Professor da UFMG fala de riscos do zika vírus na gravidez; leia entrevista

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Campanha Gravidez em Tempos de Zika foi lançada em BH nesta quinta; médico Selmo Geber fala sobre as informações já comprovadas sobre o zika, os boatos que circulam a respeito do vírus e conta que o surto da doença diminuiu

Por Cristina Moreno de Castro

ReproduçãoNesta quinta-feira (15) foi lançada a campanha Gravidez em Tempos de Zika, no Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida, que acontece em Belo Horizonte desde o dia 14 e vai até este sábado (17).

Entre as pautas discutidas, os riscos e formas de prevenção da doença foram abordados, como um tema de interesse para homens e mulheres que desejam ter filhos. Selmo Geber, presidente do congresso, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e médico na Clínica Origen, referência em medicina reprodutiva na América Latina, concedeu uma entrevista à Canguru, falando sobre os objetivos da campanha e esclarecendo algumas dúvidas sobre a doença e sua relação com a gravidez. Confira.

Canguru – Quais as informações científicas já comprovadas sobre o zika e suas consequências em uma gestante e no bebê? Além da microcefalia, noticiamos recentemente casos de perda auditiva nos bebês, por exemplo. Há outros problemas relacionados ao vírus?

Selmo Geber – Existem sequelas neurológicas pequenas descritas em estudos, mas são raras. A mais importante é mesmo a microcefalia. O risco de o bebê nascer com microcefalia após o contato com o zika vírus é de aproximadamente 1%. Apesar disso, o Brasil parece ter um risco maior, que vem sendo investigado pelos especialistas e autoridades. Em 2015, em alguns Estados do Brasil, a incidência descrita ultrapassou os 10%. Até o momento, não se sabe os motivos para essa grande diferença.

É importante destacar também que o risco de microcefalia está relacionado ao primeiro trimestre de gravidez.

Canguru – E quais informações falsas andam circulando, em forma de boatos, gerando alarde desnecessário? Que mitos já podem ser desmentidos em relação ao zika na gravidez?

SG – Existe uma falsa ideia de que todos os casos de zika levam invariavelmente à microcefalia, o que não é verdade. Isso cria o pensamento de que ninguém deve engravidar, de que é perigoso tentar ter filhos agora. O que estamos defendendo com a campanha é que o risco existe, mas não há necessidade de pânico. Se as pessoas estiverem bem informadas, buscarem o acompanhamento médico adequado e souberem como se prevenir da infecção, é possível engravidar nesses “tempos de zika”. 

Canguru – De que maneira os médicos, especialmente os ginecologistas e obstetras, podem se preparar para atender aos anseios das grávidas nesses tempos de zika?

SG – É preciso ouvir esses anseios com atenção, compreendê-los, para saber passar as informações corretas adequadamente. É bom ficar de olho nos estudos que estão sendo publicados, nos boletins do Ministério da Saúde, conversar com os colegas etc.

Canguru – E como os casais podem se prevenir contra o zika?

Foto: Fernanda Carvalho / Fotos PúblicasSG – Até o momento, não existe vacina nem tratamento para zika. Os casais devem evitar o contágio com uso de repelente, não frequentar lugares onde a presença do mosquito é maior, usar roupas que protejam braços e pernas nesses locais e, quando possível, utilizar telas nas janelas, mosquiteiros nas camas e berços e ventilador ou ar condicionado ao dormir.

Como existe a possibilidade de transmissão por via sexual, uma vez que o vírus já foi identificado no líquido seminal, o uso de preservativo é recomendado para impedir essa forma de contaminação, mesmo durante a gravidez. Também é fundamental combater a proliferação do inseto transmissor, impedindo o acúmulo de água parada, conforme recomendado pelo Ministério da Saúde.

Canguru – Afinal, o surto diminuiu? Temos ouvido falar menos do zika e de casos de microcefalia.

SG – Estudos indicam que o surto diminuiu. Uma pesquisa publicada em julho na revista Science sugere que a epidemia já teria atingido o seu ápice e poderia acabar por si só em dois ou três anos. De acordo com esse estudo, o surto atual terminaria devido a um fenômeno chamado “efeito rebanho”: considerando que as pessoas seriam contaminadas pelo zika apenas uma vez, a epidemia atingiria um estágio em que restariam poucas pessoas a serem infectadas.

Os dados podem ser encontrados no último boletim do Ministério da Saúde

Canguru – Há riscos específicos para gestantes que estão em processo de reprodução assistida?

SG – O risco é o mesmo depois da gravidez. Métodos de reprodução assistida, como FIV, não aumentam o risco.

Canguru – Como vai funcionar a campanha Gravidez em Tempos de Zika e qual é o objetivo dela? 

SG – A ideia é produzir materiais informativos que contribuam para a conscientização de todos sobre os reais riscos que a Zika traz para a gravidez. Vamos produzir materiais impressos, como folders e folhetos, e conteúdo online. O site da campanha já está no ar. Temos também um canal no YouTube.

O foco da campanha são homens e mulheres que desejam engravidar. O Congresso Nacional de Reprodução Assistida, onde lançamos oficialmente a campanha, é um evento para médicos, pesquisadores e estudantes. O tema será discutido lá, entre outros, mas os médicos da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida já estão bem informados sobre o tema e podem orientar corretamente seus pacientes.

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