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Você sabe o que os pais millennials estão fazendo que pode mudar o mundo?
Outro dia, no consultório do pediatra, vivi uma daquelas cenas que fazem a gente parar e pensar. Tinham bastante pais com as mães na sala de espera. Pais com bebê no colo, pais revisando a carteirinha de vacinação, pais correndo atrás de criança que decidiu explorar o corredor. E, ali, observando tudo aquilo, caiu a ficha. Tem algo diferente acontecendo. E não é pouca coisa.
Claro que não é prêmio, não é ajuda, não é algo que merece palmas e biscoitos. Cuidar dos filhos é parte do pacote. Mas, se a gente olhar para alguns anos atrás, esse cenário simplesmente não existia. Era exceção absoluta. Hoje, começa a virar paisagem. Pais no parquinho brincando com os filhos. Pais preparando lancheira. Pais aprendendo a fazer penteado. Pais conversando sobre sentimentos. Pais que participam, de verdade.
Os pais dedicam em média 1,62 hora por dia aos filhos
E essa percepção não é só impressão. Vira dado. Um levantamento do Pew Research Center mostrou que os pais millennials estão passando três vezes mais tempo com seus filhos do que os homens das gerações anteriores. Além disso, 57% afirmam que ser pai é parte essencial da própria identidade, praticamente o mesmo índice observado entre as mães. É uma virada de chave gigante na forma como esses homens se enxergam dentro da família.
Segundo o estudo, eles dedicam em média 1,62 hora por dia aos filhos. Não é “estar por perto”. É cuidado real. É participação ativa. Ainda é pouco em comparação com o volume que recai sobre as mães, sim. Mas é muito mais do que já foi um dia. E muitos deles dizem que queriam estar ainda mais presentes, mas esbarram em rotinas de trabalho pouco flexíveis e estruturas que ainda colocam mais expectativas sobre as mulheres.
Filhos de pais participativos são mais emocionalmente seguros
Mesmo com os desafios, a mudança está aí. E ela aparece onde realmente importa: na vida das crianças. Filhos de pais participativos tendem a desenvolver mais segurança emocional, vínculos afetivos mais fortes e habilidades sociais mais elaboradas. E crescer vendo um homem que cuida, que acolhe, que pergunta, que demonstra vulnerabilidade… isso muda absolutamente tudo. Para meninos e para meninas.
E eu vejo isso acontecer ao meu redor. Pais trocando fralda sem que ninguém precise pedir. Pais fazendo dormir depois de um dia exaustivo. Pais que dividem as tarefas, que conversam sobre rotina, que colocam a paternidade como prioridade. Uma construção que nasce no detalhe, no cotidiano, nos gestos que quase nunca aparecem no Instagram, mas que transformam uma família inteira.
As mães ainda continuam sobrecarregadas
É claro que ainda existe um longo caminho. As mães continuam sobrecarregadas. A carga mental segue quase toda nas mãos das mulheres. As estruturas de trabalho não ajudam. Muitos pais querem participar mais, mas ainda não têm condições reais para isso. Mesmo assim, é impossível ignorar o movimento. Ele existe. Ele cresce. Ele é estrutural.
E essa mudança importa porque molda a próxima geração. Quando uma criança cresce vendo um pai que cuida e divide de verdade, ela aprende que cuidado não tem gênero. Que responsabilidade não é tarefa de um só. Que afeto é força, não fraqueza. Que família é parceria, e não ajuda eventual.
E, se por aí o seu parceiro já se encaixa nesse novo tipo de pai, que participa, pergunta, se importa, que delícia, né? Agora, se ele ainda está longe disso, respira. Existe caminho. E você pode ajudar a abrir essa porta, lembrando sempre que pai não “ajuda”: pai divide, compartilha, faz junto.
Algumas atitudes simples já fazem uma diferença enorme no dia a dia:
- Chamar para perto, de verdade, não só para “vigiar” enquanto você faz outra coisa.
- Conversar sobre expectativas e rotina, explicar o que você precisa e ouvir o que ele sente também.
- Distribuir tarefas de forma clara e justa, sem centralizar tudo em você.
- Reconhecer quando ele se envolve, porque incentivo também constrói hábito.
A paternidade presente não nasce pronta; ela se aprende. Se constrói nos detalhes. Nas idas ao parque, nas noites difíceis, nas mochilas preparadas antes da escola, nas conversas que parecem rápidas, mas criam vínculo.
E, no fim, é isso que transforma a infância e transforma também os adultos que essas crianças vão se tornar amanhã. Os pais millennials estão mudando. E, quando eles mudam, o mundo muda um pouquinho junto.
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