Um estudo inédito recém-divulgado pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, analisou como mães, pais, tios, avós e outros responsáveis atuam em relação aos cuidados e relacionamento com as crianças. A pesquisa “Primeiríssima Infância – Interações: Comportamentos de pais e cuidadores de crianças de 0 a 3 anos“, feita no fim de 2019, ouviu mais 1 mil homens e mulheres de todo o Brasil, de diferentes classes sociais, abrangendo um universo de 1.167 crianças de 0 a 3 anos de idade.
Um dos destaques do mapeamento é quanto ao uso de telas pelos pequenos. Segundo o estudo, 33% das crianças menores de 3 anos assistem a programas ou vídeos na TV, smartphone ou tablet todos os dias, índice que sobe para 36% na faixa etária entre 1 e 2 anos. As informações são d
Para Mariana Luz, CEO da Fundação, esses dados indicam uma distração passiva – quando os pais ou cuidadores permitem o uso de equipamentos eletrônicos por crianças com o objetivo de deixá-las quietas, porque precisam trabalhar ou querem evitar birras, por exemplo – o que pode ser prejudicial ao desenvolvimento dos pequenos.
“O recomendável são atividades de interação entre as crianças – sobretudo na primeiríssima infância (período que vai da gestação aos três anos) em que o cérebro produz novas conexões e neurônios e os impactos da exposição às telas atrapalham esse desenvolvimento”, diz a CEO.
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“É importante procurar estimular as crianças do ponto de vista físico, psíquico e emocional, com atividades lúdicas e que proponham interações entre pais e filhos, diz Mariana Luz.
Ela afirma que a pandemia e as aulas remotas certamente agravaram esse panorama, ainda assim, o ideal, para incentivar um desenvolvimento infantil saudável, é criar alternativas ao isolamento imposto. “É importante procurar estimular as crianças do ponto de vista físico, psíquico e emocional, com atividades lúdicas e que proponham interações entre pais e filhos, diz Mariana. O contato com a natureza, mesmo dentro de um apartamento, a partir da janela, por exemplo, onde a criança pode continuar aprendendo sobre o mundo ao seu redor, também é válido.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que se evite a exposição de crianças menores de 2 anos às telas e que aquelas com idades entre 2 e 5 anos passem no máximo uma hora por dia frente aos eletrônicos, ou duas horas, no caso de crianças de 6 anos, sempre com a supervisão de um adulto.
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Diferenças nas percepções de pais e mães
A pesquisa “Primeiríssima Infância” também observou aspectos como o comportamento dos cuidadores em relação aos filhos, a aprendizagem, os estímulos, as brincadeiras e a formação dos adultos usada nos estímulos às crianças.
A divisão nas tarefas domésticas e cuidados com os filhos é outro destaque da pesquisa, que mostrou que 76% dos homens acreditam estar dividindo mais essas demandas. Porém apenas 54% das mulheres disseram concordam com os parceiros.
A controvérsia entre eles e elas se repete em outros ações de cuidado, como a alimentação e a hora do banho e de dormir. De acordo com as mães, 31% reportaram a participação constante dos pais. Para eles, esse índice sobe para 46%.
Para a psicóloga Juliana Prates, que colaborou com o estudo, os dados da pesquisa revelam uma leitura social importante sobre o fato de a sociedade brasileira reconhecer muito qualquer ação paterna e cobrar muito qualquer “falha” materna, revelando o peso à mulher e mãe. “É importante refletir sobre que tipo de participação do pai é essa nas atividades domésticas, que pode ser entendida como mera ajuda, e não como responsabilização”, avalia.
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Menos palmadas nas crianças
Outro dado que chama a atenção do estudo são os baixos índices de escolha da alternativa “dou umas palmadas” como forma de disciplinar a criança. No máximo 12% dos pais disseram usar esse método em momentos de birra ou desobediência dos filhos. Pesquisas mostram que muitos pais recorrem a essa prática para educar os filhos. No rol das estratégias de disciplina tidas como aceitáveis, o hábito de conversar calmamente com a criança foi citado por entre 24% e 44% dos respondentes, sendo o grupo das classes B2/C (renda familiar média mensal entre R$ 5.600 e R$ 1.700), que mora no Interior o menos adepto a este comportamento e o grupo das classes A/B1 (alta e média-alta) o mais afeito a ele.
Quanto a frequentar ou não um creches, o mapeamento mostra um dado curioso: famílias de maior o poder aquisitivo, que teriam condições de pagar uma escola particular, têm optado pela rede pública de ensino. Nas classes A/B1 , 32% das crianças frequentam creches públicas, contra 29% que vão a escolas privadas. Já nas classes B2/C, esses percentuais são de 33% contra 23%, respectivamente.
A pesquisa “Primeiríssima Infância” mostra ainda que a classe D (renda familiar média mensal: R$ 720) é a que mais aciona os avós da criança, assim como amigos e outros familiares. Porém foi a que demonstrou maior fragilidade na rede de apoio do ponto de vista de diversidade de pessoas com quem contar.
“Para a classe D, aparece a urgência de o Estado intensificar as políticas públicas de atenção à primeira infância voltada às classes mais pobres. Já a classe A/B1 foi a que compareceu com a rede de apoio mais ampla, incluindo, em 10% dos casos, a presença da contribuição terceirizada de uma babá. Esses dados são preocupantes”, pontua Mariana Luz.
Leia na íntegra o estudo “Primeiríssima Infância – Interações: Comportamentos de pais e cuidadores de crianças de 0 a 3 anos”.
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