A maioria das escolas brasileiras ainda não possui profissionais devidamente instruídos sobre os cuidados especiais demandados por estudantes com algum tipo de deficiência. Mas ainda que a realidade seja muito distante do ideal, profissionais da área da educação reconhecem a importância do acolhimento desses alunos em classes regulares, gerando um benefício coletivo.
Um estudo do Instituto Rodrigo Mendes, realizado pelo Datafolha, contou com a participação de 967 professores de todas as regiões do país e corroborou a tese da educação inclusiva. Cerca de 70% dos profissionais relataram enxergar a escolarização de crianças com algum tipo de deficiência em turmas regulares como benéfica para todos os estudantes. Os docentes que responderam à pesquisa lecionam em instituições de ensino públicas, no Ensino Fundamental I e II e no Ensino Médio. As entrevistas foram realizadas por telefone, entre 9 de novembro e 1 de dezembro de 2021.
Entre os docentes que relatam enxergar benefícios, 76% lecionam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, 66% no Ensino Fundamental II e 72% no Ensino Médio. Para 12% dos entrevistados, a inclusão prejudica os alunos sem deficiência, sendo que 11% lecionam no Ensino Fundamental I, 14% nos últimos anos do Ensino Fundamental e 9% no Ensino Médio.
Quando questionados se conhecem os direitos dos estudantes com deficiência, 95% responderam que sim, considerando o total da amostra. Entre os principais direitos garantidos aos alunos com necessidades especiais na Constituição estão: direito à educação, condições de igualdade, adaptação, ensino em Braille e Libras, profissionais de apoio escolar e inclusão ampla com a participação da família.
Ainda que a pesquisa jogue luz sobre a importância de uma metodologia de ensino mais inclusiva, a maioria das escolas não conta com um número ideal de profissionais de apoio. Segundo a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (SME), as instituições de ensino administradas pela Prefeitura de São Paulo recebem cerca de 18,2 mil alunos com deficiência, e contam com uma rede de apoio de 4.000 funcionários para atendê-los.
Em teoria, de acordo com os números, cada funcionário é responsável pelo auxílio e acompanhamento de 5 estudantes. Na prática, a relação pode ser ainda mais desigual. O contingente de alunos está espalhado por diferentes turmas e períodos, o que pode aumentar a necessidade de auxiliares.
A pesquisa do Instituto Rodrigo Mendes, apesar de apontar positivamente para a relação dos professores com a educação desses alunos, destaca um número preocupante: 40% dos professores entrevistados afirmam nunca terem praticado métodos de inclusão. Entre eles, 31% lecionam no Ensino Fundamental I, 36% no Ensino Fundamental II e 50% no Ensino Médio. Neste mesmo recorte, os docentes do Nordeste (49%) e do Norte (41%) são a maioria; na região Sudeste são 40%. As regiões Sul e Centro-Oeste são as que apresentam a menor quantidade de professores que nunca praticaram a inclusão em sala de aula, com 28%.
Após a divulgação dos dados da pesquisa, Luiza Corrêa, coordenadora de advocacy do IRM, declarou que ainda há muito o que se avançar na qualidade da inclusão nas escolas brasileiras. A coordenação do IRM disse considerar um avanço a crença dos professores no sistema inclusivo.
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