O desafio, para mães e pais, de ficar sem fazer nada

Para quem vive sobrecarregado com inúmeras demandas da casa, dos filhos e do trabalho, pensar em si mesmo e curtir o ócio pode ser bem difícil

242
Mulher se espreguiça no sofá, remetendo ao conceito de não fazer nada
Não precisamos ser mãe ou pai 24 horas por dia
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais

Você já ouviu falar da expressão “Il dolce far niente”?

Quem já assistiu o filme “Comer, Rezar e Amar” deve se lembrar da cena em que um italiano explica para a personagem interpretada pela atriz Julia Roberts o que significa essa expressão, aliás essa é uma das partes que eu mais adoro no filme, mas vou deixar a explicação do porquê eu adoro mais para frente.

A expressão “Il dolce far niente” significa ao pé da letra:

O doce fazer nada.

Mas por que o texto de hoje é sobre uma expressão italiana?

Na Itália é muito comum valorizar os momentos de ócio, assim como os momentos de produtividade, ou seja, um completa o outro.

Agora pegue essa expressão e tente enquadrar dentro da sua maternidade ou paternidade. Sim, é por isso que a expressão faz parte do texto de hoje.

Eu, assim como a maioria dos pais, sabemos que momentos de ócio dentro do cotidiano de trabalho, função com os filhos, atenção à casa, cuidados com o relacionamento do casal e ainda por cima um final de pandemia são “talvez” privilégios que temos em pouquíssimos momentos.

Você acredita que ter um tempo para curtir o “fazer nada” é algo benéfico? Você saberia curtir o “fazer nada”?

Estas foram as duas perguntas de uma pesquisa realizada pelo site Forbes em 2020, com 23 empresas e mais de 3000 trabalhadores entrevistados (entre eles, 68% eram pais e mães). O estudo revelou que a maioria acredita ser super benéfico ter um tempo para “não fazer nada”, porém na mesma pesquisa mais de 80% dos entrevistados associam o “fazer nada” a simplesmente dormir.

Isso me traz uma reflexão, você saberia curtir “Il dolce far niente”?

O ser humano moderno desenvolveu a capacidade de absorver informações em tempo recorde – recursos como os stories, usados em redes sociais, duram somente 30 segundos. Aprendeu também a raciocinar cada vez mais rápido e projetar problemas em uma escala muito maior do que são. Sem falar dos dois presentes que levamos de brinde, criados por uma sociedade mega produtiva: estou falando da culpa e da vergonha.

Esses são fatores que contribuem muito para um desgaste mental, ainda mais quando juntamos tudo isso com as diversas transformações que a maternidade / paternidade trazem.

Não é à toa que muitas famílias se perdem no meio de tantas demandas, e aqueles momentos onde o “fazer nada”, que era muuuuuuito mais fácil criar, quando era somente o indivíduo, passa a ser algo inatingível quando o indivíduo já não existe mais.

Isso porque eu nem estou mencionando o desgaste da carga mental materna, que muitas vezes é desumano, e onde a mulher precisa desenvolver uma força interna muito grande para não surtar.

O ponto que observo de maior complexidade para saber realmente curtir o “fazer nada” é a re-conexão com seu indivíduo, e sabe por que digo que esse é um ponto extremamente complexo?

Porque depois que nos tornamos pais, muitas vezes perdemos a referência do indivíduo que nós éramos.

Então, voltando ao início do texto, onde comentei que iria explicar porque adoro a parte do filme onde a protagonista cria seu “Il dolce far niente”, é porque exatamente neste momento do filme ela começa a perceber que o indivíduo que mora dentro dela, precisa ser cuidado e ter seu espaço.

Em muitos momentos da nossa vida de pais e pessoas produtivas precisamos do “fazer nada” para simplesmente lembrar que não precisamos ser mãe ou pai 24 horas e nem precisamos ser produtivos se não quisermos. Talvez, a única coisa que precisamos é ser nós mesmos de vez em quando.


LEIA TAMBÉM:


Gostou do nosso conteúdo? Receba o melhor da Canguru News semanalmente no seu e-mail.

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor, deixe seu comentário
Seu nome aqui