Pai de menina: conheça as experiências que ilustram essa forte conexão

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A psicologia e a sociologia já se debruçaram sobre o elo entre homens e suas filhas, mas nada como a experiência individual para ilustrar a forte conexão entre um pai e sua menininha

Por Sabrina Abreu

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Klauss gostou tanto da experiência com a filhota Nina, 3, que torceu por uma segunda filha | Foto: Moacyr Lopes Junior / Malagueta

 

Guillermo Kahlo (1871-1941) era um fotógrafo apaixonado por imagens de pessoas. Fotos de si mesmo, da família e de amigos eram sua preferência quando pegava a câmera em busca de mais um clique. Não por coincidência, uma de suas filhas, Frida (1907-1954), foi imortalizada por pintar retratos e, especialmente, autorretratos. Nos diários, nas cartas e nas entrevistas da pintora mexicana, que é uma das artistas mais influentes de todos os tempos, há pistas do relacionamento próximo que ela teve com Guillermo e de como a profissão e a presença paterna tiveram impacto em seu processo criativo, suas obras e sua vida.

“Segundo a psicologia clássica do desenvolvimento, o pai é o responsável por possibilitar à criança a abertura para o mundo”, explica a psicóloga clínica Bettina Schaefer. Após o nascimento, durante a lactação e os primeiros anos de vida, a mãe e o bebê formam um núcleo que parece impenetrável. Mas é o pai quem consegue, a certa altura, furar o cerco. Introduzido na relação, ele amplia a percepção e a vivência do rebento, sinalizando que há “algo mais” para além do corpo e do conforto maternal.

Para o sociólogo e jornalista Amaro Grassi, 32 anos, a tarefa de ampliar o horizonte de sua filha inclui o cuidado em evitar os estereótipos de menina. “Desde a escolha do enxoval, não quisemos comprar tudo rosa, rosa, rosa, porque parece que isso vai sendo imposto desde o início, e não queríamos limitá-la”, conta. Martina, hoje com 2 anos, teve o quarto e as roupas com tons neutros e brinquedos como animais e outros objetos de temática infantil que não se associam apenas a um gênero. “A tentativa é ir mostrando a ela, sem exageros, várias possibilidades. Depois, ela que escolha do que gosta mais”, diz.

Gaúcho, Grassi é casado com a pernambucana Giulliana Bianconi, e o casal vive no Rio. Juntos, os dois encaram com naturalidade o fato de presentes de amigos e a influência das amiguinhas acabarem por adicionar uma dose extra de cor-de-rosa à vida de Martina. “Também não vamos tolher. Se ela gostar, se ela quiser se vestir de princesa ou se identificar com o universo tradicionalmente feminino, claro que vamos deixar. O importante é não frustrá-la nesse sentido”, compara.

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Sem estereótipos: sociólogo Amaro Grassi não quis limitar
a filha, Martina, 2, ao universo cor-de-rosa | Foto: arquivo pessoal

Depois de muito ouvir sobre a proximidade entre pai e filha, o designer Klauss Bernhoeft, carioca residente em São Paulo, se viu torcendo para que viesse uma menina quando soube que sua mulher, Carolina Eitelberg, estava grávida. Nina nasceu há três anos. Há um mês, o casal ganhou Jonas. A identificação entre pai e filha foi tão grande que, na segunda gestação, Bernhoeft chegou a torcer de novo por outra menina. “Mas claro que, quando vi que seria um menino, foi tão maravilhoso quanto, muito bom ter um casalzinho”, faz questão de frisar.

Assim como Grassi, Bernhoeft optou por não impor a Nina os padrões que, quando ele era criança, eram tão comuns. Na época, era normal achar que menina brincava apenas de boneca e gostava de rosa, que menino preferia azul e carrinhos, mas a busca por uma sociedade com mais liberdade para ambos os gêneros fez os pais da nova geração desconstruírem certos conceitos.

“Numa festa junina, ela tinha direito a um brinde na pescaria, e eu falei para ela escolher entre as opções disponíveis. Tinha, sim, uma boneca, mas ela quis o carrinho. Tudo bem, dei o carrinho para ela. Em casa, ela gosta de brincar com os dois tipos de brinquedo. Não existe razão para ser diferente, está tudo certo”, resume Bernhoeft.

Pais que se deliciam com a vinda de uma menininha podem ser considerados uma novidade na linha do tempo da sociedade. Não é à toa que aquele diálogo famoso do filme O Poderoso Chefão (1972) ecoa por décadas: “Que seu primeiro filho seja um filho homem”. A resposta para essa preferência está enraizada em sistemas de poder e status social. “O primogênito homem é a garantia da sobrevivência do sobrenome do pai”, esclarece Ana Lúcia Modesto, professora do departamento de Sociologia da UFMG. “Para os romanos e outros povos, é uma promessa de eternidade. Passado e futuro estão a salvo pelo nascimento de um bebê do sexo masculino”, completa.

A especialista acredita que, enquanto vivermos numa sociedade machista, a tendência de valorizar o gênero masculino em detrimento do feminino deve permanecer. Mas pais de uma nova geração, da qual Amaro e Klaus fazem parte, querem contribuir para a transformação da sociedade. “A chegada da minha filha me tornou mais sensível a essas questões e me fez ficar atento ao machismo que existe em mim mesmo e ao redor, para tentar mudar isso”, conclui o pai de Nina.

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