Criança na cozinha: prática estimula autonomia e memórias afetivas

Para a chef Ariela Doctors, levar as crianças para a cozinha é uma forma de desenvolver autonomia e boas memórias

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Levar as crianças para a cozinha pode ajudar no desenvolvimento delas; Mulher branca em uma cozinha coando um líquido em uma peneira.
A chef de cozinha Ariela Doctors acredita que cozinhar pode aproximar as crianças da cultura e da família.
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A maioria das pessoas já ouviu a famosa frase de que “cozinha não é lugar de criança”, não é mesmo? No entanto, o que muitos não imaginam, é que cozinhar pode ajudar – e muito – no desenvolvimento dos pequenos. Chamar as crianças para a cozinha ajuda a fortalecer a relação familiar, além de incentivar uma alimentação saudável e consciente. A chef de cozinha Ariela Doctors, idealizadora do projeto Comida e Cultura, reforça a importância de aproximar os pequenos da comida desde a sua origem. “Quando você não conhece a procedência dos alimentos, você cresce dependente das indústrias de alimentos. Por isso, acredito que na cozinha a criança possa entender a origem de todos os alimentos, o que pode gerar a autonomia nela”, argumenta Ariela.

Antes de mais nada, é preciso explicar porque a autonomia é uma característica tão desejada para as crianças. Quando falamos em autonomia, estamos querendo falar sobre crianças responsáveis, que cumprem regras e que conseguem manter um diálogo que transmita suas vontades, mas que também respeite os pedidos dos adultos. “A cozinha é um lugar super apropriado para a criança começar a criar autonomia. Nas casas, todos sempre falam ‘lugar de criança não é na cozinha’, mas muito pelo contrário. Lugar de criança é, sim, na cozinha, claro que com todos os cuidados e acompanhamentos”, explica a chef.

“A cozinha é um lugar super apropriado para a criança começar a criar autonomia. Nas casas, todos sempre falam ‘lugar de criança não é na cozinha’, mas muito pelo contrário. Lugar de criança é, sim, na cozinha, claro que com todos os cuidados e acompanhamentos”, explica a chef Ariela.


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Ao aproximar a criança desse ambiente da casa tão frequentado, você estará colaborando para que ela desenvolva capacidades importantes. Veja a seguir.

Crianças na cozinha: benefícios ao seu desenvolvimento

  • Coordenação motora: aos poucos, a criança começará a desenvolver a coordenação motora necessária para quebrar um ovo sem derrubá-lo fora do pote e a descascar algum alimento sem grandes dificuldades.
  • Responsabilidade: ao demonstrar confiança no seu filho, você gera um senso maior de responsabilidade sobre suas ações.
  • Cooperação: ao se envolver nas tarefas da cozinha, a criança tende a participar mais também dos afazeres domésticos, tornando-se mais cooperativa.
  • Organização: a criança aprenderá que para cozinhar é necessário muita organização e paciência, habilidades indispensáveis para muitos outros momentos da vida.
  • Conhecimento alimentar: ao cozinharem, as crianças têm contato com novos alimentos e texturas, o que pode ajudar a quebrar a barreira que algumas delas têm com ingredientes desconhecidos, favorecendo o consumo dos mesmos.

Conexão com as origens

Envolver a criança nas atividades da cozinha é também uma forma de fazer com que entenda a importância de consumir mais alimentos naturais e menos processados – o que se tornou muito comum hoje. Segundo Ariela, as famílias tendem a comprar mais comida pronta em vez de cozinhar em casa. “Tercerizou-se a educação, a saúde e principalmente a nossa alimentação. É raro você ver pessoas que fazem refeições em casa, as pessoas estão sempre correndo, sempre sem tempo. Nessa vida moderna, você acha que está ganhando tempo comendo fora, mas na verdade você está vivendo pior”, reflete a chef.

Ariela comenta a importância de promover a autonomia da criança na cozinha

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As boas lembranças que as comidas trazem

Quem não tem uma boa lembrança do bolo quentinho que a vó fazia na infância? Ou daquela macarronada que reunia a família no domingo em volta da mesa? Esses bons momentos podem ser classificados como lembranças que as comidas nos causam. “O alimento realmente cria uma memória afetiva dentro da gente desde a primeira infância, desde o aleitamento materno. Essas memórias com o alimento são muito fortes, quando você conversa com adultos, muitos falam do cheiro e do sabor que remetem a lugares e a tempos dentro da vida”, relembra a chef.

“Cozinhar é uma forma de linguagem, à medida que expressa a história de uma família, de um povo.”

