Por Cristiane Santos, para a Agência Einstein – A cada 100 crianças, com idades entre cinco e 14 anos, 7 sofrem de prisão de ventre e incontinência urinária, ao mesmo tempo. Apesar de incomum, a condição é a principal causa de infecções urinárias recorrentes após o desfralde e pode ter consequências como a síndrome da dor pélvica crônica e a bexiga hiperativa.
Em um estudo brasileiro, conduzido pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), pesquisadores constataram que a estimulação elétrica nervosa transcutânea na região parassacral é capaz de ajudar a maioria desses casos. A técnica consiste no envio de sinais elétricos através da pele em uma área definida logo acima das nádegas. Até então, era utilizada apenas para o tratamento da perda do controle da bexiga em crianças.
Para avaliar a eficácia nos pacientes com a disfunção vesical e intestinal (DVI) — combinação dos sintomas intestinais e urinários —, os pesquisadores testaram a estimulação elétrica em 40 crianças e adolescentes, entre cinco a 17 anos, com o diagnóstico da condição.
Divididos em dois grupos, o primeiro foi submetido à técnica, enquanto o segundo recebeu estímulos elétricos em outra região do corpo, a escapular (área superior das costas), para servir de comparativo. Todos os participantes passaram por três sessões de 20 minutos por semana, durante dois meses, e tiveram acompanhamento psicológico.
De acordo com Ubirajara Barroso Júnior, urologista e um dos autores do estudo, um dos principais resultados foi a melhora de 70% no sintoma de constipação nas crianças e adolescentes que receberam a intervenção, em comparação com o grupo controle. “A eletroneuroestimulação parassacral é eficaz para o tratamento de disfunções da bexiga e do intestino em crianças e adolescentes, particularmente no que diz respeito à constipação funcional”, destacam os autores no artigo publicado no periódico Journal of Urology.
Como a técnica funciona
A estimulação elétrica nervosa funciona a partir da reorganização do cérebro. A ideia é que, pelos estímulos, o órgão reconheça as sensações de enchimento da bexiga e da necessidade de evacuar, segundo explica Barroso.
“É preciso de algumas sessões para que esse efeito repetido modifique a fisiologia neuronal. O apoio psicológico é importante para o reforço dessas mensagens. As crianças precisam aprender que não podem segurar a urina até o último minuto, que quanto mais elas evitarem defecar, mais doloroso vai ser, que é importante beber água”, explica o médico, que reforça que a técnica não causa dor.
Mesmo no grupo controle, que recebeu a estimular na região escapular, 20% tiveram uma melhora da condição. Segundo o médico, o motivo pode estar no acompanhamento psicológico e na orientação comportamental, que todas as crianças e adolescentes receberam.
Sinais de alerta
Crianças podem ter dificuldades para controlar a bexiga, que se enche e se contrai involuntariamente. A urgência para urinar, portanto, acontece, e os pais devem ficar atentos ao comportamento.
Elas também podem se esquecer de ir ao banheiro, ou preferir segurar a urina para continuar brincando. Mesmo o ambiente pode contribuir, quando a professora não deixa sair da sala, no meio da aula, para ir ao banheiro, por exemplo.
Dos sinais comuns de que a criança está segurando a urina, ela pode:
- Torcer as pernas;
- Apertar os genitais;
- Ficar na ponta dos dedos;
- Fazer xixi na cama à noite pode ser reflexo de alteração nas idas ao banheiro durante o dia.
Quando esses alertas estão associados à constipação, a recomendação é que a família busque pelo urologista pediátrico. De acordo com Barroso, o tratamento atual envolve técnicas de fisioterapia, disponíveis em centros especializados públicos de saúde.
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