Existe diferença entre a maternidade e a paternidade?
Essa foi a pergunta que gerou reflexões profundas em uma roda de conversa de casais grávidos, em que fui o facilitador algumas semanas atrás.
Uma das participantes comentou que na época do isolamento social, ela assistiu ao documentário Distanciamento Social, disponível na Netflix. A princípio, ela disse não ter ficado tão impactada com um dos episódios que mostra a história de uma família (pai, mãe e um filho), cuja mãe adoece de Covid-19 (lembrando que no início da pandemia, não havia vacina e muitas pessoas morreram devido ao vírus) e fica sem a possibilidade de cuidar do filho, ficando os cuidados da criança apenas com o pai. No episódio, o pai relata para a mãe o quanto é difícil cuidar do filho sem a presença dela.
Depois que essa participante ficou grávida, ela comentou que esse episódio atormenta muito suas noites, pois não sabe dizer ao certo se o seu companheiro conseguiria cuidar do bebê sozinho.
Nas rodas de conversa, tento criar o ambiente mais seguro possível para que todas as dúvidas sejam colocadas na roda, a fim de tentarmos esclarecer a maioria delas, porém o ambiente seguro também proporciona momentos não só de dúvidas, mas de conseguir expor medos e angústias, pois estamos lidando com algo super desconhecido para quem está esperando um bebe pela primeira vez.
As questões que ela levantou foi:
— A mãe pode ficar doente? E se a mãe morrer, como fica o bebê?
Todos que já cuidaram de um bebê sabem como esses cuidados podem ser “punk”, porém não podemos negar que entre o bebê e a mãe existe uma conexão muito mais forte do que o bebê e o pai.
Em todas as relações entre filhos e pais a conexão materna é sem dúvida muito mais forte do que a paterna, isso é fato, porém essa conexão que é linda também pode ser um tipo de aprisionamento.
A amamentação pode ser um bom exemplo desse aprisionamento, pois a escolha pela livre demanda também é uma escolha por ter sua disponibilidade de tempo e saúde sempre ligada às necessidades fisiológicas do bebê, ou seja, muitas mães sentem que realmente não podem ficar doentes.
Mas e o pai, onde fica nisso?
Na roda que mencionei acima, muitos pais/homens disseram que iriam participar ativamente tanto do parto quanto do pós-parto. E não duvido que o empenho e a boa vontade sejam verdadeiros, porém uma grande parte dessa realidade não é verdadeira.
Segundo dados extraídos da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE de 2022, 76% dos pais brasileiros afirmam ter participado do pré-natal dos filhos, porém somente 20,2% disseram ter sido incentivados a participar de palestras, rodas de conversas ou cursos sobre cuidados com o bebê. Ou seja, enquanto o bebê está dentro da barriga, a maioria dos homens tem a preocupação com os cuidados à saúde do filho e da mãe, porém após o parto, muitos se sentem despreparados física e emocionalmente com os mesmos cuidados.
Essa estatística alimenta a incerteza de muitas mães sobre quem realmente pode cuidar do bebê.
Quando a resposta dessa pergunta não consegue incluir o pai, na maioria das vezes a obrigação de cuidar do bebê passa a ser exclusivamente da mãe. Nesses casos, a mãe realmente não pode ficar doente!
Como mudar esse cenário
No final das reflexões geradas na roda, comentei que talvez um bom caminho seria se os homens começassem a trocar informações com outros homens sobre os cuidados com o bebê e com a mãe no pós-parto e durante todo primeiro ano de vida, assim poderiam até criar uma rede de apoio de homens/pais.
Para as mães que estão esperando um bebê e sentem essa mesma preocupação, minha sugestão é que comecem a procurar redes de apoio materna. São elas que vão te ajudar e te acolher quando você ficar doente.
Para os homens que estão esperando um bebê, minha sugestão é que comecem a procurar todo tipo de informações sobre os cuidados com o bebê e com a relação familiar. E quem sentir que o processo está ficando pesado, deve procurar redes de apoio paternas. São esses pais que poderão ajudar e acolher quando sua companheira ficar doente. Lembre-se, você é o único responsável pela sua paternidade.
Conheça grupos de apoio à maternidade ativa:
https://maternidadeativa.com.br/
Veja indicações de espaços que reúnem pais para falar sobre a paternidade:
https://lunetas.com.br/experiencias-de-paternidades/
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