“Vou ser sincero com vocês, eu entendo de dinossauros tanto quanto eu sei falar russo: absolutamente nada.” É com esse jeitão honesto e desconstraído que o jornalista Iberê Thenório, criador e apresentador do canal do Youtube Manual do Mundo, aparece no vídeo (assista abaixo) de estreia da série Manual do Dino, lançada nesta quinta-feira (24). O quadro conta com a apresentação dos cientistas paleontólogos Aline Ghilardi e Tito Aureliano, especialistas no assunto, que, “literalmente, já tiraram dinossauros debaixo da terra”, explica Iberê no vídeo.
A série é apenas uma das muitas novidades do canal previstas para este ano, segundo contou o jornalista em entrevista por e-mail à Canguru News: “Vamos lançar mais livros, um deles sobre a trajetória do submarino que construímos e muitas curiosidades sobre este tipo de embarcação”. Iberê também falou da obra recém-lançada “Dúvida Cruel 2”, dos quadros que fazem sucesso com a criançada, de como manter o encantamento do público infantil pelos temas relacionados à ciência, e dos desafios de trabalhar com esse assunto nos dias de hoje.
“A internet possibilita uma viagem sem fim ao conhecimento, mas também oferece caminhos muitas vezes duvidosos. O grande desafio é divulgar informação de qualidade, com comprovação científica, em meio a tantos conteúdos falsos. Por isso, nosso time conta com físicos, engenheiro e outros profissionais qualificados para garantir explicações embasadas na ciência”, disse o criador do Manual do Mundo.
Surgido em 2008, o “Manual” é um dos programas de maior sucesso do Youtube no país, sendo conhecido por explicar, em vídeos, fatos e curiosidades científicas sobre os mais diversos temas – dos sentidos do corpo ao sistema solar. O canal tem hoje mais de 18 milhões de seguidores em suas redes digitais, além de 16 livros publicados e mais de 20 produtos licenciados.
Fora a série sobre dinossauros e outra sobre a criação de um submarino, há quadros como o “Manual Maker”, que ensina, por exemplo, a mexer em ferramentas e construir circuitos de eletrônica, e o “Nós testamos”, que testa de carro elétrico a abacaxi. Saiba mais na entrevista a seguir.
1. Como surgiu a ideia da série Manual do Dino?
Diariamente, chegam diversas dúvidas sobre o fascinante mundo dos dinossauros por todas as redes do Manual do Mundo. Então, para sanar a curiosidade do público, não poupamos esforços e decidimos estrear essa nova série, que contará com a apresentação dos cientistas paleontólogos Aline Ghilardi e Tito Aureliano, especialistas no assunto que, literalmente, já tiraram dinossauros debaixo da terra!
2. Quais as novidades do livro Dúvida Cruel 2, em relação ao primeiro volume?
No primeiro livro “Dúvida cruel”, respondemos a 80 perguntas que foram enviadas via redes sociais por pessoas que acompanham o Manual do Mundo. Fizemos uma curadoria considerando quais a gente queria saber a resposta e trabalhamos em cima delas. Já o Dúvida Cruel 2, é uma obra da jornalista científica Kathy Wollard, que também reúne ótimos questionamentos sobre a vida e o universo, feitos por crianças do mundo inteiro. Nós revimos todo o conteúdo para ter certeza de que seriam dúvidas comuns ao nosso público.Para deixar a jornada do conhecimento ainda mais completa e divertida, os leitores encontram QR codes que levam para experiências e curiosidades já abordadas no canal do Manual do Mundo.
3. Qual o desafio de difundir conhecimento científico em tempos de tantos questionamentos sobre o assunto?
A internet possibilita uma viagem sem fim ao conhecimento, mas também oferece caminhos muitas vezes duvidosos. O grande desafio é divulgar informação de qualidade, com comprovação científica, em meio a tantos conteúdos falsos. Por isso, nosso time conta com físicos, engenheiro e outros profissionais qualificados para garantir explicações embasadas na ciência. Acreditamos que quanto mais informação tivermos, melhores serão as nossas escolhas. Hoje, por exemplo, com a pandemia do novo coronavírus, fica cada vez mais evidente a necessidade de que as pessoas entendam minimamente de ciência para que possam se cuidar e contribuir para solucionar esse problema.
4. Entre os diversos temas tratados no Manual do Mundo, quais são os campeões de audiência entre as crianças?
O público do Manual do Mundo é diverso, indo de crianças até idosos, e, por isso, o gosto também é bem diversificado. Um dos quadros favoritos é o Boravê, em que visitamos lugares que as pessoas não têm acesso e mostramos como as coisas são feitas. Os conteúdos diy também fazem muito sucesso, pois ensinamos, na maioria das vezes, de um jeito simples e divertido como fazer coisas úteis para o dia a dia. Mas o nosso grande diferencial em todos os conteúdos é que não apenas mostramos as coisas, nós vamos além e explicamos o porquê. As pessoas saem com suas dúvidas respondidas.
