Ruth Rocha faz 93 anos: ‘A gente precisa conversar com a criança e dar respostas às suas perguntas’ 

A autora de "Marcelo, Marmelo e Martelo" faz aniversário neste sábado, 2 de março; à Canguru, ela falou sobre sua família, livros e hábitos de leitura - os dela e os que devem ser incentivados nas crianças

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Ruth Rocha completa 93 anos em 2024
Ruth Rocha destaca a importância de a criança ter esperança | Crédito: Nagila Rodrigues/Divulgação
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Um dos maiores nomes da literatura infantil brasileira, Ruth Rocha completa 93 anos de idade neste sábado, 2 de março, e apesar da alegria de seus leitores em poder celebrar a data, ela diz não dar muita bola para seus aniversários. “Olha, passar dos 40, 50, 60… Eu não ligo muito para isso, sabe? Agora é inusitado, não é comum chegar a essa idade e é bom, né? Melhor do que não chegar.”  

Embora esteja convalescendo de uma doença, sobre a qual prefere não falar, ela diz estar bem, ainda que um pouco cansada, mas se mostrou disposta a conversar com a Canguru News. Na tarde da última quinta-feira, Ruth atendeu ao telefone fixo pouco depois das 17h. Como de rotina, havia passado uma hora em ligação com sua irmã mais velha Rilda, que diariamente lê para ela.  

“Rende, viu? Já lemos 56 livros desde que começou a pandemia. Sabe o que eu estou lendo agora? Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves. Eu conheci esse livro há muito tempo, mas não o cheguei a ler. Quando veio o Carnaval, que eu vi que a Portela se inspirou nele para seu samba-enredo, eu quis ler”, conta.

As leituras com a irmã ocorrem sempre das quatro às cinco horas da tarde, e outras duas vezes na semana um dos netos vai visitá-la e também lê para ela. “Com ele, acabamos de ler agora um livro do Ítalo Calvino, o Visconde partido ao meio.”

Ruth diz que na família todos os cinco irmãos são apaixonados por livros, graças aos estímulos que recebiam. “Minha casa prezava muito o estudo, a escola, o professor. Tudo isso era muito valorizado. E se conversava muito. Nós tínhamos uma mesa de jantar, e aos sábados e domingos que meu pai ficava em casa, ele conversava, conversava e conversava…” 

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Não por acaso, praticar a conversa é uma das principais dicas que a escritora dá aos pais. Quando questionada quanto a como estimular o hábito da leitura nas crianças, ela responde: “Isso é comprido, viu? Eu acho que a criança precisa gostar da língua, e a gente precisa conversar com a criança e dar resposta às suas perguntas. A gente precisa cantar para ela, recitar e contar histórias. A criança precisa desenvolver uma amizade com a língua. Precisa aprender a ler bem, ser bem alfabetizada, escutar bem, ver bem, enxergar. Precisa ter sossego, em casa barulhenta, a criança não gosta de ler. Precisa ter livros, procurar na biblioteca, pedir emprestado, não precisa comprar, é ter acesso a livro, senão, a criança não gosta de ler”. 

E tem mais, diz ela: “Criança adora imitar adulto. Quando ela brinca de médico, de aviador, de detetive, ela está brincando de ser adulto. Então, se ela vê os pais lendo, esse é um exemplo vigoroso”.  

Para Ruth, as crianças de hoje são mais bem tratadas e têm mais voz que as de antigamente, quando se dizia que “crianças são para serem vistas, não são para serem ouvidas”. Ao mesmo tempo, ela acredita que a criança, seja qual for a época, é a mesma, suas características físicas, fisiológicas, neurológicas são semelhantes. E dá como exemplo o sucesso de venda do livro “Marcelo, Marmelo Martelo”, que para ela indica que as crianças e seus interesses seguem iguais ao longo de décadas.  

O principal, segundo a autora, é que haja esperança.  

“Criança não pode passar sem esperança. Isso é o que leva a gente para a frente, é a certeza de que seremos felizes “. 

Ruth foi eleita membro da Academia Paulista de Letras , em 2008, e já ganhou oito vezes o Prêmio Jabuti, entre tantas outras conquistas. Para ela, seus livros não têm mistério e eles vendem “porque são bons”. Ainda assim, ela dá algumas pistas sobre o sucesso das obras. “Eu acho que o segredo de escrever é ler, e isso vale para qualquer idade. Se eu posso dar um conselho para quem quer escrever é ler, ler e ler”.  

Quando me perguntam o que tem de tão especial no livro Marcelo, Marmelo, Martelo, por ser a minha obra mais vendida há tanto tempo, eu sempre dou uma resposta meio maluca: se eu soubesse, eu fazia outro”, disse entre risos a escritora. O título, lançado em 1976, fala das manias de um garoto que gosta de inventar palavras, e já teve mais de 70 edições e 25 milhões de exemplares vendidos, sendo até adaptado em série para a TV no ano passado. 

No momento, Ruth diz não estar com novos projetos em andamento. Foi lançada este ano a coleção Recontos Bonitinhos, da editora Global, em que ela reconta em versos e poesias contos clássicos como o de Chapeuzinho Vermelho. É o primeiro da série que trará também Cachinhos Dourados, A Lebre e a Tartaruga, A Pequena Polegar e A Roupa Nova do Rei. No ano passado, ela lançou O Grande Livro dos Macacos, produzido em coautoria com a filha Mariana Rocha, da editora Moderna. Há quem diga que pode ser um de seus últimos trabalhos. Mas ela prefere não dar por encerrado: “No momento não estou escrevendo nada, mas eu nunca sei, vai que surge de repente uma ideia boa e sai um livro?” Tomara que sim, ficamos na torcida! 

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