As pessoas quando sabem que eu sou psicóloga e orientadora parental, logo puxam algum assunto sobre parentalidade.
Às vezes falam de alguma dificuldade com os próprios filhos, tiram alguma dúvida, relatam algum comportamento que não estão conseguindo lidar, contam de seus medos e preocupações.
Mas também é comum falarem da própria infância frases como: “Tive uma infância difícil”, “Na minha infância as coisas eram diferentes” ou, ainda, “Passava o dia na casa dos meus avós enquanto meus pais trabalhavam.”
Cada um tem a sua história, com aquilo que foi bom e o que foi ruim.
Mas na grande maioria das vezes todos têm um discurso semelhante: “Quero fazer diferente, quero educar de um jeito diferente!”, “ Não quero repetir os erros dos meus pais”.
Gosto de trazer leveza dizendo: “Melhor cometer outros erros, né?” Sempre aparece aquela risadinha como quem diz: “verdade”. Errar, todas nós vamos, mas podemos errar melhor.
Essa é uma boa meta para a maternidade. Errar melhor! Isso engloba tantas mudanças. Errar por menos tempo, errar de forma mais leve, errar deixando menos traumas, errar e saber reparar o erro, errar, mas buscar aprender para não errar de novo…
Fico feliz cada vez que encontro uma mãe ou um pai que não querem ser perfeitos. Pais que querem ser melhores e buscam por isso. Se informam, leem livros, fazem cursos sobre criação de filhos e fazem escolhas cada vez mais conscientes de como educar sua criança.
E foi numa dessas conversas, despretensiosas, enquanto esperávamos as filhas na natação, que uma mãe de uma bebê de poucos meses e de um menino de 3 anos, me fez uma pergunta que eu nunca tinha recebido.
— Pat, se você pudesse me dar um único conselho para eu não repetir a história que vivi na minha infância, o que você diria? — perguntou ela.
Precisei pensar.
Aquela mãe era uma mãe que buscava informações para construir uma relação diferente com os filhos. Já havia me contado de livros que leu, me dito o quanto mexeu com ela ler o capítulo do meu livro que fala sobre o poder dos elos e como precisamos ser um elo diferente da corrente. Já havia relatado um pouco da sua infância difícil e histórias que gostaria de não ter vivido. Eu sabia exatamente qual história ela não queria repetir: uma história de violência.
Aquele segundo que existe entre uma pergunta e uma resposta foi mais longo do que normalmente é. Eu tinha muitas coisas para dizer aquela mãe. Poderia começar dizendo que só dela fazer essa pergunta, era um sinal que aquela seria uma história diferente. Poderia dizer sobre validar emoções dos filhos, sobre conexão genuína, sobre apego seguro, sobre usar a ciência e o conhecimento a nosso favor, sobre necessidades emocionais, sobre temperamento ou formação da personalidade. Mas não disse isso.
Disse algo que eu nunca disse pra nenhum pai que já orientei na vida. Mas que, naquele momento, foi tão claro, tão forte, que mesmo antes de falar eu já sabia o poder que isso teria.
— Não dê o primeiro tapa — respondi.
Ela ficou em silêncio. Não respondeu com nenhuma palavra.
Olhos marejados, os dela e os meus.
Não precisamos falar mais nada, ficamos ali vendo os filhos nadarem.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.
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