A falta de sono pode afetar diretamente a saúde e desenvolvimento infantil. De acordo com a Associação Brasileira do Sono, o tipo de insônia infantil mais frequente é a chamada de comportamental, quando os pais não conseguem criar, desde cedo, uma rotina com hábitos que estimulem e assegurem um sono saudável.
Outro tipo mais sério é a insônia crônica, quando a dificuldade em adormecer e manter o sono tem uma frequência alta e dura mais de três meses. “O tempo de sono reduzido ou interrompido afeta as crianças do ponto de vista físico como também do ponto de vista comportamental. A criança pode atrasar o desenvolvimento neuropsicomotor, aumentar o risco de obesidade e outras doenças. Sob o ponto de vista comportamental, [a insônia] altera rendimento escolar. A criança pode ficar mais irritada, chorosa e mais desatenta. O sono em qualquer faixa etária está muito relacionado a mecanismos de memória e atenção, e a criança, particularmente, é mais vulnerável”, informa a médica neurologista, Rosana Cardoso Alves, da Associação Brasileira do Sono.
O padrão de sono sofre alterações conforme a idade da criança avança e o número de horas necessárias de sono vai diminuindo. Isso ocorre porque, durante a infância, o corpo não só produz mais melatonina como necessita de uma quantidade maior de descanso para poder se recuperar das diversas alterações físicas.
Quais são as causas da insônia infantil?
A médica especializada em tratamento do sono infantil, Clarice Bittencourt, explica o principal motivo da insônia ocorrer em crianças: “A principal causa de insônia em crianças vem da questão de uma rotina vinculada aos hábitos de sono. Para que a criança consiga iniciar o sono dela com tranquilidade, se sentindo segura para dormir, ela precisa gerar esse hábito. Ela precisa ser ensinada a dormir”.
Valéria Pacheco Nascimento Coelho, 37, é mãe do José, 2, e procurou a médica Clarice para ajudá-la com os problemas de sono do seu filho. Os problemas começaram a aparecer com a pandemia, quando a personal stylist teve que entrar em isolamento e a cuidadora que a ajudava com o José teve de se afastar, para a segurança de todos. “Ele começou a ter vários problemas de sono, acordava três ou quatro vezes por noite. Quem percebeu que ele sentia falta da cuidadora foi a doutora Clarice. Ela investigou diversas questões até perceber que essa falta foi o que modificou tudo”, relata a mãe do José.
“Se a criança adormeceu com os pais ao lado ou no colo, ela pegou no sono nessa condição e ela quando despertar vai esperar ter a mesma coisa. Pode desenvolver, então, a dificuldade de aprofundar o sono, ficar hipervigilante e despertar com frequência. Ela não vai conseguir continuar o sono sozinha”, informa a especialista sobre a importância de criar uma rotina saudável e com independência para que a criança não desenvolva insônia.
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Doenças respiratórias e neurológicas
Algumas doenças podem afetar seriamente o sono das crianças. A apneia obstrutiva do sono, por exemplo, é uma doença que acomete, em sua maioria, adultos, mas pode ser diagnosticada também em crianças. Ela é caracterizada como a interrupção do fluxo respiratório por 10 ou mais segundos durante o sono, causando roncos e engasgos, podendo se manifestar de maneira diferente dependendo da faixa etária.
“Existe uma sobreposição de transtornos do sono. No caso das alterações respiratórias, a mais comum vem sendo apneia obstrutiva do sono, em que a criança fica acordando mais, com um sono interrompido e fragmentado. Do ponto de vista clínico acaba sendo bem prejudicial, assim como a dificuldade de iniciar o sono”, diz a médica do sono, Rosana Cardoso Alves, sobre a existência de outros transtornos que podem gerar como sintoma a insônia.
Além de doenças respiratórias, as neurológicas também podem afetar a rotina de sono infantil. O uso de medicamentos para tratar essas doenças podem ditar os horários de sono, ou os sintomas da doença podem gerar desconforto e dificuldade para cair no sono. É importante passar com um profissional especialista para ter certeza de que o seu filho tem um problema respiratório e neurológico, só assim você receberá o tratamento adequado.
Como criar uma rotina do sono?
Os responsáveis precisam criar uma rotina de comportamentos antes de a criança deitar na cama para garantir um sono sem interrupções. “O início do sono depende muito da atuação dos pais e isso vai fazer com que a criança durma bem nas primeiras 3 horas de sono, um sono pesado. Quando os pais fazem qualquer coisa, a situação de sono interrompido se perpetua”, informa o pediatra Gustavo Moreira, especialista no Instituto do Sono.
Dicas de como criar um ritual do sono, de acordo com o Dr. Gustavo:
- A criança tem que dormir em horário apropriado todos os dias da semana, de preferência antes das 21h.
- A soneca da tarde é importante. Entretanto, não pode ser muito longa (mais de 2h) e não pode interferir no horário de sono noturno.
- Evitar atividades estimulantes, como correr e pular, depois de escurecer.
- Evitar o uso de telas, principalmente antes de dormir. Televisão e dispositivos móveis são ultra estimulantes e contém uma luz muito forte.
- Criar um ritual: tomar banho, colocar o pijama, tomar a mamadeira, escovar os dentes, ler uma história, beijo de boa noite, apagar as luzes e ir para a cama dormir.
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