Tradição da caça ao saci mantém folclore vivo nas crianças

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    A turminha que incentiva o folclore brasileiro, celebrado em 22 de agosto, ensina como podemos resgatar esse personagem em uma aventura tradicional em todo o país

    Por Juliana Sodré

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    Caça ao Saci já é tradição em cidades de Minas, Rio e São Paulo | Fotos: Aline Viana

     

    O saci-pererê é um dos personagens mais carismáticos do folclore brasileiro. As lendas que envolvem o pequeno menino de uma perna só mexem com o imaginário de muitas crianças pelo país. E, para fomentar o folclore, incentivar a leitura e disseminar as lendas do personagem, existe a brincadeira da caça ao saci, que é praticada no Brasil inteiro.

    Em Juiz de Fora (MG), por exemplo, a caça ao saci já é tradição e acontece desde 2012 no parque do Museu Mariano Procópio. Desenvolvido pela Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), o projeto foi vencedor em 2014 do prêmio Ricardo Oiticica de Melhores Práticas de Leitura, tendo sido reconhecido como iniciativa eficaz na difusão de práticas leitoras no Brasil. A realizadora do projeto, Margareth Marinho, que é pedagoga e socióloga, comemora o sucesso da brincadeira, que “traz materialidade às histórias tradicionais”. A caça leva cerca de 40 crianças para procurar o saci pelo parque. E neste ano, acontecerá também no Rio de Janeiro, no Campus da PUC-Rio, no dia 30 de agosto.

    Adelino Benedito, ator que faz o saci escondido pelo parque, conta que o mais interessante da caça é o encantamento, o brilho nos olhos das crianças. “É como se a gente confirmasse aquele imaginário, elas falam que viram o saci, mas não viram. Como o Papai Noel ou o Coelhinho da Páscoa”, diz.

    Na cidade paulista de São Luiz do Paraitinga (a 182 km de São Paulo), a Festa do Saci já é parte do calendário. Mas lá ela não é celebrada no dia do folclore nacional, e sim no dia 31 de outubro, como forma de combater a “invasão” norte-americana da festa das bruxas do Halloween. Neste ano, o evento será entre os dias 27 e 29 de outubro, em três dias de muito gorro e cachimbo. Tem “saciata”, passeios “saciclísticos”, muita festa e fantasia. Toda a farra conta com o apoio da Sosaci, a Sociedade dos Observadores de Saci, que tem como um de seus associados o pesquisador de folclore e cultura popular Andriolli Costa. “Criei o site Colecionador de Saci para reunir o máximo de arquivos sobre as narrativas populares do país. E o saci me acompanha desde a infância”, conta o colecionador.

    Também fica em São Paulo, na cidade de Botucatu (a 199 km da capital), outra associação que fomenta o personagem, a Associação Nacional dos Criadores de Saci. Por lá, é difícil encontrar alguém que nunca tenha visto, brincado ou capturado um saci.

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    Evento explora a imaginação das crianças, que, depois de capturar saci, também resolvem soltá-lo

     

    Como caçar o saci

    Você, leitor, ficou com vontade de caçar um saci com as crianças da família? Você vai precisar de uma peneira com uma cruzeta de madeira nas costas, uma garrafa de vidro e uma rolha. A peneira deve contar com um reforço de madeira em formato de cruzeta e servirá para capturar o saci. A garrafa de vidro é o local ideal para prender o danado. E não se esqueça de pôr a rolha para o saci não fugir! É preciso esperar pelo momento certo. O saci tem superpoderes e aparece e desaparece facilmente. Gosta de ficar em parques e florestas protegendo a natureza e adora pregar uma peça em fazendas e quintais. Em dias de vento forte, procure-o em redemoinhos de poeira e jogue a peneira. A lenda diz que em todo redemoinho mora um saci.

    Não se esqueça de remover o capuz do danadinho. Assim que a peneira segurar o saci, com muito cuidado, levante-a e remova sua carapuça, pois é nela que ele armazena seus poderes. Depois, prenda o saci na garrafa com a rolha. E não se esqueça de fazer uma cruz na rolha para ele não escapar. A captura está feita.

    Na caça ao saci realizada em Juiz de Fora, são formados grupos de crianças que, acompanhadas por monitores, recebem um mapa com diferentes direções a serem seguidas. Pelo caminho, os pequenos caçadores encontram pistas da passagem do saci, como raspas de fumo de rolo, carapuças, cachimbos e pegadas de um só pé, além de armadilhas instaladas ao longo do parque. “Com dó do saci, a criançada anda fazendo a soltura dele também”, compartilha o pesquisador Andriolli Costa. “Vira uma segunda festa, e a cultura vai sendo disseminada”, completa.

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    Quem é o saci?

    Com uma perna só, de meia estatura, um gorro vermelho e um cachimbo na boca. Brincalhão, ele prega travessuras e faz sumir as coisas. O Dossiê Saci, livro organizado pela socióloga e pedagoga Margareth Marinho, explica que são muitas as versões para a origem do saci. No Norte do Brasil, ele é descrito como um menino negro africano que perdeu a perna lutando capoeira. A carapuça, um gorro vermelho, teria vindo da Europa – um gorro que o escravo ganhava quando recebia a liberdade. Essa carapuça deu a ele poderes mágicos, e quem conseguisse pegar seu gorro conseguiria transferir para si os poderes mágicos do saci. Por causa disso, o saci promete tudo para reaver o gorro, inclusive que dará montanha de ouro e até que trará de volta o amor perdido. Trata-se de uma mistura de culturas que deu origem ao garoto, destinado a proteger as florestas.

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