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O xixi na cama não passou. E agora?

Por Karoline Barreto – Se seu filho tem mais de 5 anos de idade e ainda molha os lençóis com frequência, é sinal de que ele sofre de enurese noturna. Quando não tratado, esse problema pode persistir por um longo período e até chegar à fase adulta. Aos 2 anos, a criança começa o processo de controle diurno do xixi, o que pode durar mais ou menos tempo, dependendo do ritmo de cada uma. Normalmente, até os 5 anos de idade, é esperado que o controle noturno também esteja desenvolvido.
Depois dessa fase, se houver algum problema, é importante discutir com o pediatra sobre a necessidade de intervenção ou encaminhamento para um nefrologista, o médico especialista no sistema urinário. Há casos em que é preciso um tratamento mais complexo e a demora para procurar um nefrologista pode retardar a solução do problema.
Foi o que aconteceu com a cuidadora de idosos Marcia Rodrigues, que busca ajuda para seu filho, hoje com 13 anos, desde que ele tinha 5 anos de idade. Mas só agora ela conseguiu o atendimento de uma nefrologista pelo SUS e tem esperança de que a enurese do adolescente seja finalmente solucionada. “Já ouvi de médicos que meu filho não tinha vontade de melhorar. Mas sei que não é culpa dele e que ele precisa de ajuda.”
Nefrologista pediátrica e professora da UFMG, Eleonora Moreira Lima concorda: “A criança deve saber que esse momento de descontrole é uma condição comum e nem ela nem os pais têm culpa”. Segundo a médica, a indicação de tratamento depende da idade da criança e do fator responsável pelo distúrbio, mas geralmente é recomendado que se inicie após os 6 anos. Um tipo de tratamento que vem apresentando resultado é o alarme noturno, que alcança a cura em dois terços dos casos. Trata-se de um aparelho com sensor e sinal sonoro que dispara quando a criança inicia a micção à noite, condicionando o despertar. Também há medicamentos, mas, segundo Eleonora, eles têm potencial curativo mais baixo e a doença pode reaparecer com o tempo.
Um problema genético e emocional
Há diversos fatores associados ao problema, como variação do hormônio antidiurético; problemas para despertar quando a bexiga está cheia; déficit da região do cérebro responsável pelo controle da eliminação da urina e hiperatividade noturna do músculo da parede da bexiga. Uma das principais explicações para que uma criança faça xixi na cama por mais tempo é a genética. “A enurese é um distúrbio de maturação do sistema nervoso central geneticamente determinado. Por isso, 70% a 80% dos casos são genéticos, e a criança tem 40% de probabilidade de desenvolver o distúrbio se um dos pais foi enurético e 70% quando ambos forem”, diz Eleonora.
O fator emocional também contribui para o problema. O pediatra Magno Veras relata que há casos em que a criança já controla a micção e depois perde esse controle por causa de problemas emocionais, como o nascimento de um irmão ou conflitos entre seus pais. A presença de distúrbios dessa ordem pode comprometer a cura. Cerca de 20% a 30% de crianças com enurese monossintomática (veja o glossário) e 20% a 40% daquelas com enurese não monossintomática sofrem de distúrbios comportamentais e emocionais que devem ser investigados.
Eleonora explica que algumas doenças psíquicas podem estar associadas à enurese, sendo a mais comum o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. As crianças acometidas podem apresentar outros problemas emocionais, como ansiedade, angústia, baixa autoestima e comprometimento da qualidade de vida. “É necessária uma avaliação clínica detalhada e, se detectado algum distúrbio emocional, a criança deve ser encaminhada para a avaliação do profissional de saúde mental”, orienta a médica.
Canguru News
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