Se você perguntar a uma criança hoje do que ela sente falta, com certeza muitas vão responder: da escola.
Há mais de um ano, as aulas online passaram a ser a opção para crianças e adolescentes conseguirem estar “dentro” das escolas. Os professores se reinventaram, superaram desafios, desenvolveram habilidades que nem sabiam que tinham.
E as crianças? Será que se adaptaram? E os prejuízos? Como estão emocionalmente? Conseguimos medir os danos? Qual o impacto deste momento para essas crianças no futuro?
Provavelmente essas perguntas já passaram algumas vezes pela nossa mente.
Apesar de saber que todas as crianças estão cansadas desse novo formato de escola, não temos uma resposta única. Principalmente porque cada criança vive essa experiência de uma maneira e isso está diretamente ligado ao seu temperamento.
Já conversamos sobre diferentes temperamentos por aqui, lembram? É como se fosse o tempero da criança, cada uma tem a sua misturinha.
Dos diferentes traços do temperamento que existem, quero chamar a atenção para um deles: a extroversão.
Imaginem que é como um elástico. As crianças que têm alta extroversão possuem um elástico que estica muito, são falantes, sociáveis, expressivas, empolgadas. Já as crianças com baixa extroversão têm um elástico que pouco se estica, são retraídos, tímidos, menos expressivos e se preocupam mais com a tarefa que com a interação com o outro.
Agora visualizem essas duas crianças em uma aula virtual. Qual delas terá mais dificuldade? Qual vai levantar a mão para fazer uma pergunta? Qual falará bem baixinho? Qual sentirá mais ansiedade e desconforto durante os encontros? Qual será mais espontânea com a professora e com os colegas? Qual precisará fazer mais esforço para se adaptar?
Sabemos que o temperamento não define a personalidade de uma criança, mas sim a interação desse temperamento com o ambiente. E há um ano o ambiente não tem sido tão facilitador para as crianças, principalmente para as com baixa extroversão.
É importante lembrar que as crianças desenvolvem habilidades sociais SOCIALIZANDO! Nesse tempo de pandemia elas tiveram poucas oportunidades para isso e muitas delas regrediram no que já conseguiam fazer.
Para as crianças introvertidas, desenvolver essas habilidades requer mais treino, mais oportunidades, mais estímulos do ambiente, mais modelagem feita por um adulto ou até mesmo por outra criança. Elas precisam vivenciar, experimentar, ver que não funciona de um jeito e buscar uma outra forma.
As crianças introvertidas requerem mais ajuda do ambiente, para conseguir, por exemplo, se expressar. Pode ser a professora que abaixa ao lado delas e pergunta se elas têm uma dúvida, o olhar apoiador de um colega, um trabalho em dupla ou em grupo onde podem ver como as outras crianças se expressam, sugerem ideias e emitem opinião.
Ela precisa de mais oportunidades para aprender a interagir, seja na aula de música, no esporte coletivo, na fila da cantina, na aula de artes ou na hora do recreio.
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Não podemos abrir as escolas, então o que podemos fazer?
Se seu filho é mais introvertido, não critique, apoie! Dê exemplos de momentos que você viveu e se sentiu como ele se sente. Faça uma listinha de coisas que ele pode fazer que irão ajudá-lo, como, por exemplo: cantar uma música bem alto, brincar de faz de conta e cada hora ser um personagem, aprender a tocar um instrumento, gravar vídeos e áudios no celular e mandar para os amigos e familiares, treinar formar diferentes de cumprimentar o vizinho no elevador, brincar de mímica, histórias com fantoches…
A ideia é fazer atividades que treinem as habilidades sociais de um jeito divertido.
Provavelmente as crianças introvertidas não vão se tornar adultos super extrovertidos, mas dependendo do caminho que trilharem, enquanto crescem, podem se tornar capazes de expressar e comunicar o que precisam sem ficar se escondendo para sempre atrás da barra da saia da mãe.
Termino aqui com um exemplo de uma criança muito, mas muito introvertida, que desenvolveu boas habilidades sociais ao longo do caminho e assim consegui esticar um pouco mais seu elástico: eu.
Quem me conhece hoje não acredita como fui na infância.
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