Criança pode pintar o cabelo? Veja 5 pontos importantes para considerar no processo

Segundo especialistas, é importante tomar cuidados como não descolorir até a raiz, fazer um teste de toque ou até mesmo esperar que a criança atinja uma idade maior

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Cabelo colorido feito por Júlia Zanin. | Imagem: Arquivo pessoal/Júlia Zanin
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A inspiração pode surgir de algum personagem de desenho animado, como uma forma de seguir tendências dos amigos ou simplesmente para se divertir. Independentemente do motivo, pintar o cabelo colorido é a nova sensação entre as crianças.

No caso de Sheron Magalhães, ter o cabelo azul já era uma vontade antiga de seu filho Gustavo, de 10 anos. Um dia, quando estava retocando o próprio cabelo, ela decidiu fazer a experiência. “Ele já tinha dito que queria, olhei para o descolorante, olhei pra ele, perguntei se ele queria, e ele quis. Então, descolori e comprei azul de metileno”, conta. Como não deixou o produto agir por muito tempo, o tom ficou esverdeado, mas Gustavo já gostou do processo apenas por ver a cor diferente dos fios.

Criança com cabelo colorido: o que é importante saber antes de pintar
Depois do azul e verde, Sheron e Gustavo também compartilharam o cabelo ruivo. | Imagem: Arquivo pessoal

Assim como Sheron, Michele Gotelipe passou pela fase dos cabelos coloridos, mas em dose dupla. Sua filha mais velha, Maria Eduarda, tinha 6 anos quando quis pintar o cabelo, e sua irmã, Antonella, com 2 anos à época, também ficou animada com a ideia. “Minha mãe foi cabeleireira, então mexer em cabelo sempre foi algo normal para mim”, explica Michele. Após pesquisar sobre as tintas, ela pintou o cabelo das filhas em casa. “Tomei o cuidado em não ter contato com a pele e fazer numa região onde, se houvesse dano no cabelo, poderia cortar”. A mãe conta que tanto Maria Eduarda, quanto Antonella, hoje com 7 e 3 anos, respectivamente, amaram o cabelo cor de rosa e sempre pedem para pintar novamente.

Criança com cabelo colorido: o que é importante saber antes de pintar
Maria Eduarda e Antonella, filhas de Michele Gotelipe, com o cabelo rosa. | Imagem: Arquivo pessoal

Colorido e saudável?

Ao perceber a vontade dos filhos de ter o cabelo colorido, muitos pais ficam na dúvida sobre permitir ou não o procedimento, ou se sentem inseguros com algum possível dano à saúde das crianças. Essas ressalvas ocorrem pois o cabelo da criança não possui as mesmas características dos fios de um cabelo já adulto. “O fio de cabelo da criança é muito mais delicado do que o do adulto. Ele é mais fino, tem menos cor, em geral, é mais frágil. Então tudo o que for passar no cabelo da criança, apresenta um risco muito maior de provocar queda, ou até uma fragilidade no fio”, explica Juliana Loyola, dermatologista especializada em dermatologia pediátrica.

A médica acrescenta que o próprio couro cabeludo das crianças é mais sensível, então a pele, ao entrar em contato com os produtos, pode ficar com irritação, bolinhas, vermelhidão, coceira e outras questões que tragam desconforto para os pequenos. 

Júlia Zanin, de 22 anos, é formada como cabeleireira desde 2017 e realiza vários trabalhos com cabelos coloridos, inclusive em faixas etárias menores. Ela ressalta que o cabelo de uma criança apresenta diferenças em relação ao cabelo adulto, e requer cuidados especiais. “Antes da puberdade e, principalmente, antes dos sete anos de idade, o cabelo da criança é muito sensível, clareia com o sol e, geralmente, já é mais claro”, explica. Com isso, para preservar a saúde do fio e evitar o contato da criança com produtos com muita química, em vários casos o uso de uma tinta super clareadora já é o suficiente, caso a criança vá passar por algum procedimento nos fios. Ela possui menos amônia do que os produtos para descoloração. “Costuma ser uma opção viável e muito legal para evitar o uso de descolorante e poder manter a saúde mais intacta”, diz Júlia.

Criança com cabelo colorido: o que é importante saber antes de pintar
Cabeleireira Júlia Zanin, do perfil @jubacolorida. | Imagem: Arquivo pessoal

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O que considerar ao pintar o cabelo colorido das crianças?

Nesse contexto, alguns pontos importantes podem ajudar na decisão de pintar ou não o cabelo das crianças, e também a cuidar melhor dos fios e couro cabeludo antes, durante e após o processo. A partir das considerações das profissionais, selecionamos 5 questões para considerar ao lidar com cabelo colorido nos pequenos:

  1. Conhecer mais sobre o procedimento

    Para que os pais e as próprias crianças saibam o que esperar do resultado e possam seguir com a ideia com segurança, é interessante pesquisar e conversar com um profissional para saber os efeitos do procedimento nas crianças, e como ele pode ser feito com mais cuidado. 

    Um cuidado seguido por Júlia Zanin, por exemplo, ao colorir o cabelo de crianças, é evitar o contato dos produtos com a raiz. “A gente pode começar a aplicar perto da raiz geralmente quando a pessoa passa pela puberdade, por volta de 12 ou 13 anos. Assim, o corpo já está mais preparado para receber esse contato da coloração.” Ela pontua que é preciso preservar muito a pele da criança, tanto pela questão de possíveis alergias, quanto porque muitas vezes o corpo absorve os componentes do produto. Juliana Loyola complementa: “A área do couro cabeludo é uma área grande e, eventualmente, alguma substância tóxica, que seja um componente da tintura, pode ser absorvida pelo organismo e causar um efeito sistêmico, não só na região do couro cabeludo e do fio”. Segundo a dermatologista, isso poderá tornar a criança um adolescente ou adulto mais propenso a ter reações alérgicas à produtos como maquiagens e outros cosméticos, pois já houve uma sensibilização durante a infância.

