No quesito alimentação, 2020 foi um ano de excessos. Afinal, ao ficarmos em casa em tempo integral difícil manter a alimentação controlada, não é mesmo? E isso vale também para as crianças, que passaram boas horas do dia sentadas em frente ao computador, e foram privadas de ir à escola, fazer atividades físicas e ver os amigos, devido à pandemia e às medidas de isolamento social. Como resultado, muitas crianças acabaram descontando na comida suas ansiedades e muitas passaram a comer mais guloseimas – fator que pode comprometer seriamente os hábitos alimentares.
A pediatra Flávia Nassif, do Hospital Sírio Libanês, diz que nos últimos meses tem recebido muitas queixas dos pais sobre a maior ingestão de doces pelas crianças, que estão se alimentando e dormindo mal e praticando menos exercícios. Os pequenos também apresentam problemas como dores de cabeça, nos olhos e nas costas, devido ao uso exagerado de computadores e celulares, segundo relatos dos pais à médica.
“Não é de se estranhar que as queixas sejam essas. As crianças estão mais ociosas, já que estão confinadas e sem poder ir à escola, e acabam descontando o tédio e a ansiedade na comida. Os pais relatam aumento no consumo de guloseimas, ganho de peso e menor atividade física. É um ciclo”, explica Flávia.
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Mudança nos hábitos alimentares
A médica chama a atenção, sobretudo, para o aumento nos casos de obesidade infantil. Algumas pesquisas feitas ao longo da pandemia já apontam uma tendência de piora na alimentação de modo geral entre a população. Um estudo feito na Itália, publicado pelo periódico Obesity, apontou que as crianças têm comido em média uma refeição a mais por dia, além de terem aumentado a ingestão de alimentos ultra-processados como doces, bolachas recheadas e salgadinhos.
No Brasil, uma pesquisa realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostrou que 58% das famílias brasileiras com crianças e adolescentes alteraram os hábitos alimentares durante a pandemia. Destes, 31% passaram a consumir mais alimentos industrializados, como macarrão instantâneo, bolos, biscoitos recheados, achocolatados, alimentos enlatados, refrigerantes e bebidas açucaradas.
Outro estudo, o ConVid Adolescentes, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), indica que o consumo de alimentos não saudáveis, como doces, chocolates, salgadinhos e pratos congelados aumentou nesse período de isolamento social.
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Dicas para melhorar a alimentação dos pequenos
A boa notícia é que existem maneiras práticas de reduzir o consumo de guloseimas no dia a dia das crianças. A pediatra listou algumas delas:
• Mude suas compras: para evitar o consumo de guloseimas em casa, a melhor saída é não comprá-las. Se não houver doces na despensa, as crianças não os comerão.
• Ensine seus filhos a fazer escolhas mais saudáveis: converse com eles sobre a importância dos alimentos nutritivos para o corpo e procure oferecer sempre alternativas aos industrializados. Substitua bolachas recheadas por um bolo caseiro, por exemplo.
• Vá a parques e locais abertos: essa é uma boa forma de fazer uma atividade física e tomar sol. Após tanto tempo em casa, também é importante repor a vitamina D. Mas lembre-se de procurar ir em horários com menos movimento.
• Incentive a atividade física em casa: existem sites e aplicativos como o “Sworkit Kids”, que oferecem treinos rápidos, de 5 a 15 minutos, que ajudam a criançada a se mexer mesmo em espaços fechados como um apartamento.
• Passe mais tempo com as crianças: troque o tempo no celular ou em frente ao computador por jogos em família, rodas de conversa e brincadeiras.
• Divida o dia alimentar em: café da manhã, lanchinho, almoço, lanchinho, jantar e ceia. Para não esquecer, cole o esquema de cardápio na porta da geladeira.
• Programe-se: tenha um cardápio de domingo a segunda para que você possa organizar melhor as compras.
• Prefira sucos de frutas naturais ou em polpa não adoçada: esses são um excelente substituto do refrigerante, porém, lembre-se de consumir menos suco e muito mais água.
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