Em seu primeiro livro infantil, Cris Guerra fala sobre o mal de engolir o choro

“Falar de sentimentos é fundamental, mas eu não penso que só é importante para as crianças – é importante para todo mundo”, diz a publicitária e escritora Cris Guerra

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O mal de engolir as emoções é tema do novo livro infantil de Cris Guerra (na foto)
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Engolir o choro não é bom para as crianças – nem para os adultos. “Eu sou uma ativista do choro, acho que o choro é curativo, acho que a gente deveria chorar igual a gente faz limpeza de pele, sabe? Com frequência, para que assim a vida possa fluir naturalmente”, opina Cris Guerra, publicitária premiada, blogueira, escritora e ex-colunista da Canguru News, sobre seu primeiro livro infantil, “O menino que engoliu o choro”,  que apresenta a história de um menino que decidiu seguir o conselho do pai e engolir todo e qualquer choro que ameaçasse transbordar. A escritora usa a história para reforçar a importância das crianças expressarem seus sentimentos. “É justamente mergulhando nos sentimentos que a gente consegue levar uma vida bem vivida, vivendo intensamente as tristezas e as alegrias, para a vida não ser um fardo”.

Cris sabe bem do que está falando, porque a vida foi pesada com ela muitas vezes. A mineira estava grávida de sete meses quando ficou viúva: o pai de seu filho morreu aos 38 anos de um infarto fulminante. Nascidas da dor, as cartas que escrevia para o filho desde 2007 emocionaram muita gente e deram origem ao seu primeiro livro, “Para Francisco” (Arx, 2008). Nessa época, ela já havia perdido o pai e a mãe, ambos muito jovens.

A partir daí vieram outros livros, sete no total, entre eles “Moda Intuitiva” (2013) e “Mãe” (2016). Mas o universo infantil ainda é um pouco novo. A decisão de escrever o livro veio antes da pandemia, após ela assistir um documentário chamado “Silêncio dos Homens” , justamente sobre essas amarras. “Me tocou muito ver alguns homens falando que eles não choravam, ou não podiam chorar. Não eu que não soubesse disso, mas pensei muito em uma frase que eu ouvia muito da minha mãe, a quem cabia disciplinar: ‘engole o choro”. E eu fiquei pensando muito em como que seria, de fato, um menino engolir o choro, mas a história não era colocada no papel: ela estava aqui dentro”, conta.


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Durante a pandemia, em 2020, Cris foi escrever um texto de apresentação de um livro infantil de outra autora (‘A Menina que Roubava Travesseiros’, de Barbara Graziela), e aí, como ela mesmo diz, “se viu diante do destinatário criança”. O livro foi sendo construído desde então. “Foi como se eu tivesse me agachado para falar com uma criança”, lembra. “Eu não sou uma escritora de livros infantis, mas essa é uma seara que eu ando querendo navegar”, conta. “Mas acho livros infantis incríveis, e tenho lembranças de livros que li para o Francisco, que lemos juntos, e foram muito significativos para mim”.

As ilustrações do livro, de Elton Caetano, têm um papel fundamental nessa narrativa, segundo a autora. “O livro tem poucas cores, é minimalista, ao mesmo tempo em que é colorido; ele traz muito essa coisa dos sentimentos, e ao longo da história vai mudando de cor”.


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Para crianças e adultos também

No Instagram, Cris Guerra escreveu: “Um livro infantil pra falar sobre a importância de expressar o que sentimos. Um olhar principalmente sobre esse mundo machista que é tóxico para a saúde mental dos próprios homens. Tudo isso, claro, numa história para crianças. Crianças de 2 a 100 anos”.

A escritora ressalta que o livro é para todas as idades contando algo que ocorreu antes mesmo do livro ficar totalmente pronto. Ela mostrou a obra, ainda sem ilustrações, para duas amigas, mãe e filha, ambas psicólogas. “E elas disseram: Cris, como a gente precisa desse livro no consultório, porque está cheio de meninos que engoliram o choro, inclusive meninos de 40, 50 ou 60 anos”, conta. “É um livro infantil, mas é para adultos também, porque a gente traz crianças feridas em nós. E eu acho que, à medida que a gente vai crescendo, essa criança vai com a gente; e ela estando saudável, a gente estará mais saudável também”.


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Autora múltipla

Cris Guerra faz e fez tanta coisa que é até difícil reunir tudo. Ela quebrou paradigmas, desconstruindo a percepção de moda como futilidade e trazendo um novo olhar sobre o comportamento, onde a roupa é ferramenta de autoestima, com o blog “Hoje vou assim”: foi ela a pioneira em postar fotos do ‘look do dia’, prática que hoje se tornou popular. Também escreve mensalmente na revista Vida Simples, comanda o podcast 50 Crises (entre os Top Podcasts de 2020 pelo Spotify Brasil) e segue pioneira, tocando temas importantes como maternidade, moda, protagonismo, saúde mental e combate à discriminação etária, por meio de palestras e participações em eventos de diversos perfis e em suas redes sociais, nas quais conversa com milhares de seguidores.

Que ninguém duvide que livros infantis podem ser ser, sim, sua próxima seara. “E tudo isso foi feito de um jeito muito natural e verdadeiro. Porque se tem uma coisa que eu faço bem, é ser de verdade”, diz. “Hoje, sou lida e ouvida por muito mais gente do que eu ousaria sonhar. Acho que tanta gente se identifica comigo porque todo mundo, de alguma forma, se sente diferente. E esse sentimento de ‘ser diferente’ nos une”.

SERVIÇO
“O Menino que Engoliu o Choro”, de Cris Guerra
Ilustrações: Elton Caetano
Editora Gulliver


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