Corria o ano de 2015 quando lancei o meu primeiro livro, o “Crianças Felizes”. Nessa altura, convidei uma amiga minha, médica de medicina geral e da família e uma pedopsiquiatra para me acompanharem na apresentação. É um hábito que temos em Portugal – há sempre alguém que fala do livro, antes do editor e do autor.
A Ana, que é minha amiga há anos (mas tem dias que acho que é desde sempre), disse, cheia de sabedoria, que ser mãe ou pai é uma espécie de profissão de desgaste rápido. E eu acrescento: de desgaste continuo.
A natureza é sábia e nos torna ignorantes e crentes na altura em que planejamos ter filhos: achamos, sempre, que o que acontece com os outros não acontecerá conosco – os estresses, as birras e inúmeros desafios que a parentalidade nos traz. Ainda bem que assim é, caso contrário, a extinção da espécie já teria acontecido. Recordo-me quando, numa ação de preparação para o parto, que muitos frequentamos antes do bebê nascer, eu falava sobre isso para mães e pais grávidos e não via qualquer tipo de reação neles. Não tomavam notas, não se envolviam como eu estava habituada a ver nas partilhas com grupos de pais de filhos grandes ou pequenos. Então, percebi. Parei de falar, sorri e perguntei-lhes:
– Vocês acham mesmo que isto não vai acontecer com vocês, não é?
As pessoas riram e acenaram que sim.
A primeira preocupação que os pais costumam ter são os cuidados primários e a sobrevivência do recém-nascido. Muitos de nós não lidamos nem cuidamos de pessoas tão pequeninas e dependentes de nós, antes. Nesse momento, pedi-lhes que tomassem notas e que depois as guardassem numa das gavetas do quarto do bebê. Quem sabe nunca viessem a ser necessárias; quem sabe se não se tornariam preciosas.
Dois anos depois, fui contactada por três casais desse grupo – as notas foram preciosas, mas já não eram suficientes. É quase sempre assim: pelo bem e manutenção da espécie!
Tenho uma frase que digo com imensa frequência. “A parentalidade é uma espécie de fermento: coloca-nos em contato com o melhor e com o pior de nós.” Lidar com essas emoções intensas e frequentes nem sempre é fácil, mas podemos aprender. Na verdade, a parentalidade, como o próprio nome diz, não é acerca da criança, mas dos pais.
Vale a pena aprofundar os estudos e as leituras acerca do tema – mesmo quando acreditamos que isso nunca vai acontecer conosco.
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