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‘Precisamos naturalizar a presença dos pais pretos na vida dos filhos’
Já que neste domingo (13) comemoramos o Dia dos Pais, quero aproveitar para falar sobre homens pretos que exercem uma paternidade responsável.
Começo fazendo um breve histórico da origem dessa data: Conta-se que a comemoração surgiu no início do século 20, nos Estados Unidos, quando uma filha decidiu homenagear o pai viúvo, um veterano da Guerra Civil, que criou os seis filhos sozinho após a morte da esposa no último parto.
No Brasil, a data passou a ser celebrada em 1953, e sua criação é atribuída ao publicitário Sylvio Bhering, então diretor do jornal e da rádio O Globo, que viu ali uma oportunidade de atrair anunciantes de produtos para homens.
Inicialmente, o Dia dos Pais era comemorado no dia 16 de agosto, Dia de São Joaquim, pai da Virgem Maria, mas após várias mudanças, passou a ser celebrado sempre no segundo domingo do mês.
Levando em conta que, além da questão comercial, essas datas visam fortalecer os laços familiares, vale refletir sobre o papel e a relevância da figura paterna nos dias atuais.
Se olharmos as estatísticas quanto ao abandono dos pais, chama a atenção o enorme percentual de homens pretos que escolhem não estar presentes na vida dos filhos, o que pode trazer uma série de consequências negativas para o desenvolvimento e a formação dessas crianças.
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Porém, felizmente, vemos um interesse crescente de muitos homens em quererem participar da educação dos filhos e assim contribuir para que se desenvolvam de forma saudável.
A prova disso está em eventos como o Pai Summit, realizado no sábado (05/08), que convidou pais, mães e empresas a se conectarem ao ecossistema do cuidado para discutir a presença ativa dos pais na criação dos filhos.
Tive a honra de participar do evento, mediando uma roda de conversa com pais e mães da platéia, em que falamos dos temas tratados nos painéis, tais como sobrecarga materna, educação antimachista, parentalidade, saúde mental e paternidade ativa, entre outros.
Entretanto, o que mais me emocionou foi a potência dos pais pretos no evento — em um ambiente predominantemente de pessoas brancas —, mostrando o quão importante é naturalizar a presença desses homens na sociedade do cuidado e, principalmente, na vida dos filhos.
Houve um momento em que eles se deram um grande abraço coletivo, promovido pelo mestre de cerimônias, Tadeu França, que lembrou que o evento, por si só, contraria as estatísticas que apontam que homens pretos são brutais, avessos ao afeto e que abandonam seus lares. Não podemos deixar que invisibilizem os pais que vão contra esses dados.
Todos nós podemos promover a conscientização de que os pais também têm de assumir o lugar de cuidado. É possível estabelecer uma família (independentemente de sua formação) e relações paternas com laços fortes e estáveis de ternura. Para isso, é perfeitamente razoável que a sociedade se ocupe da tarefa de proteger a família e sua prole com iniciativas que fomentem a equidade de gênero e naturalizem a convivência entre pais e filhos, tanto no aspecto comunitário, como no institucional.
Sabe aquele ditado africano que diz que é necessário uma aldeia inteira para criar uma criança? Então, é sobre essa partilha de saberes que devemos contribuir para que o tema da paternidade não fique restrito apenas ao mês de agosto e que o “feliz Dia dos Pais” seja feliz para muito mais crianças.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.
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Niltinho Ricardo
Pai preto de quatro filhos: Arthur, Heitor, Gael e Helenna. Também se apresenta como pai de autista, de gêmeos e padrasto da Anna. Fundador da comunidade paterna "The Dad’s Club", mediador de rodas de conversas reflexivas sobre paternidades e masculinidades, idealizador e host do Papo de Pai Podcast, e o coração pulsante por trás do IG @umPAPAIxonado.
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