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‘Nossos filhos merecem a nossa melhor versão’, afirma a pedagoga Maya Eingenmann

Educar os filhos é uma missão desafiadora, mas por mais que as mães não estejam contentes com a maneira como agem, muitas vezes, elas não sabem fazer diferente. Foi assim com a pedagoga e educadora parental Maya Eigenmann, que sonhava em constituir uma família, mas ao ter de cuidar dos dois filhos pequenos – Luca e Nina, hoje com 8 e 6 anos de idade, respectivamente – viu surgir em sua casa um ambiente tóxico, com muitos gritos, agressões e falta de paciência.
“Eu falava de um jeito fofo, mas era autoritária, quebrava brinquedos, tinha raiva de tudo. Sempre fui contra bater, contra a violência, mas não conseguia agir de outra maneira”, relatou Maya, em palestra durante a 10ª edição do Seminário de Mães.
Ela recorda de um episódio marcante que ocorreu durante uma noite de Natal, quando se irritou com o filho, então com cerca de um ano de idade, que não queria tirar uma foto em família. “Eu comecei a me alterar, peguei a mãozinha dele e o puxei até o quarto, fechei a porta e deixei ele lá berrando. Ao abrir novamente, vi que ele fez xixi na roupa”, disse a pedagoga, ressaltando como, muitas vezes, a criança pode se sentir insegura dentro da própria casa.
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Para ela, não existe nenhum outro fator tão protetivo contra traumas absorvidos na infância quanto uma relação de segurança com os pais baseada no afeto, no respeito e no acolhimento, de modo a favorecer a saúde física e emocional dos pequenos.
Essas são práticas previstas na educação positiva, que se contrapõem à criação de “antigamente”, quando o uso da violência com palmadas e castigos era rotina – e segue sendo até hoje em grande parte das casas brasileiras.
Filha de mãe brasileira e pai suíço, Maya viveu no país europeu até os 19 anos e depois veio morar no Brasil, sendo o estilo de educação brasileira da mãe sua maior referência.
“Não é sobre perfeccionismo nem sobre não errar nunca, é sobre redução de danos daquilo que nós, mães e pais, vivemos quando criança e que seguimos fazendo e toda a sociedade faz com os filhos”, relatou a especialista, que é pós-graduada em neurociência e autora de dois livros – o best-seller A raiva não educa. A calma educa: Por uma geração de adultos e crianças com mais saúde emocional, de 2022, e Pais feridos, filhos sobreviventes e como quebrar este ciclo, de 2023, ambos da editora Astral Cultural.
Quebrar esse ciclo que leva os pais a reproduzirem a educação punitiva recebida na infância, e que pode ser tão prejudicial, é fundamental, diz.
Diferentes estudos já comprovaram que as surras e castigos físicos trazem uma série de danos ao desenvolvimento e bem-estar infantil, gerando mais comportamentos problemáticos ao longo da vida, incluindo ansiedade, depressão, agressividade e dificuldade de socialização, por exemplo.
“Mesmo que não tivesse nenhuma pesquisa comprovando a importância da educação parental para o desenvolvimento saudável das crianças, eu tinha motivos de sobra para fazer diferente, eu precisava desesperadamente salvar meus filhos de mim mesma”, afirmou.
Em 2018, um texto sobre educação positiva na web lhe chamou a atenção e foi o ponto de partida para a sua transformação. Não foi fácil, as mudanças não ocorreram de imediato e ela disse que precisou entender que era ela – e não as crianças – quem teria de se conhecer melhor, descobrir o porquê das suas reações e julgamentos para com os filhos, para começar a mudar.
Ao adotar um novo caminho, mais respeitoso, com limites e considerando as necessidades e os sentimentos dos filhos, aos poucos ela conseguia se conectar com eles. E como estava dando certo, quis compartilhar seus conhecimentos sobre essa nova forma de educar os filhos com outras mães. Em 2019, Maya passou a produzir conteúdo no Youtube e depois no Instagram, onde tem hoje 1,4 milhão de seguidores. As postagens são principalmente “para quem não está dando conta e se sente mal com a maneira como lida com os filhos”.
“Nossos filhos merecem a nossa melhor versão. Você, mãe, merece a sua melhor versão na relação com os seus filhos. Só assim poderemos criar uma geração de crianças com mais inteligência emocional”, concluiu.
Verônica Fraidenraich
Editora da Canguru News, cobre educação há mais de dez anos e tem interesse especial pelas áreas de educação infantil e desenvolvimento na primeira infância. Tem um filho, Martim, sua paixão e fonte diária de inspiração e aprendizados.
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