    Assim, ao invés de pintar o cabelo todo, uma boa alternativa pode ser pintar apenas uma mecha, uma região específica, como a nuca, ou as pontas – sempre evitando o contato com a raiz e a pele. Júlia recomenda essas práticas para que também sejam evitados desconfortos para a criança, pois, ao pintar uma grande quantidade de cabelo, é possível que o próprio cheiro dos produtos a incomode, e torne a experiência menos divertida.

  2. Fazer teste de toque e mecha

    Segundo Júlia, o teste de toque e o teste de mecha são imprescindíveis antes de pintar o cabelo. “Em um teste de toque, a gente pega um pouco do produto, coloca uma bolinha pequenininha na parte interna do cotovelo da criança ou atrás da orelha dela, e vê nas próximas 24 ou 48 horas se vai acontecer alguma reação no local”. Pode ser que a criança tenha alergia a algum produto ou componente e os pais ainda não saibam. Assim, segundo a profissional, realizar esse teste com a tinta escolhida antes de aplicar no cabelo poderá prevenir o uso de um produto que agrida a pele da criança, poupando uma irritação.

    Já o teste de mecha avalia tanto se o cabelo está saudável para receber o procedimento, quanto se o fundo de cor está adequado e vai alcançar a cor desejada. Júlia ressalta que, por mais que a questão cor não seja um problema para o cabelo da criança, já que o fio mais fácil de clarear favorece o processo, o teste continua essencial para checar se está tudo certo com o cabelo antes de seguir com a coloração.

  3. Escolher o tipo de produto que será usado

    Para Juliana, escolher com cuidado o tipo de produto que será aplicado é tão importante quanto pensar na idade da criança e outras características dos fios. “Se houver uma decisão da família de que a criança vai pintar o cabelo, a principal preocupação deve ser em relação a que tipo de produto será usado. De preferência, opte por produtos que são destinados às crianças, pois têm menos substâncias químicas agressivas e acabam saindo com a própria água do banho, sem necessidade de nenhum outro tipo de produto, e não fazem um processo permanente no fio. Com isso, eles têm um risco menor de causar irritação e dano”, explica.

    E a recomendação segue também após o procedimento. Ao realizar a pintura do cabelo, Júlia Zanin orienta as mães a buscarem produtos próprios para o cabelo da criança para realizar o tratamento da cor em casa e preservar a saúde dos fios. “Principalmente dos 7 anos para baixo, o PH da pele é mais próximo ao da água, neutro. Então é importante sempre priorizar produtos de PH neutro, como o shampoo neutro, feito para a criança. A grande maioria dos shampoos infantis são sem sulfato, que é algo interessante também para buscar no produto. Isso ajuda a cor a ficar mais tempo também”

  4. Conversar com a criança

    Júlia conta que já atendeu crianças muito novas, abaixo dos 6 anos. Nesses casos, um ponto importante para ser priorizado pelos pais é estabelecer um diálogo com os filhos sobre o procedimento e explicar o que precisa ser feito para pintar o cabelo de outra cor, buscando entender se realmente é a vontade da criança. “Precisa conversar e ver se a criança está disposta a passar por aquilo, porque, por ser muito nova, talvez ela nem entenda o que vai acontecer. Pode ser que ela queira ter um cabelo rosa porque a personagem que ela gosta tem um cabelo rosa, mas às vezes não é um procedimento tão legal pra ela passar, já que demora algumas horas”, explica a profissional.

  5. Cuidar depois de colorir

    Por fim, se a criança pintar o cabelo, é importante lembrar que, após algumas lavagens, a cor passará por um processo de desbotamento, e irá precisar de manutenção. Júlia explica que é possível retocar a cor em casa, com a tinta indicada pelo profissional, mas que o processo requer cuidados além da cor em si. “É uma manutenção fácil, mas precisa cuidar, manter a cor, passar um creme às vezes, e sempre preferir produtos infantis, como máscara, shampoo e condicionador, pela questão do PH ser diferente em relação aos produtos adultos também.”

    Outro procedimento que ajuda na saúde do fio e é uma boa dica para os pais fazerem em casa, segundo Juliana Loyola, é a oleação capilar. “Consiste no uso de óleos vegetais previamente ao banho, em torno de meia hora antes, passando da metade do comprimento do fio para baixo, em direção à ponta. Isso ajuda na umectação, no fechamento da cutícula, e é uma forma de tentar restabelecer a saúde do fio. Esse processo pode ser feito a cada quinze dias”.

Alternativas divertidas podem substituir a pintura do cabelo

Mesmo considerando as formas mais seguras de pintar o cabelo da criança, pode ser que os pais não se sintam confortáveis em deixar os filhos passarem pelo procedimento, ou cheguem à conclusão de que o melhor a fazer é esperar mais alguns anos para uma pintura já no cabelo adulto.

Nesse caso, a criança ainda pode sentir a diversão de estar com o cabelo colorido – mesmo que apenas de forma temporária. Sprays de cabelo à base de água e mechas coloridas de brinquedo são algumas opções fáceis de serem encontradas e não comprometem o fio, pois são facilmente removíveis no banho ou, no caso das mechas, são apenas acessórios.

Com isso, é possível proporcionar à criança o momento de brincar com a cor nos cabelos sem optar por um procedimento mais permanente, caso ainda não seja o momento ideal.


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