“Amo os meus filhos, mas não gosto de ser mãe”, escreveu aquela mulher num post onde fazia referência a um podcast que eu tinha gravado, com uma jornalista, a propósito do tema “Mãe, por que não gostas de mim?”.
Tocar neste tema – o da ausência do amor de uma mãe pelos filhos – é duro e tabu e deixou alguns leitores espantados e curiosos. “Como assim, uma mãe que não ama os seus filhos?”, perguntavam.
A escuta do podcast deixa as ideias claras – filhos que não se sentiram amados pelas suas mães e, quem sabe, mães que não tiveram prazer em sê-lo. Tirar o pano que cobre esta verdade é urgente e necessário. Ao fazê-lo, surge a liberdade. Ao fazê-lo, as frases com as quais descrevemos a nossa realidade passam a ser outras tal como passam a ser as hipóteses que surgem.
Não escolhemos as nossas emoções, mas podemos escolher os nossos comportamentos. Quando a questão do peso do amor incondicional de uma mãe deixar de se colocar, talvez essa mulher aceite esse fato, talvez o consiga encarar de frente e talvez escolha fazer o outro sentir-se amado, pelos gestos e pelos olhares. O amor é um comportamento, disse alguém uma vez. Não é o que está dentro de nós que importa mas sim a forma como o outro se sente amado.
Ao mesmo tempo, estaremos no caminho de ver tudo mais claro. Dizia ela “amo os meus filhos, mas não gosto de ser mãe” é profundamente libertador, claro, verdadeiro. Esta mulher não procura enganar-se a propósito de quem é e do que ela sente. E, por viver em paz com isso, por se entender e aceitar assim, não existe resistência, não existe desconforto. É o que é.
O intuito desta conversa e deste tema é trazer luz para estes fatos. Há mães sim, que não conseguem amar os seus filhos – novamente, o amor enquanto uma escolha, mais do que uma emoção. E quem diz mães, diz pais também, mas a verdade é que parece ser-nos mais fácil que essa ausência possa acontecer nos pais. Com efeito, ouço frequentemente frases como “mãe é mãe, o pai é presente mas quando a mãe não está… ”. “Já se sabe, um pai não ama tanto os seus filhos quanto a mãe”. Ora, se é verdade que é necessário eliminar a possibilidade de uma mãe ter dificuldades com o amor materno, também é urgente eliminar-se a ideia de que um pai não consegue amar um filho de uma forma grandiosa. Voltamos a cair nas crenças e a perpetuar ideias que não desejamos, mas que mesmo assim estão tão enraizadas que nem as percebemos.
Amar ou não amar não me parece ser o mais importante numa relação e antes, o que sublinhei acima e que é uma das pedras de toque do meu trabalho: fazer com que o outro se sinta amado. E isso é um oceano de diferença!
Magda, estou adorando ler seus textos. Sou aqui do Brasil e ainda bem que a fronteira para a ajuda ainda está aberta, ufa! Obrigada por compartilhar suas perspectivas sobre tantos assuntos que nos são preciosos. Precisamos pensar as coisas, ter a oportunidade de viver nossas questões enquanto ainda nos resta a chance de caminhar. Estou seguindo o meu caminho e honrada por ter me esbarrado com seu olhar/ouvido virtuosos. Obrigada.