Artigos
O dilema da volta às aulas e o papel do pediatra
Viver em meio a tantas incertezas não tem sido fácil para a maioria das famílias brasileiras. O cérebro humano reconhece a dúvida como uma ameaça e mantém todos os circuitos neuronais relacionados ao stress ativados, dificultando a resolução de problemas simples e tornando a convivência em confinamento o cenário ideal para atritos e desentendimentos.
O novo vírus veio com uma enxurrada de incertezas, interrompendo todas as rotinas e planos já bem estabelecidos para o ano de 2020 e trazendo uma nova realidade à qual temos que nos adaptar. A dúvida paira em todos os aspectos da nossa vida atual e, no que diz respeito às crianças, o impacto que a pandemia está causando será medido ao longo dos próximos anos.
A doença em si não tem sido o grande problema, visto que as taxas de internação e mortalidade na faixa etária pediátrica se mantiveram baixas durante todo o período desde a identificação do novo vírus. E são raros os casos em que a doença se manifesta de forma grave. No entanto, o confinamento domiciliar onde o esgotamento parental é cada vez mais frequente, a privação do contato com familiares e amigos, com a natureza e tantas outras mudanças que a quarentena impôs, certamente deixarão marcas nessa geração.
Leia também: O que a ciência diz sobre os riscos para as crianças na reabertura das escolas
Já há relatórios identificando e quantificando esse impacto: dependência excessiva dos pais, ansiedade e preocupação exagerada, problemas de sono, desconforto e agitação, desatenção, transtornos alimentares (com aumento ou diminuição do apetite), além de prejuízos na socialização e no desenvolvimento físico.
E como se não bastassem todas as preocupações que andam tirando o sono dos pais, recentemente mais uma discussão se impôs: a volta às aulas. A colocação da presidente do Conselho Municipal de Educação da cidade de São Paulo, Rose Neubauer, resume a situação: “Assim como há famílias querendo e precisando que os filhos retornem, há outras muito amedrontadas e elas não podem ser punidas”. E, em diversas localidades do país, a tendência é de que seja decisão da família mandar ou não as suas crianças à escola.
Leia também: Pais poderão optar por não mandar os filhos à escola em São Paulo
O que está sendo proposto é uma retomada gradual das aulas, mas segura, de acordo com os dados epidemiológicos e orientações das autoridades sanitárias competentes. Sendo exigida grande reorganização das estruturas tradicionais dos órgãos públicos e privados que devem formular seus protocolos de biossegurança, baseados em cinco eixos principais: distanciamento, higienização, comunicação, monitoramento e controle.
Além disso, a flexibilização e o ajuste das medidas implementadas devem ocorrer de modo controlado, lento e faseado a fim de evitar efeitos adversos e surtos da doença nas instituições.
Levando-se em conta as consequências da quarentena, a decisão de mandar os filhos para a escola, com oportunidade da retomada gradual das aulas, parece o melhor a se fazer. Mas é mais que compreensível o medo e a insegurança diante de tantas incertezas e da quantidade de informação à qual se tem acesso.
O cenário é complexo e, mais ainda neste momento, a parceria entre saúde e educação se fará necessária.
O que é seguro em termos de saúde pública pode não ser em termos de saúde individual, e uma avaliação do pediatra antes da tomar uma decisão pode ser fundamental nesse processo.
Leia também: Crianças com dislexia: 7 sinais que exigem atenção dos pais
Quer receber mais conteúdos como esse? Clique aqui para assinar a nossa newsletter. É grátis!
Talita Lodi Holtel
Talita Lode Holtel é mãe de Paola e Helena. Pediatra e hebiatra formada pela Unifesp, é especialista em gestão em saúde e coordenadora do Pronto Atendimento Infantil e da Unidade de Internação Pediátrica do Hospital Sepaco (SP), além de Supervisora do Programa de Residência Médica.
VER PERFILAviso de conteúdo
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O site não se responsabiliza pelas opiniões dos autores deste coletivo.
Veja Também
Se o seu filho engasgar, você saberia agir em segundos, de acordo com as novas orientações?
Protocolos internacionais foram atualizados pela primeira vez em décadas e já começaram a ser aplicados no Brasil. Especialistas explicam o...
5 passeios de Natal gratuitos para curtir com as crianças em São Paulo
Luzes, magia, Papai Noel, circo e até patinação no gelo, selecionamos programas deliciosos para entrar no clima natalino com a...
Gripe K e H3N2: o que os pais precisam saber sobre a “nova gripe” que acendeu alerta no mundo
Variante do Influenza já tem primeiro caso identificado no Brasil. Segundo especialistas, a vacinação continua sendo a principal proteção para...
Por que o refluxo atinge quase todas as gestantes (e o que realmente vale a pena fazer)?
Alterações hormonais e o crescimento do útero aumentam o risco de azia e regurgitação. Gastroenterologista ensina medidas simples — e...






