Os Estados Unidos deram início à vacinação contra a Covid-19 de bebês a partir dos seis meses de idade. As autoridades de saúde do país permitiram que os imunizantes da Pfizer/BioNTech e da Moderna destinados a essa faixa etária passassem a ser aplicados por todo seu território. Trata-se do primeiro país a incluir os pequenos na campanha de vacinação, em movimento que pode chegar em breve ao Brasil, de acordo com a farmacêutica Pfizer.
Segundo especialistas, a extensão do público-alvo é muito importante, uma vez que as crianças menores também são suscetíveis a formas graves da doença, e mesmo a sequelas como a Covid longa e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), uma consequência que, embora rara, afeta crianças e adolescentes.
“Crianças e adolescentes morrem pela Covid-19 e têm números altíssimos de hospitalização. Achar que isso não é grave não é verdade. A Covid mata hoje mais crianças que a meningite meningocócica, por exemplo, que é uma doença temida por todos. E esses grupos que não têm vacina ainda são os de maior risco hoje por conta da suscetibilidade, já que os demais já estão imunizados“, alerta a médica pediatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai, em entrevista ao jornal O Globo, que fez uma reportagem com as principais dúvidas sobre a vacinação desse público. Confira a seguir.
1. Essas vacinas realmente funcionam para os menores de 5 anos?
De acordo com a Pfizer, as três doses da vacina tiveram uma eficácia preliminar de 80% na prevenção da infecção por Covid-19 entre crianças de 6 meses a 4 anos. Porém, como essa estimativa foi baseada em um número pequeno de casos, a farmacêutica ainda vai monitorar os resultados por mais tempo, com objetivo de definir a proteção real. Além disso, o estudo, que incluiu 1.678 crianças, mostrou que o imunizante é seguro e induz uma resposta imune contra o vírus causador da Covid-19 semelhante às idades mais avançadas.
Já em relação à CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan, localizado em São Paulo, dados de mais de 516.250 crianças entre 3 e 5 anos, de um estudo conduzido no Chile, mostram que a vacina oferece uma proteção de cerca de 65% contra hospitalização e 38% contra infecção pela Covid-19, além de garantir a segurança do imunizante neste público.
2. As vacinas das crianças e dos adultos são as mesmas?
No caso da Pfizer, a dosagem da formulação utilizada hoje no Brasil para crianças de 5 a 11 anos já é menor que a utilizada em adultos. A nova, para bebês a partir de seis meses, é menor ainda, um décimo daquela usada para os mais velhos. Além disso, é aplicada inicialmente já em três doses, sendo as duas primeiras espaçadas em três semanas e a terceira administrada pelo menos oito semanas depois. No caso da CoronaVac, a aplicação é a mesma que a dos mais velhos.
3. Se as crianças podem pegar o vírus mesmo quando vacinadas, então qual é o objetivo de vacinar meu filho pequeno?
Ainda que a Covid-19 ofereça menos riscos para as crianças pequenas, quando comparado aos mais velhos, ela ainda é uma das 10 principais causas de morte em crianças de 4 anos ou menos nos Estados Unidos, segundo a presidente do comitê de doenças infecciosas da Academia Americana de Pediatria, Yvonne Maldonado.
No Brasil, segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, foram 291 óbitos decorrentes da Covid-19 em crianças de até 5 anos apenas em 2022. Desde o início da pandemia, o número ultrapassa 1.400 mortes. Especialistas explicam que o principal benefício da vacina é evitar esses desdobramentos graves, que não são restritos ao óbito.
Alfonso Eduardo Alvarez, pneumologista pediátrico, presidente do Departamento de Pneumologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo, relata que uma pesquisa realizada pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) ajudou a ressaltar a efetividade da vacinação infantil contra o coronavírus na prevenção de casos de SIM-P. Os dados da pesquisa realizada em norte-americanos de 5 a 11 anos comprovaram que a vacinação contra a COVID-19 é capaz de prevenir a síndrome em 91% dos casos.
“A efetividade da vacina na prevenção da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica é um dos vários motivos pelos quais as crianças devem ser vacinadas. Todos os pacientes que necessitaram do suporte de vida no estudo realizado pelo CDC eram pacientes não vacinados. Além de ajudar a evitar complicações da doença, a vacina também é muito importante na prevenção da síndrome”, afirma Alfonso Alvarez.
4. Quais os efeitos colaterais da vacina nas crianças pequenas?
Os dados até agora sugerem que os efeitos colaterais em crianças mais novas são mais leves ainda do que nas mais velhas. Entre as crianças com menos de 5 anos, os efeitos foram do tipo esperado após receber uma vacina, como aumento da agitação, sonolência e dor no local da injeção.
Além disso, no caso da Pfizer, nenhuma criança nos testes desenvolveu a miocardite, uma forma de inflamação do coração que foi observada em um pequeno número de crianças mais velhas e adolescentes. Ainda assim, mesmo nessas faixas etárias superiores, o problema é extremamente raro de ocorrer, não se desdobrou para quadros mais graves e não compromete o custo-benefício da vacina, explica Isabella Ballalai.
Saiba mais sobre a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica
Trata-se de um quadro clínico raro que se manifesta em crianças e adolescentes, de duas a quatro semanas após a contração do coronavírus. A síndrome não está relacionada à gravidade do quadro de coronavírus, podendo aparecer também em crianças e adolescentes que tiveram quadros assintomáticos, moderados ou graves da covid-19.
Ela se caracteriza por uma resposta inflamatória tardia e exacerbada após o contato com o SARS-coV 2, vírus causador da covid-19. Entre seus sintomas estão: febre alta e contínua (de 3 a 5 dias), vermelhidão por todo corpo, dor abdominal ou diarreia, aumento dos linfonodos, edema, dor nas extremidades, conjuntivite bilateral não purulenta, sinais de inflamação com muco e comprometimento cardiovascular. Algumas complicações do quadro também podem resultar no desenvolvimento de vasculite (inflamação dos vasos sanguíneos), miocardite (inflamação no músculo cardíaco) e aneurisma da artéria coronária.
“Existe essa ideia de “agora a Covid-19 é uma gripe”, mas não é assim. A gente vive um aumento da doença e as escolas estão cheias de casos. E hoje muitos não entendem o perigo da doença, deixam de vacinar seus filhos e não incentivam o uso da máscara, o que deixa nós pediatras muito preocupados”, completa Isabella.
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