prescrito no país, quando a pediatria integrativa – conceito que está sendo pioneiramente trazido pela USP e que foi apresentado oficialmente às entidades médicas há apenas dois meses – for implementada no Brasil. “O que a pediatria integrativa pergunta é ‘como podemos fazer para que a criança não fique doente, mas sim saudável e feliz?’. Isso inclui o brincar, dentro da pediatria”, explica o médico (leia mais sobre a especialidade no box ao lado).

Além de serem recomendadas para que as crianças saudáveis permaneçam assim, as brincadeiras também ajudam a curar ou tratar os pequenos diagnosticados com alguma doença ou limitação. No estudo “A importância do brincar no desenvolvimento psicomotor: Relato de experiência”, publicado na Revista de Psicologia da UNESP em 2010, pesquisadores da área da neurociência e da fisioterapia fizeram um estudo de caso com crianças com paralisia cerebral e síndrome de Down e concluíram que “os jogos e as brincadeiras podem facilitar o desenvolvimento psicomotor, uma vez que estimulam sua criatividade, sua imaginação e seu espaço de exploração e melhoram a participação e a motivação da criança, diminuindo sua inadequação”.

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A carioca Giovana, de 6 anos, adora fazer tirolesa e costuma brincar nos
fins de semana em pracinhas ou hotéis- fazenda. Foto: Daniel Mello

Outros estudos feitos por pesquisadores da Califórnia demonstraram que as brincadeiras podem até mesmo reverter quadros de déficit de atenção e hiperatividade. “Se a criança consegue brincar mais em ambiente outdoor e correndo, movimentando-se, entrando em contato com materiais diferentes, como areia e água, subindo em árvores, esse tipo de coisa, ela consegue reverter o transtorno”, afirma Ghelman. Os estudos que ele cita chegaram a uma receita médica exata: duas horas de parque, duas vezes por semana, podem bastar para reverter um quadro de TDAH. Segundo Ghelman, esta doença se tornou uma “epidemia” no Brasil, que ocupa o segundo lugar mundial em período pelo qual as crianças ficam em frente às telas (cinco horas e 35 minutos, de acordo com o Ibope), o que priva os pequenos dos movimentos e da exploração do mundo tridimensional.

Por tudo isso, temos que levar as crianças e suas famílias para as ruas e os parques, defendeu o pediatra Daniel Becker, do Rio de Janeiro, que também aplica os conceitos da pediatria integrativa e foi um dos criadores do Programa Saúde da Família, em artigo publicado na Canguru. Ele escreveu que o brincar ao ar livre “reduz a obesidade, a hiperatividade, a agressividade, as alergias e os distúrbios do sono; melhora a imunidade, a atenção e a escolaridade”.

Diferenças de faixa etária

É um consenso entre os especialistas ouvidos pela Canguru que cada faixa etária tem um tipo de brincadeira mais indicado. “As crianças com menos de 3 anos, mesmo na companhia de outras, estão brincando sozinhas. Para elas, as atividades devem estimular os sentidos. A partir dos 3 anos, elas já incluem o outro nas brincadeiras. Deixam de brincar ao lado de outra criança para brincar com elas”, explica Lais Maria Santos Valadares e Valadares, que é presidente do Comitê da Primeira Infância da Sociedade Mineira de Pediatria e membro da Sociedade Brasileira de Pediatria.

O doutor Ricardo Ghelman diz que há particularidades específicas para crianças de 0 a 6 anos, de 7 a 12 e adolescentes de 13 a 19. No caso das mais novas, o cérebro está em pleno processo de amadurecimento e elas percebem o mundo através de imagens e fantasias. Além disso, aprendem muito por imitação. Para essa fase, mais motora e sensorial, o ideal é fornecer materiais que tragam a capacidade de a criança criar um pouco, que não estejam completos e permitam variedades de texturas. Também é bom que os baixinhos possam correr e se movimentar junto com os jogos, explorando a tridimensionalidade (algo que os brinquedos digitais não oferecem).

Na segunda etapa da infância, o médico diz que o ideal são as brincadeiras em grupo, como jogos de queimada e frescobol, mas de preferência sem muita competição. Já os adolescentes estão em pleno desenvolvimento da inteligência cognitiva e dos músculos e devem praticar jogos com mais desafios motores, que sejam mais elaborados e que estimulem a coragem.

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Infografia / Canguru

Presença dos pais

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A mineira Sophia Victória, de 6 anos, gosta de brincar de boneca,
tanto sozinha quanto com a mãe. Foto: Carlos Hauck

Que é fundamental que as crianças brinquem já ficou claro. Mas, e os pais, devem brincar junto? A maioria dos pesquisadores defende que sim, desde que se estabeleça um espaço para os pequenos explorarem a imaginação sozinhos. “Dependendo da criança e do local em que esteja brincando, será importante ter um adulto por perto para protegê- la dos riscos de acidentes. Mas também é fundamental o tempo livre para brincar sozinha e deixar fluir a imaginação”, resume a pediatra Lais Valadares.

Um dos grandes nomes da educação infantil no país, Tizuko Morchida Kishimoto, livre-docente da Faculdade de Educação da USP, escreveu em seu estudo “Brinquedos e brincadeiras na educação infantil”, de 2010, que “a criança não nasce sabendo brincar, ela precisa aprender, por meio das interações com outras crianças e com os adultos”.

Para o pediatra Ricardo Ghelman, os pais devem permitir que os filhos até 3 anos possam explorar os materiais e o ambiente com segurança. Até os 6 anos dos filhos, os pais devem entrar na brincadeira, deixando-se envolver pela fantasia da criança. A partir dos 6, os pais vão brincar cada vez menos, mas devem “seguir a criança, aproveitando a oportunidade única da vida que é reviver o desenvolvimento humano junto com seus filhos”.

Flávia Pellegrini, uma das criadoras do movimento Na Pracinha, de Belo Horizonte, traz outro aspecto do brincar junto com o filho: “É uma ferramenta para fortalecer a conexão entre as crianças, seus pais e cuidadores”.

É também o que defende a Fundação Abrinq, que lançou, em novembro, o e-book gratuito Brincar Junto! – Guia de Brincadeiras para Crianças e Adultos. “Não basta aos pais dar o brinquedo, tem que sentar e brincar junto”, afirma Valdete Tereza da Costa, que é professora, ex-coordenadora pedagógica municipal de educação infantil e articuladora voluntária da Fundação Abrinq em projetos de educação. Confira a seguir três brincadeiras presentes no e-book e divirta-se junto com seus filhotes.

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