Artigos
‘Seu modelo de família é o que se relaciona pela sala de visitas ou pela porta dos fundos?’
Descrições como “aborrência”, “fase problema”, fase em que os filhos se afastam e passam a questionar tudo e todos. Essas são algumas das formas com que muitos pais se referem à adolescência, principalmente, quando não sabem lidar com o “novo” filho que têm em casa, nem conseguem manter o controle da situação, como quando ele era criança.
“O adolescente de fato está deixando de ser criança, está passando por um luto da infância e precisa mais que nunca dos pais, porque é nessa fase que ele vai construir o autoconceito dele, tentar entender quem ele é”, explicou a coach parental Jacqueline Vilela, durante a palestra “Adolescência: cada vez mais cedo, cada vez mais desafiadora”, realizada neste sábado (20), no 2o Congresso Internacional de Educação Parental.
Jacqueline disse ser fundamental que os pais deem espaço para que os filhos possam se expressar.
“A adolescência é um período de expansão, então os pais precisam deixar o filho experimentar, sem cortar vínculos com ele”, afirmou a palestrante, que é fundadora da Parent Coaching Brasil, uma das realizadoras do congresso, em parceria com a Canguru News.
Para o psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura, que se apresentou com Jacqueline no evento, os pais precisam diminuir as expectativas em relação aos filhos e entender que não existem pais perfeitos e tampouco se criam filhos perfeitos. “Nós vivemos pessoas reais. Esse é um ponto importantíssimo.”
Aceitar as imperfeições dos filhos é uma forma de se aproximar deles e assim criar uma relação mais verdadeira, ressaltou o psiquiatra.
“Quando você conhece pessoas verdadeiras, você pode ser verdadeiro também, e isso desarma as relações, diminui as vergonhas, aproxima o afeto”, destacou Bottura.
Ele comparou a maneira como nos relacionamos com os filhos e o grau de intimidade que temos com eles, com a maneira com que recebemos as pessoas em nossa casas. “Seu modelo de família é o que se relaciona pela sala de visitas ou pela porta dos fundos? A sala de visitas é um lugar meio proibido na casa, formal. Os nossos maiores amigos são aqueles que entram pela porta dos fundos: conhecem a nossa cozinha desarrumada, veem o nosso lixo. E é com eles que estabelecemos uma relação forte”.
Para ele, os pais precisam parar de ver a criação dos filhos como uma responsabilidade a mais. “Criar filhos não pode ser visto como uma tarefa, que a gente faz como obrigação e quer se livrar logo disso. Educar os filhos é o direito de ter prazer de ser pai e mãe, e quanto maior o prazer, mais caro é, não é fácil ser mãe e pai”, pontuou o especialista.
‘Nunca fomos treinados para a coisa mais importante da nossa vida – criar os filhos’, diz Wimer Bottura
Um dos maiores desafios nessa jornada de pais está justamente no fato de não haver formação para isso. “Somos treinados para ser jornalista, médico, engenheiro, mas nunca fomos treinados para a coisa mais importante da nossa vida – criar os filhos – e a educação parental tem aí um grande papel”, afirmou o psiquiatra.
Embora desafiadora, a adolescência é uma fase fértil, em que os pais têm muito a contribuir na educação dos filhos, complementa Jacqueline.
“Os pais acham que não dá mais tempo, mas a adolescência é uma fase muito fértil, em que os pais podem ensinar coisas úteis para que os adolescentes se formem adultos mais seguros”, avalia a coach parental.
Lembrar que também foram jovens e fizeram bobagens pode ajudar muito no diálogo com os adolescentes. “A comunicação se desfaz quando a gente se esquece da nossa própria adolescência, então são os pais nessa postura de adulto, falando com filho que ainda não tem uma maturidade. A comunicação se dá quando a gente entende que na nossa adolescência também tivemos medos, erramos, mentimos para os pais e fizemos coisas que não soubemos”, finaliza Jacqueline.
LEIA TAMBÉM
[mc4wp_form id=”26137″]
Verônica Fraidenraich
Editora da Canguru News, cobre educação há mais de dez anos e tem interesse especial pelas áreas de educação infantil e desenvolvimento na primeira infância. Tem um filho, Martim, sua paixão e fonte diária de inspiração e aprendizados.
VER PERFILAviso de conteúdo
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O site não se responsabiliza pelas opiniões dos autores deste coletivo.
Veja Também
Por que as festas de fim de ano são tão difíceis para crianças com seletividade alimentar (e como ajudar de verdade)
Pratos desconhecidos, aromas novos e comentários de familiares podem transformar a ceia em um enorme desafio emocional para crianças seletivas....
Menores fora das redes: a exclusão da Austrália é cuidado ou ilusão?
Primeiro país a adotar a medida, a Austrália reacende um debate global entre famílias, escolas e governos: como proteger crianças...
Seu filho não precisa sentar no colo do Papai Noel; 4 cuidados essenciais para crianças neurodivergentes
Com preparo, respeito ao ritmo da criança e uma boa dose de acolhimento, a magia do Natal pode ser especial...
A infância em looping: o que a denúncia contra o TikTok revela para nós, mães
Para o Instituto Alana, mecanismos como rolagem infinita, autoplay e recompensas digitais funcionam como gatilhos de vício, desrespeitando as normas...






