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Meu nome não é ‘mãe’
Eu não nasci mãe. Nem renasci, porque para renascer, teria que morrer. Eu simplesmente vivi e, enquanto vivi, enfrentei uma série de metamorfoses. Senti cada ferida sendo aberta em carne viva. E durante a cicatrização, aprendi o que me cabia aprender naquele momento. Neste processo, enquanto eu focava em manter vivo um ser que dependia totalmente de mim e tentava sobreviver também, trocaram meu nome. Deixei de ser uma pessoa com nome próprio, para me tornar “mãe”, “mãezinha”. Substantivo usado não exclusivamente por meu filho. Antes mesmo dele falar, já me chamavam assim na consulta com o pediatra, na farmácia, na padaria, na rua, em casa.
Meu nome não é mãe.
Quando tiram meu nome, deixo de ser eu mesma. Já não tenho escolha, tenho que ser o que esperam de mim e me encaixar em padrões pré-estabelecidos do que é bom e aceitável. Nenhuma mãe se sente boa na medida certa, tem sempre quem seja mais e melhor e por isso nunca descansamos, precisamos correr atrás do prejuízo. Deus me drible ficar abaixo dessa régua de aceitação!
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Cobram-me tudo. De me preparar até para o que há de vir. Tenho que aprender a prever futuros prováveis. Me preparar até para o improvável. Vai que chove? E se eclodir uma guerra? Tenho que estar preparada para tudo. Na bolsa, um band-aid, um lenço umedecido e muita fé que tudo correrá bem. Boa mãe mesmo é aquela que prevê a queda, que entende nas entrelinhas que a tosse solitária é sinal que a caminho está uma virose daquelas. Humanamente impossível, eu sei. E como cansa!
Vivemos cansadas das cobranças, da culpa que já nasce lá na gestação. Cansadas dos palpites e do que esperam de nós. Mas, principalmente, de camuflar esse cansaço com armaduras. O que mães cansadas menos precisam é serem chamadas de guerreiras. Ninguém aqui quer ser a Xena.
Sou mãe de quatro filhos e se for contar as vezes em que fui chamada de guerreira…
Sabe como é, né? Guerreiras estão sempre motivadas a lutar suas batalhas, sempre preparadas para o próximo conflito. Ah, me poupe! Eu não quero lutar por nada! Ninguém aqui está buscando dificuldades para virar palestrante motivacional. Eu quero é facilidade. Alfabetização simples, desfralde tranquilo, criação de forma respeitosa e de boa, quero me divertir maternando.
Então quando me vir por aí acompanhada dos meus filhos barulhentos e felizes, quando souber da minha história de vida, não me chame de guerreira. Só admire, porque ó, dá muito trabalho, mas também me faz feliz. E por favor, me chame pelo nome.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.
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Sheila Trindade
Sheila Trindade é escritora e fundadora do Blog Uai Mãe. Mãe de quatro filhos, um monte de histórias para contar cheias de aventuras, dúvidas e receios. De forma autêntica e com bastante humor, quer provar que a maternidade pode ser divertida quando a gente se permite rir dos próprios erros.
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O mimimi não tem limites!