O fechamento das escolas devido à pandemia prejudicou seriamente a educação em todo o mundo. Diversos estudos, como o do Banco Mundial e outro feito na Universidade Federal de Juiz de Fora, mostram o impacto negativo da crise sanitária na aprendizagem em diferentes níveis de ensino. Nesta quinta-feira (29), foi divulgado mais uma pesquisa nesse sentido, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), revelando que mais de 5 milhões de meninas e meninos não tiveram acesso à educação no Brasil – número semelhante ao que o País tinha no início dos anos 2000. Dentre esses afetados pela exclusão escolar, segundo a entidade, mais de 40% eram crianças de 6 a 10 anos de idade, etapa em que a escolarização estava praticamente universalizada antes da Covid-19. A pesquisa “Cenário da Exclusão Escolar no Brasil – um alerta sobre os impactos da pandemia da Covid-19 na Educação” foi realizada em parceria com o Cenpec Educação.
“Crianças de 6 a 10 anos sem acesso à educação eram exceção no Brasil, antes da pandemia. Essa mudança observada em 2020 pode ter impactos em toda uma geração. São crianças dos anos iniciais do ensino fundamental, fase de alfabetização e outras aprendizagens essenciais às demais etapas escolares. Ciclos de alfabetização incompletos podem acarretar reprovações e abandono escolar. É urgente reabrir as escolas, e mantê-las abertas, em segurança”, defende Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil.
Segundo o relatório, em novembro de 2020, quase 1,5 milhão de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos não frequentavam a escola (remota ou presencialmente). O estudo considerou também como excluídos dos estudos outros 3,7 milhões de alunos que estavam matriculados, mas não tiveram acesso a atividades escolares e não conseguiram se manter aprendendo em casa, somando, no total, 5,1 milhões de jovens, principalmente, em situação mais vulnerável, que tiveram seu direito à educação negado no ano passado.
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Dados do Unicef sobre exclusão escolar na pandemia
Dos 5,1 milhões de meninas e meninos sem acesso à educação em novembro de 2020:
41% tinham de 6 a 10 anos de idade;
27,8% tinham de 11 a 14 anos;
31,2% tinham de 15 a 17 anos.
Regiões do país que mais tiveram crianças de 6 a 17 anos afetadas:
Norte (28,4%)
Nordeste (18,3%)
Sudeste (10,3%)
Centro-Oeste (8,5%)
Sul (5,1%).
O levantamento do Unicef mostra que a exclusão foi maior entre crianças e adolescentes pretos, pardos e indígenas, que correspondem a 69,3% do total de crianças e adolescentes sem acesso à educação.
Para reverter a exclusão, a representante do Unicef no Brasil ressalta a importância de tomar todas as medidas necessárias para que essas crianças possam voltar para a escola. Para tanto, o estudo traz algumas recomendações:
- realizar a busca ativa de crianças e adolescentes que estão fora da escola;
- garantir acesso à internet para todos, em especial os mais vulneráveis;
- realizar campanhas de comunicação comunitária, com foco em retomar as matrículas nas escolas;
- mobilizar as escolas para que enfrentem a exclusão escolar;
- fortalecer o sistema de garantia de direitos para garantir condições às crianças e aos adolescentes para que permaneçam na escola, ou retornem a ela.
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Entre 2016 e 2019, exclusão escolar era maior no Norte e Centro-Oeste
Além de os dados sobre a exclusão escolar na pandemia, o estudo traz ainda uma análise do cenário educacional brasileiro entre 2016 até 2019. Nesse período, o percentual de meninas e meninos de 4 a 17 anos fora da escola no Brasil caiu de 3,9% para 2,7%. As desigualdades, no entanto, permaneciam.
Em 2019, havia quase 1,1 milhão de crianças e adolescentes em idade escolar obrigatória fora da escola no Brasil, sendo:
- 384 mil crianças de 4 e 5 anos
- 629 mil adolescentes de 15 a 17 anos
- 82 mil na faixa etária de 6 a 14 anos
Regiões mais afetadas pela exclusão escolar em crianças e adolescentes de 4 a 17:
- Norte (4,3%)
- Centro-Oeste (3,5%)
- Nordeste e Sul (2,7%)
- Sudeste (2,1%).
Os meninos eram maioria entre quem estava fora da escola nas faixas etárias mais novas. O cenário se invertia quando chegavam ao final da adolescência, em que 50,9% dos que estavam fora da escola eram meninas.
A exclusão era, proporcionalmente, maior nas áreas rurais, em comparação com as urbanas. Ela afetava mais crianças e adolescentes pretos, pardos e indígenas (71,3%), e estava focada nos mais pobres. Do total de meninas e meninos fora da escola em 2019, 61,9% viviam em famílias com renda per capita de até ½ salário mínimo.
As causas da exclusão variavam por faixa etária, mas destacavam-se a falta de vaga para os mais novos e o desinteresse pela escola, aliado à gravidez na adolescência e ao trabalho, para os mais velhos. Motivos relacionados à saúde somente apareciam na faixa etária de 6 a 14 anos, o que pode indicar um alerta um sobre inclusão de crianças com deficiência.
Acesse aqui o estudo do Unicef na íntegra
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