Você conhece o transtorno borderline? Também chamado de transtorno da personalidade ou limítrofe (daí o nome borderline), a condição costuma se manifestar nos adultos por meio de comportamentos exagerados e uma montanha-russa de emoções que provocam, em questão de minutos, sentimentos opostos como os de amor e ódio, alegria e tristeza, levando por vezes a problemas sérios como agressões físicas e automutilação.
Descoberto, no geral, na fase adulta, o transtorno pode ter forte ligação com a infância. “O transtorno borderline muitas vezes começa a se apresentar durante a vida escolar. Na maioria das situações, os adultos diagnosticados com o transtorno descobrem que sofreram algum tipo de evento traumático durante a infância, como abuso emocional e psicológico”, explica o pediatra Fausto Flor Carvalho, presidente do Departamento de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Relações problemáticas entre pai e filho ou entre mãe e filho, situações de negligência, abuso sexual, bullying físico, trauma ou chantagem emocional são possíveis gatilhos para o desenvolvimento do transtorno borderline.
“Em crianças, o transtorno se caracteriza por uma insatisfação contínua com tudo. A criança oscila muito de humor, tem uma tendência maior a fazer birra sem motivos aparentes, eventualmente tem certa agressividade e irritabilidade. Elas possuem um complexo de se sentirem injustiçadas e incompreendidas muito forte. Também vale ressaltar que elas insistem em ter razão nas suas justificativas, em seus argumentos”, relata o psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura Júnior.
Transtorno se confunde com bipolaridade ou autismo
A estudante de fisioterapia Débora Tovazi tem uma irmã com o transtorno, mas a suspeita inicial era de que fosse a bipolaridade. “Lembro muito bem do dia que meus pais me contaram que minha irmã tinha borderline. Não fiquei surpresa quando descobri, nem eles, porque ela sempre manifestou, desde pequena, eram bem fortes os sintomas. Mas foi muito bom sabermos, assim conseguimos ajuda profissional, buscando um norte sobre o que estávamos lidando e uma alguma forma de tratar. Como a gente achava que era bipolaridade, até porque muita gente confunde, ter um diagnóstico correto nos ajudou muito a lidar com ela”, conta Débora Tovazi. O transtorno foi descoberto na irmã quando ela tinha 15 anos. Hoje ela está com 22.
“O mais complicado desse processo todo é saber até onde é borderline e o que é caráter da pessoa. Isso é o que estamos tentando lidar até hoje”, diz Débora Tovazi sobre a irmã, que, depois de confirmado o diagnóstico, passou a tomar remédios, “o que a deixou mais tranquila e, principalmente, menos ansiosa”, avalia Débora.
Inteligência e sensibilidade acima da média
Devido à dificuldade de diagnosticar o transtorno na infância, Fausto Carvalho orienta os pais a ficarem atentos a comportamentos diferentes em seus filhos, e se for o caso, procurarem um especialista, que os ajudará, inclusive, a diferenciar o transtorno borderline da bipolaridade ou mesmo do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Para Wimer Bottura, é fundamental a compreensão do problema pelos pais para ajudar o filho de forma eficaz. “Não adianta que a criança seja tratada sem que os pais saibam lidar com a situação. Muitas vezes, a criança borderline é muito inteligente, muito sensível. Por causa disso, ela percebe coisas que ainda não está preparada para entender. Os pais acabam não percebendo que isso está acontecendo e continuam cometendo os mesmos erros”, pontua o psiquiatra. Ele se refere a “recomendações infelizes” de terceiros, que ao ver a situação de fora creem ser necessário impor mais limites à criança, o que acaba a privando de coisas importantes. “É essencial que entendam que não se trata de colocar limites, se trata de criar vínculos com esses menores. Eles precisam aprender a compreender e se vincular”, destaca ele.
De acordo com Bottura, um diagnóstico realizado com cautela, associado a um tratamento bem estruturado, pode trazer bons resultados para toda família. Em alguns casos pode haver indicação de medicamentos, mas o transtorno é tratado, principalmente, através de diferentes tipos de terapia, como a cognitivo-comportamental, que ajuda o paciente a entender seus comportamentos e desenvolver estratégias para evitá-los.
LEIA TAMBÉM