Mentira ou fantasia? Quando a ‘invenção’ das crianças é admissível ou não

    347
    Buscador de educadores parentais
    Buscador de educadores parentais
    Buscador de educadores parentais

    Por Silvia Grebler Myssior

    Foto: PixabayExiste um consenso cultural de que devemos dizer a verdade. Os pais, que desejam transmitir aos filhos seus valores éticos, buscam uma certa coerência com as premissas que lhes parecem importantes, e a verdade costuma ser uma delas.

    Mas as pessoas querem saber se o que a criança conta, algumas vezes modificando a realidade, seria mentira ou fantasia. E se, às vezes, o que lhes parece inventado, poderia até ser admissível, sem que se corra o risco de a criança tornar-se uma mentirosa patológica.

    As crianças fantasiam, e precisam desse recurso para apreender a realidade. A causa da mentira é inconsciente. Mesmo que a criança “planeje” mentir por não poder admitir a verdade ocorrida, ela não sabe por que faz isso, nem o que a motiva a mentir. É por isso que o motivo para o ato de mentir não pode ser, algumas vezes, reconhecido por ela.

    Há momentos em que as crianças ainda não podem suportar não estar de acordo com seus ideais. Não ser tão poderoso, ou tão forte quanto almeja… não ter isso ou aquilo, ou mesmo não estar à altura dos anseios dos pais… Esses seriam alguns motivos que podem levar a criança a tentar burlar a realidade e se instalar na fantasia. Mas é claro que há mentiras e mentiras, e será necessário distinguir sua importância e gravidade. Mais do que não admitir a mentira, os pais precisam ouvir de sua criança o que ela tem a dizer sobre isso. E, a partir daí, ponderar com ela, fazendo valer o discernimento sobre a questão.

    Por vezes, a punição de um pai vai produzir uma humilhação desnecessária, e assim, não há como descrever como uma fórmula para se fazer frente à mentira. Cada situação deve ser examinada delicadamente, para que se revele o que há por trás disso, e se avalie a maneira de lidar.

    É claro que não se faz “vista grossa” ao fato, fingindo que não aconteceu. Nesse caso, o adulto estaria a se colocar como cúmplice de algo que não está sendo dito. Talvez o mais importante não seja apurar o fato em si, mas o que isso pode querer dizer de verdade.

    Então, como dizer a seu filho que ele não deve mentir? Você o fará, assim como o fará saber de todos os valores que são importantes para você, e que é seu desejo, mais do que puni-lo, transmiti-los à sua descendência.

     

    Silvia Grebler Myssior é psicanalista de crianças, adolescentes e adultos, cofundadora do Primeiro Espaço: Clínica, Estudo e Pesquisa em Psicanálise da Primeira Infância (2000-2007), mestre em ciências da saúde da criança e do adolescente pela Faculdade de Medicina da UFMG e mãe de três filhos.

    DEIXE UM COMENTÁRIO

    Por favor, deixe seu comentário
    Seu nome aqui