Produção independente: os desafios das mulheres que optaram por esse caminho

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    Conheça os desafios das mulheres que, determinadas a se tornarem mães, optaram pela produção independente

    Por Gabriela Willer

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    Sempre quis ser mãe: Atriz Karina Bacchi recorreu ao método de fertilização in vitro

     

    A maternidade é um sonho para muitas mulheres desde a infância. Para outras, o desejo só aparece lá pelos últimos chamados do relógio biológico. A produção independente é um caminho real para ambas, possibilitando que se tornem mães mesmo sem um parceiro ao lado. Mas essa é uma decisão que precisa ser extremamente planejada e idealizada para que se possa iniciar uma família.

    Foi esse o caminho escolhido pela apresentadora, atriz, modelo, blogueira fitness e, mais recentemente, mãe de Enrico, Karina Bacchi, que sempre quis viver a experiência da maternidade. Ela decidiu engravidar aos 40 anos e optou pela produção independente devido a vários motivos pessoais, entre eles a descoberta da doença hidrossalpinge – o acúmulo de líquido nas trompas que a fez retirá-las, impedindo-a de ter filhos de forma natural –, além do fim de seu casamento. “Eu me vi diante do risco de não realizar o meu sonho de ser mãe, e isso me assustou. Precisei fazer escolhas, com os pés no chão e em pouco tempo”, contou Karina.

    Muito segura de sua decisão e com total apoio dos pais, a paulista recorreu ao método de fertilização in vitro (FIV). Foi em busca de bancos de doadores e acabou escolhendo uma clínica dos Estados Unidos, que oferecem mais informações sobre os possíveis concessores. Depois de muita análise, levou cerca de quatro meses para fazer sua opção. “Minha maior identificação foi com os dados [do doador] em que reconheci traços da minha personalidade. Nas fotos de infância, ele estava sempre muito alegre, com um brilho especial. Queria algo além dos traços físicos”, relata a mamãe de primeira viagem. Karina também preferiu ter Enrico fora do Brasil, por incentivo de familiares que vivem em Miami, garantindo mais uma nacionalidade ao filho, sendo que ela já tem cidadania italiana.

    No exterior, há maior interesse em apresentar as características dos doadores, já que eles recebem pela prática. “São oferecidos dados completos deles, o que inclui um extenso perfil, com histórico médico, testes genéticos e pessoais, além de transcrições de conversas, características físicas, etnia, religião, interesses, talentos e histórico educacional”, explica o médico Armando Hernandez, especialista em endocrinologia e em reprodução assistida do programa Ser Mamãe em Miami, por meio do qual Karina realizou os serviços de pediatria e obstetria.

    No Brasil, o banco de doação é limitado, e as informações se restringem a raça, tipo sanguíneo e fenótipo. Além disso, a comercialização de sêmen é proibida.

    Karina conta que não se sente sozinha e acredita que o filho terá a figura paterna exercida por quem estiver ao seu lado. “Continuo desejando uma família completa, sonho com o casamento tradicional, véu e grinalda, papai, mamãe e quem sabe até um irmãozinho para o Enrico. Meu namorado, Amaury Nunes, faz parte desse plano”, revela a atriz.

    Bettina Boklis_Divulacao_baixa.jpg (350 KB)
    Bettina Boklis escreveu um livro e criou um site para contar
    sua experiência e trazer informações sobre produção independente

    Já a comunicóloga Bettina Boklis viveu a experiência de colocar a estabilidade e a independência financeira à frente dos planos de engravidar. Viagens a trabalho e eventos acabaram retardando a ideia de construir uma família. Após conquistas profissionais, o passo seguinte seria casar-se e ter filhos. No entanto, o relacionamento da época não deu certo, e a carioca, que hoje vive em São Paulo, não abriu mão da vontade de ser mãe. Após completar 41 anos, optou pela produção independente. Passou a ir atrás de informações e de médicos, preparou- -se psicologicamente e levou mais de um ano até realizar o tratamento para engravidar. “Foi a decisão mais difícil que já tomei na vida, mas, ao mesmo tempo, foi o momento em que deixei minha alma sonhar livre, leve e solta. Valeu a pena tudo que fiz; me sinto recompensada por isso”, diz Bettina.

