Toda criança gosta de brincar com as palavras. Apresente a ela uma adivinha, um trocadilho, um trava-língua, um lenga-lenga, e a festa já começou. Nunca encontrei uma criança que não curtisse parlendas, cantigas de roda, cantigas de ninar. Mesmo assim, muitas vezes escuto professores dizendo que não sabem como “trabalhar” poesia em sala de aula. Minha sugestão aos adultos: não trabalhe, apenas saboreie versos e rimas com as crianças. A meninada é criativa por natureza, mergulha fácil na imaginação, na fantasia, na maluquice, na palhaçada, na linguagem. Toda criança é meio — ou muito — poeta. Na coluna deste mês, destaco dois livros de poesia que não me canso de saborear.
QuintalzinhoPenélope Martins é quase novata na literatura. Ótima contadora de histórias — apresentou- se em BH em 2015 e eu fui assistir com meu filho Dedé —, ela publicou três ou quatro livros, por enquanto. Um deles é Quintalzinho, reunião de poemas bem intimistas e coloquiais, que exploram os pequenos momentos de diversão e reflexão na vida das crianças: uma plantinha que brota, um jogo de bola de gude, as brincadeiras e manhas do cotidiano. Tudo visto por meio do olhar e da sensibilidade infantil. Um trechinho para dar água na boca: “Quem disse que assim pequeninas / as menininhas são tão boazinhas? / Quem? / Ah… eles não conhecem menininha / subindo no armário / escorregando na pia / cortando cabelos, azucrinando a cachorrinha.” SOBRE OS AUTORES: Penélope Martins, paulista, é advogada de formação, mas curte a vida como contadora de histórias e escritora. Tati Móes, pernambucana, é ilustradora, artista plástica, designer e professora de artes… |
CasasSe Penélope Martins é uma revelação, Roseana Murray é um dos nomes mais consagrados da nossa poesia. Com dezenas de livros dedicados a crianças e jovens, Roseana já elegeu como temas o céu, os mares, as cores, os jardins, as frutas, as brincadeiras, o circo e quase tudo que a gente consegue imaginar. Os poemas de Casas olham com delicadeza, espanto e uma certa nostalgia para vários tipos de moradia, reais e imaginárias: a casa da avó, a casa do vizinho, a casa mal-assombrada, a casa de antigamente e a do ano 3000, sem esquecer também de quem não tem casa. Deixo aqui a primeira estrofe de um dos poemas mais leves e divertidos: “Na casa do vizinho / a comida é mais gostosa / a mãe é menos chata / tudo tem outro encanto e sabor.” SOBRE OS AUTORES: Roseana Murray, carioca, é uma das escritoras mais premiadas da nossa literatura infantil. Tibúrcio, carioca, é ilustrador, cartunista e quadrinista. |
Leo Cunha é escritor e publicou mais de 50 livros, como Vira-lata (Ed. FTD) eABCenário (Ed.Autêntica). Recebeu os principais prêmios da literatura infantil brasileira, como Jabuti, Nestlé e João-de-Barro. Na Canguru, dá dicas de livros para crianças.