37 segundos, disponível no Netflix, é um drama japonês, lançado em 2020, que traz como protagonista uma jovem de 23 anos que tem paralisia cerebral e usa uma cadeira de rodas.
O filme é delicado, profundo e nos leva a inúmeras reflexões a respeito da inclusão e das relações que se estabelecem na família. Ele nos mostra que pessoas com deficiência têm os mesmos anseios de qualquer outro ser humano.
Um primeiro ponto importante trazido pelo roteiro é a questão do capacitismo ‒ preconceito contra as pessoas com deficiência ‒ que acontece dentro da família. Yuma é vista pela própria mãe como incapaz de se cuidar sozinha. A mãe, que se dedica quase exclusivamente à filha, acaba sufocando-a com a superproteção. Mas no decorrer do filme vamos entendendo que essa atitude dela está pautada em traumas e medos do passado.
A jovem desenha super bem, é criativa e sonha em ser reconhecida pelo seu talento de criar mangás. Mas mais uma vez enfrenta o capacitismo, quando sua chefe é quem recebe o reconhecimento pelo trabalho.
O filme também aborda uma questão que é um tabu: a sexualidade das pessoas com deficiência. O abandono paterno é colocado em jogo, ao mostrar um núcleo familiar composto por mãe e filha apenas.
Outro ponto importante que o filme traz e envolve as famílias que têm filhos com deficiência é a questão da dependência e do cuidado. Yuma é uma jovem que, como qualquer outra, quer sair sem a mãe , ter amigos, fazer escolhas e namorar. Em uma das cenas, sua mãe, bem nervosa, grita: “Você não consegue fazer nada sem mim!”. Por medo da mãe, ela começa a mentir e a relação vai ficando tão complicada que a filha acaba rompendo e fugindo de casa para viver outras experiências.
Começa ali uma jornada de autoconhecimento. Ela precisa conhecer melhor o seu corpo, seus gostos, sua história, entender o seu passado, visitar novos lugares, descobrir novas pessoas e explorar o mundo. Essa parte do filme nos faz refletir que pessoas com deficiência precisam encontrar condições favoráveis (as cenas nos mostram que o Japão tem acessibilidade ) para conseguirem trilhar seus próprios caminhos.
Ao querer entender o porquê do abandono paterno, a protagonista decide ir de encontro com a sua história e nesse processo descobre coisas importantes que a fazem compreender a postura da mãe. Isso foi necessário para que ela conseguisse perdoar, acolher e, mesmo com as diferenças, decidir seguir junto numa relação mais respeitosa.
Eu gostei do filme e acho que vale cada um dos 115 minutos de duração por ampliar o nosso repertório. Não se trata de uma história de uma cadeirante que luta contra suas limitações e ao final encontra superação. Mas, ao contrário, nos mostra uma jovem humana, bastante ciente das suas limitações, que passa por experiências boas e ruins como qualquer pessoa e cresce com elas. A paralisia não a define, sua pouca mobilidade não limita seus sonhos. Yuma não se contenta em sobreviver, ela quer e precisa viver.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.
LEIA TAMBÉM: