‘Leituras têm de despertar a criatividade das crianças’, diz o pedagogo Paulo Fochi

Para o especialista, a escola tem que ter bons livros e torná-los acessíveis às crianças, de modo a despertar o prazer pela leitura

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Leitura na escola tem de despertar o potencial criativo das crianças; professora sentada no chão lê livro para três crianças
“O livro se basta por ele próprio, pelo conteúdo que esta nele, pela possibilidade de mundo que ele abre", diz Paulo Fochi
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A escola é um espaço valioso, não só pela possibilidade de aprendizados, mas pela possibilidade da formação humana. É na escola que as crianças podem encontrar outras crianças, encontrar adultos e se encontrar com o mundo, que é narrado de forma diferente daquele que elas vivem em casa.

“A escola tem que celebrar a ética dos encontros, o que não significa simplesmente estar junto na mesma sala, partilhando de um mesmo espaço: encontro é comungar de possibilidades é se aventurar e desventurar pela vida”, afirma o pedagogo e especialista em educação infantil, Paulo Fochi. Mestre em educação na linha Estudos da Infância (UFRGS) e doutor em educação na linha de Didática e Formação de Professores (USP), Fochi foi um dos convidados do “Ciclo de Conversas sobre Leitura com Bebês”, promovido pelo clube de leitura A Taba.

O especialista explica que uma das possibilidades dos encontros diz respeito aos livros e às leitura na escola. “O encontro é um direito da criança para que possa experimentar a partir de uma historia, uma sensação, uma emoção ou sentimento que ela nem consegue nomear com a palavra, mas que ela já o vivenciou.” Ou seja, ela não sabe dizer da angústia e do medo que está passando, mas ele sente a angustia e o medo, e por mais que ela não consiga desenhar isso e nomear ao mundo, ao conhecer um livro que traz uma experiência narrativa com uma situação semelhante, um personagem que também sente angústia e medo, ela passar a compreender melhor o que sente.

Segundo Fochi, essa aproximação com a literatura na escola pode ocorrer de diferentes maneiras. A criança pode ouvir uma história e ser capturada por algum trecho que a deixa perplexa e lhe traz curiosidade do que é o mundo. Ela pode também ser incentivada a tocar e folhear o livro, explorando-o por conta própria e pode ainda ser estimulada a contar uma história oralmente, entre outras possibilidades.

O especialista em educação infantil ressalta porém que para trabalhar a literatura a contento com as crianças, o professor e os adultos que leem livros para os pequenos necessitam ter “sua capacidade reconhecida e instigada para que eles também possam reconhecer essa potência nas crianças. “É muito duro para os professores ler para as crianças se eles não têm essa experiência”, diz Fochi.


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Leituras não podem ser vistas como obrigação na escola

Ele lamenta a maneira como muitas escolas lidam com as atividades de literatura infantil, vendo-as como mera obrigação a cumprir no cronograma letivo. “Tenho como meta desvincular essa relação de livro de literatura infantil com ‘projetinhos’. Isso não é uma perspectiva que entendo como possível para a educação infantil. Na segunda-feira se lê um livro, na terça, se faz alguma coisa sobre o livro, na quarta, ouve-se uma musica vinculada ao tema do livro” Para Fochi, isso é um desserviço ao livro, ao potencial criativo das crianças e ao potencial reflexivo que o professor precisa ir construindo na sua trajetória profissional.

“O livro se basta por ele próprio, pelo conteúdo que esta nele, pela possibilidade de mundo que ele abre. A escola tem que ter bons livros e dar acesso a eles para as crianças, que precisam ainda contar com adultos disponíveis para ler livros para elas.” Para o especialista, essas experiências se tornam mais interessantes para os pequenos do que quando eles são forçados a momentos como a hora do conto em uma sala que não a sua, que por vezes tem de ser interrompida para chamar a atenção de um aluno desinteressado pela atividade que lhe foi imposta e prejudicando toda a construção desse espaço simbólico. “Sou a favor de as turmas contarem com um adulto disponível a ler dentro da sala de referencia das crianças e quando elas estão lá lendo, que um adulto possa se disponibilizar a ler junto, com ela, para ela ou ainda ouvir a leitura da criança, e que ele use a estratégia de ler um livro para todos, num lugar que a relação com o livro já pré-exista.” Além disso, destaca Fochi, é essencial que o professor escolha livros para ler que o toquem, que de alguma forma o sensibilizaram. “É preciso ler com a possibilidade genuína de dizer eu li, gostei, me tocou e eu decidi compartilhar com vocês e não ler como obrigação.”


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