Comecei minha prática clínica atendendo apenas crianças por dez anos. Ao longo dessa trajetória, fui descobrindo que o resultado terapêutico acontecia em curto tempo quando os atendimentos se estendiam aos pais e, se necessário, à família. Com a evolução clínica e acadêmica, passei a atender também adolescentes e adultos. As crianças vêm encaminhadas principalmente pela escola, que, muitas vezes, percebe sintomas associados ao aprendizado e à dificuldade com a disciplina e/ou relacionamento.
Uma das maneiras de ajudá-las é compreendendo a formação da nossa psique através da psicanálise. Temos a predisposição inata, a experiência de vida e o fator desencadeante. O fantástico é que a experiência de vida permite desenvolver ou inibir as predisposições inatas, direcionando o desenvolvimento através de estimulações necessárias, desde o nascimento. Devemos respeitar a maturidade natural da faixa etária, evitando expor a criança a situações para as quais ela ainda não está pronta neurologicamente.
Um exemplo de estimulação auditiva: certa vez, recebi uma criança de 6 anos com a queixa escolar de introspecção. A professora falava e a criança parecia não perceber, ficava absorvida com algum brinquedo, ou apenas atraída com seu material escolar. Logo na entrevista, percebi que sempre que o assunto interessava, a criança olhava atentamente. A avaliação psicológica demonstrou resultados adequados para a idade. Então, usei um treinamento para aumentar sua atenção auditiva. Jogávamos uma bolinha de ping-pong na parede e ela, de olhos fechados, teria de indicar onde a bolinha havia parado. Quando já estava acertando, jogamos duas e depois três bolas simultaneamente para que ela indicasse onde haviam parado. Junto com as sessões de orientação com os pais, dei-lhe uma bola com um guizo dentro para que ela brincasse com o seu cachorro. O objetivo era tornar o treinamento intensivo. Assim, a atenção auditiva ficaria automática e inconsciente. Em três meses essa habilidade de atenção auditiva tinha influenciado positivamente sua dinâmica e seu resultado escolar.
As palavras produzem imagens que são próximas do inconsciente, de onde vem nosso comportamento automático. Quando falamos, principalmente com crianças, que são naturalmente literais, temos mais sucesso na nossa comunicação se dizemos exatamente o que queremos comunicar. Pensamos por imagens. Quando os pais falam “Não atravesse a rua”, para entender a frase, a imagem que a criança vai fazer é justamente de atravessar a rua. E vai se comportar a partir do que ouviu. A palavra “não” é um conceito, não tem imagem.
Podemos fazer uma experiência, pontuando para nosso filho todos os comportamentos adequados que ele produzir. Também podemos informar exatamente o comportamento que deve ter, ou o comportamento que queremos que ele tenha. Essa repetição vai para o inconsciente, contribuindo com a formação da sua psique.
Léa Machado
é psicóloga clínica, especializada em psicoterapia breve e hipnoanálise.