Mais de mil pessoas compareceram ao Centro Convenções Rebouças, em São Paulo, para participar do 9° Seminário Internacional de Mães, coorganizado pela Canguru News, neste sábado (6). O evento teve um dia inteiro de palestras inspiradoras, que divertiram e emocionaram o público, provocando boas reflexões sobre a educação dos filhos, ao tratar de temas como limites, temperamentos, uso de telas, ansiedade, presença, inclusão e sexualidade do casal após os filhos.
“Achei fantástico o seminário. Criar filhos traz muitos desafios e as famílias estão precisando de orientação”, afirmou a aposentada Lúcia Borges, que tem 8 filhos, 13 netos e 3 bisnetos, que disse ter se interessado pelo evento por estar organizando um projeto de orientação para pais no Colégio Santa Marcelina onde estudou e desenvolve programas sociais.
A psicopedagoga Isa Minatel fez a palestra de abertura na qual falou sobre os tipos de temperamentos das crianças – conjunto de traços da personalidade que são observados desde os primeiros anos de vida – e a importância de entendê-los para melhorar as relações com os filhos. Segundo a psicopedagoga, as crianças com temperamento colérico se agitam diante de qualquer acontecimento, têm reações enérgicas e uma personalidade mais combativa e resistente a ordens. As “sanguíneas” tendem a ser inconstantes – vão das lágrimas ao riso em minutos – e a ter reações instantâneas, não guardando mágoas, pois esquecem rápido o que aconteceu. Já as de temperamento melancólico são afetivas e reflexivas, pensam muito e são mais reservadas, porém, quando ganham confiança, se abrem mais. Por fim, o fleumático é inteligente e afetivo, mas não costuma demonstrar suas habilidades. É também um excelente mediador, mas quando tem raiva pode explodir.
“Todo mundo tem um pouco de cada temperamento, só que há um dominante e um subdominante que nos ajudam a entender a personalidade de cada criança. Não existe melhor nem pior, um temperamento completa o outro”, relatou Isa. Ela concluiu a palestra reforçando a importância de ouvir os filhos: “e se ainda tiverem dúvidas sobre como educar e se conectar com eles, ouçam a pureza das respostas das crianças”, brincou a palestrante parafraseando a letra da música O que é, o que é, de Gonzaguinha, que encerrou a sua apresentação.
A psicóloga Rosely Sayão e a jornalista Thaís Dias fizeram um talk show aos moldes do programa “Seus filhos”, que apresentam na rádio Band News FM. Elas falaram sobre desafios comuns a todas as mães, entre os quais, os limites. “A criança precisa mais dos pais do que de limites, porque a presença materna e paterna são um limite muito claro para os filhos”, disse Rosely. Sobre o celular, a psicóloga comentou que não acha adequado crianças menores de seis anos usarem esses dispositivos. “Não é porque a gente tem carro que vai deixar o filho de 6, 8, 10, 12 anos dirigir. A gente precisa regular o uso. As crianças precisam de natureza, equilíbrio corporal, e isso se ganha caminhando, brincando na praça, correndo. Precisamos permitir que as crianças brinquem mais.”
As apresentadoras falaram ainda da exaustão, da culpa, do cansaço e da solidão comuns a muitas mães, diante da sobrecarga de tarefas, e lembraram a importância de praticarmos a sororidade. “Se a gente estende a mão em vez de julgar e apontar o dedo, tudo muda. É a chamada rede de apoio que pode ser praticada não só com quem conhecemos mas com qualquer mãe”, declarou Thaís.
Na última conferência da manhã, a jornalista mineira Adriana Araújo, autora do livro Sou a mãe dela, fez um relato emocionante sobre as dificuldades que enfrentou com a filha Giovanna, que nasceu com uma síndrome ortopédica rara e chegou a fazer dez cirurgias para poder caminhar. Do preconceito da própria família ao médico que sugeriu amputar a perna da filha, Adriana contou diferentes histórias que mostram como é desafiador garantir a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade.
“Quando me dizem que eu tenho resiliência, eu penso comigo: ‘você não conhece a minha filha’. Para todas as mães atípicas, quero dizer que nós vivemos situações muito parecidas, ainda que cada filho seja um filho e tenha suas diferenças, só a gente sabe o olhar preconceituoso que recebe, quando está com o filho bebê no colo, e os outros nos veem como a mãe que falhou, que fez algo errado pro filho nascer ‘desse jeito’. O preconceito começa voltado à mãe e é ela quem tem que lutar pela inclusão.”
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A sueca radicada em Portugal Mikaela Ovén trouxe o tema da ansiedade que acomete pais e filhos e para combatê-la sugeriu estratégias de co-regulação, respiração e movimento. Já a pediatra Filó, médica intensivista na Santa Casa de Misericórdia (BH) discursou sobre o papel da mãe como pilar da família. “O papel de mãe é algo encantador. Ela vai lutar contra tantas coisas, vai se posicionar para dar conta que o filho fique de pé e ande sem a sua mão, e isso não é uma brincadeira, é uma missão”.
Filó também comentou sobre o seu papel como médica: “O pediatra é o primeiro geriatra da vida de alguém. Quando recebo uma criança tenho a missão de fazê-la viver até mais de 90 anos com saúde física, mental e espiritual”. Ela ainda destacou a necessidade dos pais estarem presentes e orientarem o filho para vê-lo crescer de maneira saudável.
“Olhe para o seu filho e bote reparo. Olhe se a saúde mental está boa. Olhe o tempo de tela”. Segundo Filó, redes sociais como o Tiktok têm provocado muitos distúrbios psiquiátricos em crianças. “Os psiquiatras não estão dando conta dos atendimentos. Estamos com uma infância e adolescência adoecidas, tomando remédios tarja preta”, declarou a pediatra.
O psicólogo e escritor paraibano Marcos Lacerda, criador do canal Nós da questão, no Youtube, contou da influência da sua mãe na sua formação e recordou a importância dos seus ensinamentos, desde a infância, em diversas situações do cotidiano, até recentemente, em seus últimos dias de vida. Marcos se emocionou ao recordar o período que passou com a mãe no hospital e o doloroso processo de luto, que embora difícil também traz aprendizados. “A sabedoria das mães, mesmo quando ingênua, de quem não leu, não estudou, é de muitos ensinamentos. As mães precisam parar de se cobrar tanto e lembrar que elas estão dando o melhor que elas podem”.
A sexóloga Camila Gentile, CEO da rede de sexshops Exclusiva, trouxe o tema da sexualidade depois dos filhos e a importância do casal reservar tempo para si, sem as crianças.
O encerramento do seminário foi feito pelo historiador, escritor e professor Leandro Karnal com o tema educar filhos no século 21. Para Karnal, educar é estabelecer limites, ser resiliente e não se cansar de repetir várias vezes a mesma coisa até que os filhos assimilem Ele disse ainda ser importante que os pais incentivem os estudos e deem o exemplo em aspectos como a leitura e a alimentação.”Não é saber tabuada de cor, mas sim estimular o filho com perguntas e permitir que se pronuncie dentro da pessoa que ele é”. Segundo o historiador, os pais não devem evitar as frustrações da criança e sim deixá-la “ralar os joelhos”, pois “a dor também é educativa”. E por mais que as mães desejem o melhor para os filhos e façam o máximo por eles, Karnal ressaltou que afirmou que isso apenas poderá diminuir alguns riscos mas não significa que terão controle sobre eles e sobre a sua personalidade. “Não esqueçam que Hitler teve uma mãe amorosa.”