Seus filhos estão dormindo bem na quarentena? Por incrível que pareça, algumas crianças e adolescentes têm conseguido dormir mais e melhor durante a pandemia do novo coronavírus, enquanto outros não estão conseguindo ter um sono tão tranquilo, pois têm dificuldades para se adaptar às mudanças de rotina e sofrem com ansiedade. É o que mostra uma pesquisa realizada na China e publicada no Journal of Sleep Research.
No estudo, pesquisadores investigaram hábitos do sono de 1619 crianças durante a pandemia, quando elas estavam em quarentena havia cerca de um mês. As crianças tinham 4, 5 e 6 anos de idade. Os pais e cuidadores responderam a um questionário e os padrões de sono observados foram comparados a um grupo analisado em 2018. Os resultados mostraram que o grupo da pandemia estava dormindo mais durante a noite do que o grupo de 2018 e dormindo menos durante o dia. Segundo os pesquisadores, “de forma inesperada”, os questionários do grupo da pandemia também relataram menos problemas do sono, como sonolência diurna, despertar noturno, resistência à hora de dormir e ansiedade do sono.
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Zhijun Liu, professor do departamento de psicologia aplicada na Zunyi Medical University e líder do estudo, afirmou ao jornal americano The New York Times que a expectativa era de que os resultados mostrassem que o confinamento teve um impacto negativo no sono das crianças. A hipótese dos pesquisadores para explicar as crianças com menos problemas do sono na pandemia é que vários fatores teriam ajudado a reduzir o estresse dos pequenos: horários mais flexíveis, maior atenção dos pais e um menor “fardo” em relação a tarefas escolares.
Outro padrão observado pelos pesquisadores é que crianças com menos problemas do sono eram de famílias que tinham uma alimentação regrada, uma atmosfera familiar harmoniosa e um aumento na comunicação entre pais e filhos, enquanto as com mais problemas dividiam a cama ou tinham aumentado o tempo de uso de dispositivos eletrônicos.
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O uso desses dispositivos, inclusive, é o inimigo número um do sono segundo Adiaha Spinks-Franklin, pediatra de desenvolvimento comportamental no Children’s Hospital do Texas, principalmente neste momento em que os pais estão relaxando limites. A pediatra ressalta a necessidade de pelo menos uma hora sem telas antes de dormir e recomenda que os pais resistam a todos os argumentos para deixar o celular entrar no quarto da criança à noite, se necessário até mesmo trancando os dispositivos no próprio quarto do casal e dormindo com a chave no pescoço.
Judith Owens, co-diretora de medicina do sono no Children’s Hospital de Boston, nos Estados Unidos, e co-autora do estudo chinês, afirma que é possível observar em seus próprios pacientes tanto efeitos positivos quanto efeitos negativos das mudanças de padrões de sono durante a pandemia. Segundo ela, muitos adolescentes que entravam muito cedo na escola, antes da pandemia começar, agora conseguem dormir muito mais de acordo com seus ritmos circadianos. Ela destaca que a regulação do ritmo circadiano também depende de uma rotina estabelecida, com refeições sempre nos mesmos horários, por exemplo, além de exposição à luz natural e prática de exercícios físicos.
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Na ocasião de retomada das aulas presenciais, alguns hábitos de sono adquiridos durante a pandemia terão que ser abandonados. Mesmo para as crianças que não têm problemas para dormir, por exemplo, mas estão indo para cama e acordando mais tarde, os pais terão que tentar reajustar os horários. Os especialistas recomendam que isso seja feito acordando a criança cada vez mais cedo, não deixando ela passar o dia na cama e não deixando que ela cochile durante o dia. Além de evitar dispositivos eletrônicos uma hora antes de cama, também é possível expor a criança à luz natural da manha, assim que ela acordar.
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