‘Paternidade é dividir os cuidados com os filhos, não apenas pagar as contas da casa’

É papel do pai compartilhar as responsabilidades e enfrentar os desafios da parentalidade junto com a mãe, destaca a psicanalista Bebel Soares

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Pai e mãe brincam com filha nos braços
Muitos homens mudam quando nascem os filhos, muitas vezes, para pior, diz Bebel
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Um casal decide ter um filho, a mulher engravida, durante 40 semanas carrega o bebê no seu ventre. Uma outra vida dentro dela, se alimentando dela. O homem é um espectador assistindo à barriga crescer. A mulher tem enjoos, gases, azia, edemas, fica sem posição para dormir, ganha peso. Quando chega a hora, ela entra em trabalho de parto, sente as dores das contrações, o bebê nasce. Até pouco tempo os pais nem mesmo participavam do momento do parto, ficavam do lado de fora esperando notícias. 

Depois que o bebê nasce, a mãe continua nutrindo-o. Seu leite tem tudo o que a criança precisa nos primeiros meses de vida. E tem as trocas de fralda, o choro, as cólicas, as noites mal dormidas. A passos lentos, os pais têm participado mais dessas etapas da vida dos seus filhos. Mas ainda falta muito. 

Aquele marido ideal, o homem que você escolheu para ser o pai dos seus filhos, de repente sente que não está recebendo a atenção que merece. Sente que você está deixando de cuidar dele para cuidar das crianças. Se esquece que paternidade é dividir os cuidados com os filhos, não é apenas pagar as contas da casa. E quando alguma coisa sai do previsto, aí fica pior. 

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Mesmo aqueles pais dedicados e presentes, às vezes mudam do vinho para a água. Não são poucas as histórias de pais que abandonaram suas famílias, seus filhos, quando esses são diagnosticados com alguma deficiência mais grave. 78% dos pais de crianças com deficiências como autismo ou paralisia cerebral deixam as crianças sob os cuidados da mãe e desaparecem. Muitas vezes, pagam a pensão alimentícia acordada na justiça e acham que estão fazendo mais que a obrigação. Esse abandono paterno custa muito caro. 

Criar uma criança típica não é tarefa fácil, exige muito mais dedicação e tempo. São terapias, tratamentos, médicos. Com o abandono paterno, a sobrecarga materna fica ainda maior. São inúmeros os casos de mães atípicas com depressão, e têm sido recorrentes os casos de suicídio de mães solo. É pesado, a cobrança em cima das mães é enorme. A sociedade precisa mudar para fechar essa conta. Precisamos parar de passar a mão na cabeça dos pais de mídias sociais, aqueles que veem os filhos eventualmente para fazer foto fofinha e postar. Não dá para aceitar homem pedindo redução de pensão alimentícia porque vai ter outro filho com outra mulher. Não existe ex-filho, filho é para sempre. Mesmo quando não foi planejado. Filho a gente ama e cuida apesar de tudo.  

Como mulheres, mães, nós temos nas mãos a oportunidade de criar homens melhores. Criar filhos que se transformem em homens adultos maduros, que vejam suas esposas e seus filhos como pessoas, e não como objetos que podem ser descartados se apresentarem “defeito”. Ser bem-sucedido não é ganhar dinheiro te ter muitos bens, chegar ao topo profissionalmente. Sucesso é saber ser humano, saber dar amor, saber dividir as responsabilidades. Desçam desse paraíso e sejam bem-vindos ao mundo real. A vida não é perfeita, e a perfeição de viver é justamente ter a chance de aprender com as dificuldades. Para os que já fazem isso, adoro vocês, mas saibam, vocês não estão fazendo mais que a obrigação! E a gente adora dividir essas obrigações com vocês, meio a meio!  

*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.

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