Ariela Doctors, chef de cozinha

Para Ariela, ensinar as receitas que passam de geração em geração é uma forma de preservar a cultura familiar. “Cozinhar é uma forma de linguagem, à medida que expressa a história de uma família, de um povo”, diz. A chef explica que a criança se sente pertencente a uma sociedade quando se apropria dela e reforça que “a melhor dieta alimentar para os pequenos é a da sua própria cultura”. Para tanto, é válido manter um caderno de receitas, que traga memórias dos avós e que possa ser preenchido com receitas de pais, filhos e netos, passando de geração em geração. “Ritualizar a comida é muito importante para a memória da criança. Tendo um caderno de receitas você pode sempre anotar novos processos que aprendem juntos”, comenta.


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Como atrair a criança para a cozinha

A chef aconselha começar a chamar as crianças para a cozinha aos poucos, como aos finais de semana, em que, geralmente, tem-se mais tempo. Além disso, também é importante observar o grau de motricidade do seu filho: se ele já consegue segurar objetos, se tem a coordenação para realizar ações mais delicadas e assim por diante.

“Desde pequena a criança já pode começar ajudando na cozinha a misturar ingredientes, a ralar uma cenoura, um queijo, a quebrar um ovo. Muitos pais não deixam a criança chegar perto de um ovo por medo da bagunça, de derrubar no chão. Mas se não começarem desde pequenos, quando chega uma certa idade eles não sabem nem fritar um ovo”, alerta Ariela.

Atividades que podem ser desenvolvidas na cozinha para cada faixa etária

Dos 1 aos 2 anos: é aconselhável trazer as crianças para a cozinha desde cedo, mesmo que a participação delas seja menos ativa no começo. De acordo com a chef Ariela, a partir do 1 e meio a criança já é capaz de peneirar farinhas, o que pode ser um primeiro contato dela com os alimentos e também uma atividade lúdica.

Dos 3 aos 4 anos: já um pouco maiores, eles podem ajudar a espremer e amassar ingredientes, além de também já poderem manusear uma faca sem ponta para cortarem alimentos macios.


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Dos 4 aos 6 anos: agora eles já podem começar a descascar alguns alimentos, ligar e desligar aparelhos e a colocarem os pratos na mesa. Ariela comenta sobre como nesses momentos os pais já podem ir ensinando as crianças a não colocarem a mão dentro de alguns aparelhos, como o liquidificador, e a sempre desligá-los da tomada antes de manuseá-los.

A partir dos 7 anos: se a criança já souber os números, ela pode auxiliar na hora de medir os ingredientes da receita: duas xícaras, três copos, uma colher… Além disso, o pequeno também já pode ajudar na limpeza da louça e da cozinha, por exemplo.

Mão na massa!

Que tal começar a por em prática o que foi discutido aqui na matéria? Ariela separou uma receita deliciosa de bolo de cenoura, ideal para ser preparada por pais e filhos. Aproveite e bom apetite!

Ingredientes para fazer um bolo de cenoura com as crianças:

  • 3 cenouras
  • 4 ovos
  • 1 xícara (chá) de óleo de milho
  • 1 e 1/2 xícara (chá) de açúcar
  • 2 xícaras (chá) de farinha de trigo
  • 1 colher (sopa) de fermento em pó
  • 1 pitada de sal
  • Manteiga e farinha de trigo para untar e polvilhar a fôrma

Modo de fazer
Preaqueça o forno a 180 ºC (temperatura média). Unte uma fôrma redonda de 24 cm de diâmetro e 7 cm de altura com manteiga. Polvilhe com farinha de trigo, chacoalhe e bata sobre a pia para tirar o excesso. Numa tigela, coloque a farinha, o sal e o fermento, passando pela peneira. Misture e reserve. Lave e descasque as cenouras. Descarte a ponta da rama e corte as cenouras em rodelas. Numa tigela pequena, quebre um ovo de cada vez – para verificar se estão bons – e transfira para o liquidificador. Junte as cenouras, o óleo e o açúcar e bata bem até ficar liso, por cerca de 5 minutos.

Junte, aos poucos, a mistura do liquidificador à tigela com os secos, mexendo delicadamente com um batedor de arame, para incorporar. Transfira a massa para a fôrma e leve ao forno para assar por cerca de 50 minutos. Para saber se o bolo está pronto, espete um palito na massa: se sair limpo, pode retirar do forno; caso contrário, deixe por mais alguns minutos, até que assar completamente. Deixe esfriar por 15 minutos antes de desenformar.


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Ingredientes para calda:

  • 1/2 xícara (chá) de chocolate em pó
  • 1/3 de xícara (chá) de açúcar
  • 1 colher (sopa) de manteiga
  • 1/3 de xícara (chá) de água

Modo de preparo
Numa panela pequena junte o chocolate, o açúcar, a manteiga e a água. Leve ao fogo médio e mexa com o batedor de arame até ferver. Depois que começar a ferver, mexa por mais 4 minutos, até a calda engrossar e começar a desgrudar do fundo da panela. Regue a calda quente sobre o bolo frio (já desenformado) e deixe esfriar. Sirva a seguir.


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