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Whey e creatina na infância: moda perigosa ou cuidado possível?

Outro dia, ouvi uma mãe comentar na arquibancada: “Meu filho faz esporte todo dia… será que já pode tomar whey?”. Confesso que a pergunta ficou ecoando. Afinal, se até pouco tempo suplemento era coisa de adulto, hoje eles aparecem nas conversas de escola, academia e até no carrinho do supermercado.
A busca por saúde e performance virou tendência. Para você ter uma ideia, a creatina soma hoje mais de 900 mil buscas mensais no Brasil, enquanto o whey protein passa de 470 mil. Mas será que esse universo faz sentido também para crianças e adolescentes?
A resposta curta é: depende. E o “depende” aqui é coisa séria.
Whey protein: pode ou não pode?
Em entrevista ao Canguru News, a nutróloga Juliana Couto Guimarães, da Afya Educação Médica de Montes Claros, explica que o whey protein até pode ser indicado, mas apenas em situações específicas e sempre com orientação profissional.
“O whey deve ser usado como complemento, nunca como substituto de refeições. A quantidade precisa ser calculada considerando peso, idade e gasto energético real”, explica a médica.
Ele pode ser útil, por exemplo, em casos de seletividade alimentar, baixo peso ou quando a criança pratica esportes competitivos, como natação, ginástica ou futebol. Fora isso, comida de verdade continua sendo a base.
E a creatina?
Aqui o cuidado precisa ser redobrado. Segundo um especialista, a creatina não é indicada para crianças com fins de desempenho esportivo.
A Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva recomenda o uso apenas a partir dos 16 anos, e ainda assim com acompanhamento profissional. Em crianças menores, ela só é indicada em situações clínicas muito específicas, como algumas doenças neuromusculares ou metabólicas, e nunca por conta própria.
Os riscos que muitos pais ignoram
Mesmo parecendo inofensivos, os suplementos podem trazer efeitos importantes quando usados sem necessidade ou orientação. A nutróloga lista cinco riscos principais:
1) Sobrecarga nos rins
O consumo excessivo de proteína pode elevar ureia e creatinina. Como os rins ainda estão em desenvolvimento, a sobrecarga pode ser perigosa, especialmente se a criança beber pouca água.
2) Desbalanço nutricional
Substituir refeições por shakes é comum e um erro grave. Isso pode causar anemia por falta de ferro, baixa ingestão de cálcio, prejudicando a saúde óssea, carência de vitaminas e fibras, e crescimento comprometido por ingestão calórica inadequada.
3) Problemas gastrointestinais
Crianças intolerantes à lactose podem apresentar dor abdominal, diarreia e gases ao consumir whey concentrado. Alternativas como whey isolado, hidrolisado ou proteínas vegetais (arroz, ervilha) são mais bem toleradas.
4) Ganho de peso indesejado
Algumas famílias apelam para misturas, como whey + leite integral + pasta de amendoim + achocolatado, criando um shake hipercalórico que aumenta gordura corporal, não massa magra.
5) Risco de produtos adulterados
Suplementos sem certificação podem conter estimulantes, anabolizantes e substâncias proibidas. Para crianças e adolescentes, isso representa um risco ainda maior.
O que toda mãe e todo pai precisa saber
A Agência Nacional de Saúde (ANS) considera a suplementação proteica segura quando respeita a fisiologia infantil e é usada com supervisão. As recomendações variam de acordo com a idade:
- 2,85 g/dia para crianças de 4 a 8 anos
- 7,8 g/dia entre 9 e 18 anos
É fundamental saber que o suplemento nunca substitui comida de verdade, especialmente para crianças em fase de crescimento acelerado. Em casos específicos, quando a suplementação é necessária, ela deve ser sempre personalizada e guiada por profissionais.
No fim das contas, a pergunta não é “meu filho pode tomar?”, mas sim: ele realmente precisa? E essa resposta nunca vem da moda, do rótulo ou da internet. Vem do cuidado, da escuta e da orientação certa.
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