Se antes as crianças passavam grande parte de seu tempo brincando na rua, nos parques e mesmo na escola, hoje elas dedicam várias horas de seu dia aos dispositivos eletrônicos – seja para jogar, estudar ou conversar com os amigos. E a pandemia só agravou esse hábito, que quando em excesso pode causar mal à visão dos pequenos. “Com o uso contínuo desses dispositivos muito próximos dos olhos, a musculatura interna do olho tende a fazer mais força do que deveria, causando muito cansaço visual ao longo do dia e podendo até fazer com que a criança passe a enxergar mal, principalmente para longe”, relata o professor Paulo Henrique Oliveira de Lima, coordenador do curso de Óptica e Optometria do Centro Universitário Braz Cubas, em São Paulo. Segundo ele, há pesquisadores que acreditam que o uso excessivo das telas irá causar uma ‘epidemia de miopia’ até 2050.
O professor ressalta que o uso excessivo de telas surgiu muito antes dos celulares e tablets: os millenials – pessoas nascidas entre os anos 1980 até o começo dos anos 2000 – já tinham uma propensão à tecnologia, uma vez que os televisores eram mais acessíveis a essa geração e já havia jogos eletrônicos. “O que antes as crianças se juntavam para jogar videogame na casa de um amigo, hoje não é mais necessário, devido à rede social em torno”, explica. E ele alerta que mesmo crianças com idade mais baixa, até de 2 anos, também estão utilizando as telas em excesso. “Isso pode fazer com que o sistema visual tenha seu desenvolvimento comprometido”, diz.
Como identificar os sintomas do uso excessivo de telas em crianças?
Lima relata que as crianças podem sentir dores de cabeça na região da testa e em torno dos olhos, ardência ocular, coceira e lacrimejamento. “Se os pais, responsáveis ou educadores notarem que a criança costuma coçar muito os olhos ou reclamar de dor de cabeça, podemos ter um quadro de alteração visual causado pelo uso das telas. Outro sinal é a falta de concentração, especialmente quando tenta ler. Isso também pode acometer os adultos, então vale prestar atenção”.
Apesar de grandes impactos é possível tratar esses prejuízos visuais. E o primeiro passo é identificar o problema. Depois de analisar o comportamento visual, testes específicos são feitos a fim de medir a função visual, como o modo que ela lê, o quanto enxerga, movimentação ocular, força muscular, entre outros.
“Após a identificação, é montado um plano terapêutico baseado em resolver o problema e aumentar a performance visual, seja pelo uso de óculos, prismas, exercícios, ou a combinação deles. Assim, o ideal seria os pais levarem seus filhos em idade pré-escolar e escolar para uma avaliação optométrica, de forma que o profissional consiga analisar e identificar alguma alteração de ordem visual que no futuro pode gerar algum prejuízo não somente escolar, mas para a vida cotidiana do cidadão”.
A dica do ’20-20′
Fazer pausas periódicas durante o uso de telas, como smartphones e computadores, é essencial para um bom desempenho visual e prevenção de alterações visuais e oculares. Um bom exercício é o denominado ‘20-20’, em que a pessoa utiliza a tela por 20 minutos, e por 20 segundos olha o mais distante que conseguir pela janela. “A repetição durante o dia, a semana e o mês auxilia na harmonia do sistema visual e pode prevenir os sintomas do uso excessivo de telas”, afirma Lima.
Os tradicionais óculos de grau, quando indicados por um profissional, também podem ser grandes aliados. Eles auxiliam a reduzir os prejuízos causados pelas telas e a enxergar melhor uma determinada distância. O docente acrescenta: há ainda as lentes específicas que ajudam no relaxamento ou estimulação da musculatura dos olhos, melhorando conforto e performance. No mercado também existem lentes que controlam o avanço da miopia infantil. Para adultos, quando não conseguem fazer pausas periódicas, é recomendado uso de óculos para relaxamento da musculatura, evitando, assim, os sintomas.
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