Violência doméstica: pais devem ficar atentos aos sinais que a criança dá

Após repercussão do caso de Henry Borel, Projeto de Lei sobre maus tratos é enviado ao Senado

512
Violência doméstica contra crianças:Menino assustado cobrindo o rosto com as duas mãos
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, desde 2010 ocorreram cerca da 200 casos semelhantes ao de Henry Borel por ano
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais

Por Metro Jornal – Os desdobramentos das investigações da morte de Henry Borel, de apenas 4 anos, possível vítima de violência doméstica gravíssima, chocaram o país neste mês. Inicialmente, os responsáveis afirmaram ter sido um acidente, como se o menino tivesse caído da cama, mas perícias médicas constataram que Henry havia recebido agressões severas. Segundo laudo do IML (Instituto Médico Legal), a criança sofreu 23 lesões externas provocadas por “ações violentas” que resultaram em pelo menos 32 danos corporais na madrugada de 8 de março, dia da sua morte.

Principal suspeito pelo crime, o padrasto da criança e vereador carioca Dr. Jairinho (expulso do Solidariedade) está preso preventivamente desde o dia 8 deste mês. A mãe de Henry, Monique Medeiros, também está detida e é acusada pela polícia de proteger o suposto assassino.

O episódio é exemplo de uma triste realidade no Brasil, que registrou cerca de 103.149 mortes causadas por agressões em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos nos últimos 10 anos. De acordo com levantamento da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), entre 2010 e agosto de 2020, cerca de 2 mil delas tinham menos de 4 anos de idade. No entanto, a morte de Henry poderia ter sido evitada. O menino deu sinais de que estava sofrendo agressões de Jairinho. A criança “sentia medo de tudo” e “vomitava e tremia” ao ver o seu agressor, revelou as investigações.


Leia também: 8 a cada 10 crianças viram ou enfrentaram violência desde o início da pandemia, aponta relatório


E outras crianças podem ser salvas diariamente caso estes sinais sejam observados pelos familiares. A promotora de Justiça Eliane Passareli ressalta a importância de prestar atenção no comportamento delas. “Eles externam suas emoções de várias formas e raramente verbalizam por se sentirem culpados ou de fato ameaçados. As crianças refletem as agressões em comportamentos e sinais como, por exemplo, deixar de falar, tristeza sem motivo, irritabilidade, agressividade, perda de peso, insônia e dificuldade para comer”, explicou a promotora.

Por outro lado, a situação fica ainda mais complicada quando o agressor é da própria família. “Por mais absurdo que seja, os pais, padrastos, tios, irmãos mais velhos e avós são os principais agressores nos casos de violência contra crianças e adolescentes. Eles respondem por mais de 80% dos casos. A quantidade de homicídios é subnotificada, porque os pais que agridem e matam seus próprios filhos registram a causa como um acidente”, afirmou o pediatra e presidente do departamento científico da SBP, Marco Antônio Chaves Gama.


Leia também: Mais de 100 mil crianças e adolescentes foram vítimas fatais de agressões na última década, diz SBP


Pandemia

Especialistas também acreditam que o isolamento social e o fechamento das escolas durante a pandemia do novo coronavírus deixaram crianças e adolescentes mais expostas à violência doméstica. “Na pandemia, os índices de violência seguramente aumentaram, apesar do número de denúncias não ter crescido. As crianças passaram a ficar mais tempo em casa com os agressores e sem muito contato com outras pessoas como pais de amigos, professores e médicos que poderiam notar um comportamento estranho e denunciar”, reforçou o pediatra.

Os profissionais alertam que para combater a violência doméstica contra crianças e adolescentes é essencial informar as pessoas que a prática é grave. Também é necessário ser proativo e denunciar. O conselho tutelar e o MP (Ministério Público) são dois dos órgãos responsáveis por apurar as denúncias. As penas para homicídio doloso – quando tem a intenção de matar – variam entre 12 e 30 anos com o agravante da vítima ter sido uma criança.

Segundo os especialistas, esses crimes tão cruéis independem de classe social e nível de escolaridade. Além disso, podem deixar marcas para o resto da vida. “A violência, quando não mata, traz graves consequências para a vida adulta. Os traumas do início da vida podem resultar em uma variedade de problemas psicológicos como depressão, agressividade, abuso de drogas, problemas de saúde e dificuldade de se relacionar”, conclui o pediatra da SBP.


Leia também: Caso Henry mostra a triste realidade da violência contra a criança: saiba como identificar sinais de agressão


Projeto propõe aumentar pena por maus-tratos

Um projeto de lei que estabelece o aumento de pena para crimes de maus-tratos de crianças, idosos e pessoas com deficiência chega ao Senado nesta semana. A proposta ganhou força diante da repercussão da morte do menino Henry Borel e foi aprovada na Câmara dos Deputados na semana passada.

Pelo texto, podem ser agravadas as penas por expor a vida ou saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia. A pena passa a ser de reclusão de dois a cinco anos. No caso de lesão corporal de natureza grave, reclusão de três a sete anos. Se resultar em morte, oito a 14 anos.

Se o PL for aprovado, as penas para abandono de incapaz podem ser de dois a cinco anos de reclusão. Se do abandono resultar lesão corporal de natureza grave, serão três a sete anos de reclusão. Em caso de morte, pode haver reclusão de oito a 14 anos. A proposta, de autoria do deputado Hélio Lopes (PSL-RJ) e de outros três parlamentares, altera o Código Penal e o Estatuto do Idoso.

De acordo com dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, em 2020 foram cerca de 86,8 mil registros de violações contra crianças ou adolescentes. O número representa um aumento de 14% em relação a 2019. A violência contra idosos também se agravou com a pandemia do coronavírus. Somente nos meses de março a junho de 2020, foram 25.533 denúncias de violência contra idosos, ante 16.039 no mesmo período de 2019. O agressor, na maior parte das ocorrências, é alguém do convívio direto da vítima.


Leia também: Violência contra crianças de até 4 anos: SP, Rio e Curitiba têm piores índice do país


Gostou do nosso conteúdo? Receba o melhor da Canguru News, sempre no último sábado do mês, no seu e-mail.

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor, deixe seu comentário
Seu nome aqui