    Para Amanda Ferraz, psicóloga maternoinfantil de Belo Horizonte, o acompanhamento de profissionais da área auxilia na superação de conflitos e propicia apoio emocional, com uma escuta imparcial sobre as angústias e as questões dessa mulher que, naturalmente, vive muitas dúvidas e inseguranças. “É preciso entender as fases do processo e se sentir segura sobre a decisão tomada, duas coisas essenciais para os desenvolvimentos dela, do bebê e da relação que será construída entre mãe e filho”, afirma Amanda.

    A psicóloga cognitivo-comportamental Júlia Louback, também de Belo Horizonte, completa: “Elas precisam avaliar a intensidade do desejo de ser mãe, se preparar para lidar com um possível fracasso no tratamento, entender as mudanças que ocorrerão no corpo durante e após a gestação, além de considerar toda a mudança na rotina, nas relações interpessoais e, claro, nas responsabilidades de gerar e zelar por uma vida”.

    Houve momentos em que Bettina sentiu falta de ter alguém para dividir as decisões relacionadas à criança, mas ela destaca que o mais pesado tem sido os questionamentos da filha sobre o pai, mesmo diante das explicações da mãe. A menina se chama Catharina, está com 4 anos e também recebe atendimento psicológico. Uma das alternativas que a comunicóloga encontrou junto com a psicóloga para lidar com a delicada situação foi escrever o livro Sendo um Sonho, Acontece. “Fiz o livro porque meu discurso já não estava sendo suficiente para que ela pudesse entender a verdade. Meu objetivo foi fazê-la compreender que o pai existe e que ajudou a dar a vida a ela através da ‘sementinha’. E um dia ela também poderá ter um papai do coração que vai dar muito amor e carinho”, analisa Bettina.

    A psicóloga Amanda faz coro e diz que é fundamental ser aberta com o filho, contar sobre a história de vida dele – claro, respeitando sempre a idade da criança. “Dizer aos poucos, em uma linguagem que ele entenda, ajuda no relacionamento entre mãe e filho, e cria-se um laço de confiança e segurança por parte da criança”, complementa Amanda.

    Por considerar a produção independente um ato de amor e coragem, repleto de altos e baixos, Bettina Boklis também criou o site Maternidade Independente, que oferece conteúdo sobre o assunto. “Ser mãe é transformador, eu me sinto realizada. Por isso, fiz o projeto do site, que visa ajudar com informação, apoio e um bom exemplo”, afirma a comunicóloga.

     

    Entrevista

    O que uma futura mamãe de produção independente precisa saber? Dr. Armando E. Hernandez-Rey, especialista em endocrinologia e em reprodução assistida do programa Ser Mamãe em Miami, respondeu às perguntas da Canguru:

    Canguru – Quais as recomendações para quem deseja fazer produção independente?

    Armando Hernandez – Mulheres que procuram doadores de esperma são aconselhadas a escolher um banco de sêmen com boa reputação. Os doadores precisam estar em conformidade com rigorosos padrões e se submeter a uma extensa, completa e ampla avaliação médica, familiar e psicológica.

    E quanto à saúde mental da paciente?

    É aconselhável o acompanhamento psicológico em pacientes que realizam serviços de fertilidade para contornar possíveis problemas como o estresse e a ansiedade causados pela infertilidade. O atendimento individual ou em grupo possibilita estabelecer vínculos com outras pessoas que vivem a mesma experiência.

    Como é o processo de fertilização in vitro? Qualquer mulher pode realizar?

    A fertilização in vitro (FIV) é o processo de reprodução assistida mais efetivo. O procedimento pode ser feito usando os óvulos da própria paciente e o esperma do parceiro ou, também, pode envolver óvulos, esperma ou mesmo embriões de um doador anônimo ou conhecido. Mulheres que buscam a FIV normalmente são diagnosticadas com infertilidade devido a uma causa subjacente ou ao histórico.

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