Qual é a melhor maneira de responder às dúvidas dos filhos sobre política

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Por Catarina Ferreira

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Questionadora: A pequena Valentina, de 5 anos, passou a perguntar mais sobre política para a mãe depois do
impeachment da ex-presidente Dilma | Foto: Juliana Frug

 

Assuntos como impeachment, eleições, manifestações e reformas políticas podem parecer muito distantes do universo infantil. Mas se engana quem acredita que os pequenos não estão atentos às discussões que acontecem em reuniões de família ou enquanto os pais assistem ao noticiário.

A pequena Valentina, de 5 anos, por exemplo, aumentou o bombardeio de perguntas para sua mãe, a economista paulistana Kelly Cristina Nascimento, no último ano. “Começou na época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Tina ouvia as pessoas batendo panela, gritando xingamentos, e queria saber o que estava acontecendo”. Debater assuntos políticos em casa é parte da rotina da família, por isso, sempre que surgem dúvidas, Kelly não foge das explicações à filha.

O mesmo acontece na casa da advogada Juliana Guimarães Nogueira, de Belo Horizonte. Ela também costuma assistir ao noticiário junto de seu marido e do filho Daniel, de 4 anos. “Os assuntos políticos sempre aparecem na TV e, apesar de pequeno, Daniel é muito atento. Talvez não tenha compreensão exata do que está sendo falado, mas presta atenção em tudo”, diz Juliana.

O importante é responder às perguntas dos pequenos apenas quando elas forem formuladas, defende a psicóloga Viviane Rossi, graduada pela Universidade Federal de São Carlos. Isso porque as dúvidas surgem de acordo com o amadurecimento das crianças. “Nesse momento de discussões acaloradas, os pais podem acabar se apressando e querendo falar mais do que a criança está pronta para ouvir”, diz ela. Segundo Viviane, o essencial é explicar à criança os fatos, com respostas objetivas que se aproximem do universo que ela conhece.

Uma boa maneira de passar às crianças pequenas alguns conceitos de política é utilizando metáforas, desenhos animados, exemplos da própria casa e jogos infantis. “Qualquer jogo é bem-vindo, já que, tanto em uma partida de xadrez quanto num jogo de futebol, regras devem ser cumpridas para que as pessoas estejam, em sua maioria, de acordo com a situação”, exemplifica a cientista política Daniela Rezende, que tem pós-doutorado pela UFMG. Também é fundamental, diz Daniela, que os pais se informem antes de tentar sanar as dúvidas mais complicadas dos filhos. Se eles perguntam sobre processos de formação de leis ou questões de cidadania, por exemplo, vale consultar sites como os das câmaras municipais antes de responder qualquer coisa.

Discussões na escola

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Em casa e na escola: Thaise se desdobra para responder às dúvidas
da filha, Catarina, 4, e dos alunos na sala de aula | Foto: Leticia Felix

É comum que as escolas abordem noções de cidadania e educação cívica no ciclo infantil, mas poucas tratam da política atual, mesmo em ano de eleições presidenciais. É o que gostaria Anderson Santos, cirurgião dentista e pai das meninas Isabelle, 8 anos, e Isadora, de 5 anos. Morador da cidade de Maricá, região metropolitana do Rio de Janeiro, ele acha que os educadores deveriam abordar temas do noticiário para ajudar os pequenos a compreenderem, pelo menos em parte, o que ouvem nos jornais e incentivar a discussão entre as crianças mais velhas.

A escola onde a blogueira Thaise Pregnolatto leciona redação para alunos do primeiro ciclo do ensino fundamental, na Zona Leste de São Paulo, é uma das que preferem que não se fale sobre a política contemporânea em sala de aula. Mas, quando o assunto surge entre os alunos, ou nas perguntas da filha mais velha, Catarina, 4, ela usa jogo de cintura: “Procuro explicar da maneira mais imparcial que eu consigo, focar sempre em cidadania, nunca falar algo que possa ser visto sob um viés partidário”.

Doutora em ciência política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Íris Gomes sempre quis que seu filho, Gabriel, de 8 anos, estudasse em uma instituição que abordasse tópicos políticos. A escola do filho tinha esse perfil, mas resolveu encerrar completamente as abordagens sobre política depois que os discursos mais extremos se fortaleceram no país, principalmente durante o processo de impeachment de Dilma. Nessa época, as crianças foram proibidas de usar vermelho na escola onde a pequena Valentina estudava. “Um pai parou um aluno na porta da escola por estar com uma roupinha vermelha, que é associada ao PT”, conta Kelly. O aluno tinha pouco mais de 2 anos.

O ideal, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, é ensinar aos pequenos aquilo que nem todos os adultos conseguiram aprender ainda: que é preciso respeitar aqueles que pensam diferente de você. “A política é apenas um dos lados da vida do ser humano. Mostrar que podemos conviver com pessoas de diferentes opiniões é essencial, principalmente quando há o surgimento de discursos de ódio”, diz a psicóloga Viviane Rossi. Ela também defende que crianças não precisam se posicionar politicamente, pois ainda estão em processo de formação e devem ter contato com diferentes pontos de vista. “A criança precisa ser livre, pois no futuro ela pode assumir uma posição diferente da que tem sua família.”

É também o que diz a cientista política Íris Gomes, que chegou a levar o filho para manifestações de rua, mas depois decidiu suspender os assuntos políticos em casa porque percebeu que seu desalento próprio estava afetando o garoto de 8 anos. Como mãe e especialista, ela ressalta que acha interessante a possibilidade de inserir as crianças em discussões políticas desde cedo, uma vez que o assunto é parte constante da vida do cidadão. Mas prefere retomar questões mais complicadas com o filho quando ele for um pouco maior.

 

5 dicas para tratar de política com as crianças

# Não impor o diálogo; responder quando a criança perguntar

# Utilizar metáforas e jogos como exemplo

# Se informar em fontes confiáveis antes de responder às dúvidas mais difíceis

# Mostrar que podemos conviver com pessoas de diferentes opiniões

# Não atribuir ou forçar posicionamento político aos pequenos

Fonte: Cientista política Daniela Rezende, pós-doutora pela UFMG, e psicóloga Viviane Rossi.

 

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