5. Sendo um produto principalmente da web, o Manual do Mundo tem algum cuidado para conscientizar as crianças quanto aos prejuízos que a internet pode causar?
Grande parte do nosso conteúdo estimula a famíla a construir projetos em casa. São atividades para serem feitas longe da tela e, pelo feedback que recebemos, tem estimulado inclusive a convivência entre pais e filhos. Além disso, nossos conteúdos não estão apenas online. Oferecemos experiências também no offline. Temos 16 livros publicados, além de produtos, como brinquedos, que estimulam a participação e o envolvimento de toda a família.
6. Os primeiros vídeos do Manual do Mundo são de 2008 – um ano depois que o Youtube chegou no Brasil. De lá para cá, vocês mudaram muito o jeito de fazer vídeos?
Quando o YouTube começou a bombar, lá por 2008, a gente viu que muitas pessoas estavam ensinando coisas bacanas para fazer em casa. Resolvemos criar o nosso canal também. Os 50 primeiros vídeos foram feitos com câmeras emprestadas e gravados no nosso apartamento de 35 m2. Hoje, o Manual do Mundo acontece em uma casa de dois andares, com piscina, oficina, muito espaço para desenvolvermos nosso conteúdo e um time de quase 30 pessoas.
7. As crianças, quando pequenas, têm um grande interesse por experimentos científicos e pelas coisas da natureza, mas depois parece que vão perdendo esse encantamento. Como fazer com que sigam atraídas pelo tema?
Oferecer visitas a museus, mostrar livros com linguagem simples e acessível, e passeios para lugares em que eles podem interagir – e não apenas observar – com objetos, como o Catavento, em São Paulo, é perfeito. No Manual, o que a gente estimula é que todo mundo coloque a mão na massa, sinta o prazer de construir algo em casa, tenha orgulho de ter feito algo. E para isso o caminho sempre passa por muito aprendizado. Tanto o gosto por alguma coisa quanto o conhecimento, vêm aos poucos, é gradativo. Pesar a mão com cobranças desestimula a curiosidade. Para mim (Iberê), o ponto de atenção aqui é tomar cuidado para não forçar a barra colocando expectativas e achando que a criança ou o adolescente consegue absorver tudo de uma vez. Ninguém consegue.
8. Muito se fala hoje sobre a importância de ampliar o espaço feminino na ciência. Sendo pai de duas meninas, como acredita ser possível mudar esse cenário, predominantemente masculino, desde a infância?
Eu e a Mari (Fulfaro, esposa e cocriadora do canal) nos esforçamos muito para mostrar para nossas filhas que mulheres podem fazer o que quiserem. Nesta semana mesmo mostrei para a Helena o vídeo de uma astronauta trabalhando dentro da Estação Espacial Internacional. Achei muito bacana ela não ter ficado surpresa por ser uma mulher. Para ela, já é natural.
9. E por falar em paternidade, ter filhos impactou de alguma forma o seu trabalho e a forma como você vê o mundo?
Impactou. Sou muito mais sensível a questões que envolvem pais e filhos. No Manual, cada vez mais passamos a pensar em um conteúdo que sirva para todos e que possa servir de “catalisador” na relação entre pais e filhos.
10. Pelas suas redes sociais, percebe-se uma preocupação em não expor suas filhas na internet. Essa é de fato uma preocupação? Por quê?
Sim, evitamos que elas apareçam. As redes estão ficando cada vez mais hostis. Há muita crítica, muitas coisas que as pessoas não diriam pessoalmente. Achamos prudente poupá-las disso enquanto crescem. Em algum momento, serão maduras para poder decidir se querem participar ou não.
11. Para o Manual do Mundo, qual a importância dos fãs e seguidores e de manter uma interação com eles? Há muitas crianças entre o seu público?
Nós consideramos nosso público como se fossem clientes, a quem servimos. Eles trazem as dúvidas, demandas e retorno sobre nosso trabalho. O público tem que entender o que estamos falando, gostar e também se divertir. Esse é nosso objetivo. Mais de 60% do público do Manual do Mundo é composto por jovens-adultos, na faixa entre 18 e 34 anos.
12. Em um cenário tão mutante como é o da internet, e com tanto conteúdo disponível, como se manter relevante mesmo após 14 anos de existência?
O segredo é trabalhar bastante com algum assunto que você goste e ter bastante planejamento. A ideia é sempre pensar em publicar as coisas regularmente e estar atento ao que acontece ao seu redor.
13. Além do livro, planejam para 2022 mais novidades? Quais?
Vamos lançar mais livros, um deles sobre a trajetória do submarino que construímos e muitas curiosidades sobre este tipo de embarcação. Também temos mais dois produtos já programados para o primeiro semestre, um laboratório de química, muito pedido pelos fãs, e calçados infantis.
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